Rockstar na mira: 4 momentos polêmicos que marcaram a história da desenvolvedora de GTA

Rockstar na mira: 4 momentos polêmicos que marcaram a história da desenvolvedora de GTA

A Rockstar Games enfrenta uma nova tempestade. Mais de 220 funcionários da Rockstar North exigem a reintegração de 31 colegas demitidos após acusações de sindicalização. A empresa nega qualquer ligação com atividades sindicais, mas o sindicato IWGB acusa a desenvolvedora de repressão a movimentos trabalhistas.

A polêmica como combustível

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Essa não é a primeira vez que a criadora de Grand Theft Auto se vê no centro de controvérsias explosivas. Desde 1997, quando contratou o polêmico publicitário Max Clifford para transformar indignação moral em publicidade gratuita, a Rockstar aprendeu que a controvérsia vende. Clifford, famoso por criar escândalos fabricados na mídia britânica, orquestrou debates na Câmara dos Lordes seis meses antes do lançamento do primeiro GTA, gerando manchetes como “jogo de computador criminoso que glorifica bandidos”. Sua estratégia era simples: “Esqueçam a convenção e abracem a criminalidade do GTA em toda a sua glória”

A Rockstar distribuiu “multas” falsas em carros com o logo do jogo, usou trechos dos debates parlamentares em campanhas de rádio e até distorceu um acidente de carro de um programador para manchetes sensacionalistas. A tática funcionou: quando a British Board of Film Classification classificou GTA para maiores de 18 anos, o jogo foi declarado “o mais controverso em uma década” antes mesmo do lançamento nos EUA. A controvérsia fabricada se tornou o DNA da empresa — e a fórmula continua até hoje.

Relembre quatro momentos em que a polêmica deixou de ser estratégia de marketing e se transformou em crise real na Rockstar.

1. Hot Coffee: o conteúdo sexual que custou US$ 20 milhões

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Em julho de 2005, a Rockstar enfrentou o maior escândalo de sua história quando modders descobriram conteúdo sexual explícito escondido no código de GTA San Andreas. O “Hot Coffee mod” desbloqueava um minigame interativo de sexo entre o protagonista CJ e suas namoradas — conteúdo que estava no disco desde o lançamento em 2004, mas inacessível sem modificações.

A descoberta provocou pânico moral generalizado. A Entertainment Software Rating Board (ESRB) mudou a classificação do jogo de “Mature” (17+) para “Adults Only” (18+), a primeira e única vez que um título GTA recebeu essa classificação. Varejistas como Walmart, Best Buy e Target removeram o jogo das prateleiras imediatamente.

A Rockstar inicialmente alegou que o conteúdo havia sido criado por hackers externos, mas investigadores provaram que o código estava embutido na versão de varejo. A Federal Trade Commission (FTC) concluiu que Take-Two e Rockstar violaram o Federal Trade Commission Act de 1914 ao não divulgar a existência de “conteúdo sexual não utilizado, mas potencialmente visível”

O prejuízo foi astronômico: US$ 20,1 milhões em acordos de ação coletiva, além dos custos para reimprimir e redistribuir versões revisadas do jogo. Os irmãos Sam e Dan Houser passaram 9 horas sendo interrogados por agentes da FTC (Federal Trade Commission) em janeiro de 2006. 

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O escândalo também fortaleceu ativistas como o advogado Jack Thompson, que moveu processos bilionários contra a empresa alegando que jogos como GTA eram “simuladores de assassinato” responsáveis por crimes violentos na vida real.

Thompson chegou a processar a Rockstar por US$ 600 milhões no caso Devin Moore, um jovem de 18 anos que matou dois policiais e um atendente de emergência após supostamente jogar GTA Vice City obsessivamente. Thompson foi removido do caso pelo juiz e teve sua licença temporária no Alabama suspensa; o processo foi posteriormente arquivado. Thompson acabou sendo permanentemente desabilitado da OAB da Flórida em 2008 por 27 instâncias de conduta inadequada.

