“Senti como se uma parte tivesse sido arrancada de mim”: demitidos da Rockstar contam suas histórias
“Senti como se uma parte tivesse sido arrancada de mim”: demitidos da Rockstar contam suas histórias
“Fui contratado como júnior em 2016 e passei nove anos vivendo e respirando os jogos, a tecnologia e a comunidade da Rockstar. Eles se tornaram parte de mim, e eu, deles. Quando fui demitido sem aviso, sem processo e sem representação, senti como se uma parte tivesse sido arrancada de mim. Nem sequer me permitiram dizer adeus.
Esse é o relato de um dos 31 desenvolvedores demitidos pela Rockstar North em Edimburgo no final de outubro de 2025, durante protesto registrado pelo canal People Make Games em um vídeo que foi postado ontem (11).
Todos faziam parte do Rockstar Games Workers’ Union, sindicato em formação que buscava melhorar as condições de trabalho na reta final do desenvolvimento de Grand Theft Auto 6
Demissões sem aviso prévio
As dispensas aconteceram de forma abrupta. Em depoimento ao canal, um dos organizadores sindicais descreve o momento: “Eu estava em completo choque. Choque com a empresa à qual dediquei tanto do meu trabalho, minha paixão, minha criatividade, meu cuidado, a mim mesmo, me expulsaria pela porta de forma tão agressiva”.
Durante os protestos, outro funcionária demitida expressou preocupação com as consequências profissionais: “Se eu tiver má conduta grave no meu currículo para o resto da minha vida, isso é um enorme prejuízo para qualquer perspectiva de carreira futura”. Ela também falou sobre o impacto emocional: “É importante notar que você sente vergonha de ser expulso do trabalho dessa maneira. Todos nós ainda queremos estar aqui. Queremos nossos empregos, queremos terminar o que estávamos trabalhando. E agora a vergonha interna de ter essa má conduta grave com você para sempre, é difícil explicar”.
A Rockstar alegou “má conduta grave” e afirmou que os funcionários estavam “distribuindo e discutindo informações confidenciais em um fórum público”. Mas os trabalhadores contestam: segundo Alex Marshall, presidente do IWGB (Independent Workers’ Union of Great Britain), o suposto “fórum público” era um servidor privado do Discord usado exclusivamente para organização sindical.
“Eles nunca esperaram por isso”
Durante os protestos em frente aos escritórios da Rockstar North, um dos organizadores sindicais explicou por que acredita que a empresa tomou essa decisão: “Acho que estamos na luta de nossas vidas. A coisa sobre a qual realmente penso quando vou dormir à noite é que eles terão levado em conta a imprensa. Eles terão levado em conta a imprensa negativa. Eles terão levado em conta os atrasos no jogo que resultarão da demissão de 31 trabalhadores essenciais. Levaram em conta o dinheiro que podem ter que pagar para resolver no tribunal, e decidiram que vale a pena”.
Mas ele acredita em algo que a Rockstar não calculou: “O que eles nunca vão levar em conta, e algo que nunca vi a gestão levar em conta, são os laços que as pessoas sentem em seu trabalho, a disposição de se apoiarem e lutarem, a força que existe em um coletivo de pessoas dispostas a se arriscar, dispostas a colocar suas vozes em jogo e apoiá-los. E eles não levam isso em conta porque não entendem. Eles nunca viram isso. Não vimos isso na indústria de games. Eles nunca viram isso em suas salas de reunião, e estão prestes a descobrir o que isso significa”.
O símbolo
No vídeo, aparece repetidamente o emoji de uma sementinha verde (), tanto nos cartazes dos protestos quanto nas mensagens de apoio. Questionado sobre o significado, um dos demitidos explica: “É o emoji de seedling. Ele meio que se tornou nosso símbolo não oficial de apoio à sindicalização. Víamos ele surgindo nos chats, brotando, se preferir, e assim como o sindicato, ele brotou por si mesmo”.

Os protestos também incorporaram o slogan histórico da Rockstar “Say sorry, be nice” (Peça desculpas, seja gentil) — frase associada ao fundador Sam Houser — em gritos de guerra: “Say sorry, be nice! Stand up for workers’ rights!” (Peça desculpas, seja gentil! Defenda os direitos dos trabalhadores).
Medo dentro da empresa
Uma trabalhadora que permanece na Rockstar North enviou carta anônima lida durante o protesto: “A energia, a empolgação, aquela centelha que tornava este lugar tão especial agora está destruída. E sei que não sou a única que se sente assim agora. Sei que não estou sozinha. E é de partir o coração porque agora, quando deveríamos estar mais unidos e focados no projeto do que nunca, a maioria de nós está assustada, magoada e incerta. Esta situação não ajuda ninguém”.
Durante o protesto, um dos demitidos se dirigiu diretamente aos colegas que permaneceram: “Meus amigos estão dentro daquele prédio ali. E daquele lá também. Mas eles estão com medo! Com medo pelos seus empregos e com medo de falar. E não os culpo por isso. Mas eu não estou. E claramente nenhum de vocês aqui também está”.
Crescimento inesperado
Apesar da tentativa de intimidação, um dos organizadores revelou algo surpreendente ao People Make Games: “O sindicato cresceu na última semana. O que é algo incrível para mim ver. É realmente, realmente encorajador. É realmente incrível. Pessoas dentro da empresa agora têm medo. Têm medo de falar sobre o sindicato. Têm medo de falar sobre os fatos do que aconteceu, mas ainda estão se juntando a nós”.
Ele finaliza explicando a estratégia do movimento: “Também vamos precisar do apoio do público. Vamos precisar do apoio da comunidade gamer. Acho que esta é uma luta que afeta todos nós, qualquer um que se importe não apenas com GTA 6, mas com os games como um todo”.
O IWGB entrou com recursos formais pedindo a reintegração dos trabalhadores e compensação integral. Caso a Rockstar recuse, o processo seguirá para os tribunais trabalhistas britânicos.




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