Recentemente, o cofundador da Rockstar Games, Dan Houser, revelou que temeu que a Rockstar fosse fechada devido a proporção da polêmica envolvendo a questão do Hot Coffee mod: “Eu estava constantemente preocupado que poderíamos ser fechados após aquilo”, confessou Houser.

2. A carta anônima das esposas

O primeiro grande escândalo público começou de forma inusitada: com uma carta anônima atribuída às esposas dos funcionários da Rockstar San Diego. Em janeiro de 2010, durante o desenvolvimento do primeiro Red Dead Redemption, o documento denunciou jornadas brutais de trabalho que duravam 12 horas por dia, seis dias por semana.

O documento denunciou jornadas brutais de trabalho que duravam 12 horas por dia, seis dias por semana. Funcionários relataram receber ligações de supervisores durante jantares com suas famílias perguntando quando voltariam ao escritório naquela mesma noite. A carta revelou que a Rockstar chegou a oferecer serviço de lavanderia no escritório durante o crunch — uma evidência de que os trabalhadores nem teriam tempo para lavar as próprias roupas em casa. A carta também apontava aumentos salariais abaixo da média da indústria e a falta de valorização da saúde e bem-estar dos empregados.

Alguns dias após a publicação da carta, a Rockstar respondeu, lamentando que alguns ex-membros não tenham achado seu tempo na empresa agradável ou criativamente graficamente, e que eles sempre se importam com pessoas apaixonadas pelo projeto.

3. Dan Houser e as “100 horas semanais” 

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Em outubro de 2018, Dan Houser provocou uma tempestade ao comentar em entrevista à revista Vulture que a equipe havia trabalhado “várias semanas de 100 horas” durante a finalização de Red Dead Redemption 2. A declaração foi feita com tom de orgulho, mas desencadeou indignação imediata na comunidade de desenvolvedores e na imprensa especializada.

Houser depois tentou recuar, esclarecendo que se referia apenas a quatro pessoas da equipe de roteiro sênior em três semanas de finalização. Mas o estrago estava feito: dezenas de funcionários atuais e ex-funcionários procuraram jornalistas para relatar suas próprias experiências de crunch prolongado.​

“Há muito medo na Rockstar — medo de ser demitido, medo de ter desempenho inferior, medo de ser repreendido”, disse um ex-funcionário ao Kotaku. Seis pessoas entrevistadas usaram independentemente o termo “cultura do medo” para descrever o ambiente de trabalho. Funcionários relataram trabalhar 60 a 80 horas semanais por um ou dois anos seguidos, com supervisores enviando e-mails cobrando “bundas nas cadeiras aos sábados”.

Um ex-funcionário da Rockstar, Job Stauffer (que trabalhou como diretor de comunicações), comparou seu período na empresa durante o desenvolvimento de GTA 4 a ‘trabalhar com uma arma apontada para sua cabeça 7 dias por semana’”.

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4. Escândalo fiscal: £42 milhões em subsídios, zero em impostos

Em julho de 2019, a Rockstar North se viu no centro de uma controvérsia que não envolvia seus funcionários, mas o bolso dos contribuintes britânicos. Uma investigação da TaxWatch UK revelou que o estúdio não pagou um único centavo em imposto de renda corporativo no Reino Unido entre 2009 e 2018, apesar de ter recebido £42 milhões em subsídios do governo entre 2015 e 2017.

O dinheiro veio do programa Video Games Tax Relief, criado em 2014 para apoiar a indústria britânica de games, especialmente títulos identificados como “culturalmente britânicos”. A TaxWatch descobriu que a Rockstar North sozinha reivindicou o equivalente a 19% de todo o benefício fiscal pago à indústria de games no Reino Unido desde a criação do programa.

A empresa conseguiu registrar prejuízo líquido para fins fiscais ao longo de 10 anos, utilizando créditos tributários e ajustes retrospectivos. O valor total de crédito reivindicado pela Rockstar North chegou a £70 milhões — quase seis vezes seu lucro operacional no período.

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