
Relembre o Assassin’s Creed que recriou o Louvre em detalhes
Relembre o Assassin’s Creed que recriou o Louvre em detalhes
O Museu do Louvre amanheceu fechado nesta segunda-feira (20) após sofrer um dos roubos mais audaciosos de sua história de 230 anos. Na manhã de domingo, às 9h30 (horário local), apenas 30 minutos após a abertura, quatro criminosos levaram oito joias da realeza francesa em uma operação relâmpago de sete minutos.
O ministro da Justiça francês Gérald Darmanin admitiu publicamente que “as autoridades falharam” e que o sistema de segurança apresentou brechas críticas.
Para milhões de gamers mundo afora, o cenário do crime é território conhecido: o Louvre foi meticulosamente recriado em Assassin’s Creed Unity, lançado em 2014.
Na ação, dois invasores entraram usando um guindaste acoplado a um caminhão, quebraram uma janela da fachada voltada para o Rio Sena, invadiram a Galeria de Apolo, destruíram vitrines com motosserras pequenas e fugiram de scooter. Uma operação digna de Arno Dorian, o protagonista de Assassin’s Creed Unity.
A fidelidade na retratação
Assassin’s Creed Unity revolucionou a indústria ao recriar Paris em escala 1:1 durante a Revolução Francesa de 1789. Nessa época, o Louvre ainda funcionava como palácio real – só seria transformado em museu público em 1793, após a revolução.
O Palácio do Louvre (Palais du Louvre) tem origens que remontam ao século XII, quando o rei Filipe II construiu uma fortaleza para proteger Paris. Foi sede do poder monárquico francês até 1682, quando Luís XIV transferiu o governo para Versalhes, deixando o Louvre principalmente como local para exibir a coleção real.
O nome “Louvre” possivelmente deriva da palavra latina Lupara, do termo lupus (lobo), ou da palavra franca leovar ou leower, que significa “lugar fortificado”. A Galeria de Apolo (Galerie d’Apollon), alvo do roubo real no domingo, foi reformada pelo arquiteto Louis Le Vau entre 1661 e 1673 após um incêndio.
A equipe de desenvolvimento da Ubisoft trabalhou com historiadores e especialistas para retratar fielmente o palácio como era em 1789. Artistas de ambiente como Johanne Drolet dedicaram-se especificamente à modelagem dos marcos históricos parisienses, incluindo o distrito do Louvre.
A atenção aos detalhes transformou o Louvre digital em um dos marcos históricos mais fielmente recriados da história dos videogames. A engine do jogo processa simultaneamente centenas de NPCs circulando pelas ruas e jardins de Paris, criando uma sensação de vida urbana que poucos games da época conseguiram replicar.
O Louvre digital e o crime real na Galeria de Apolo
O complexo do Louvre em Assassin’s Creed Unity é extenso e navegável, com dezenas de baús colecionáveis, artefatos históricos e missões espalhadas pela região de Le Louvre-Tuileries. Arno pode explorar interiores detalhados do palácio, coletar itens raros e participar de sequências de ação dentro do edifício histórico.
No mundo real, foi a Galeria de Apolo – uma das áreas mais prestigiosas do Louvre – que se tornou alvo dos criminosos no domingo. Em apenas sete minutos, eles invadiram essa galeria específica e levaram oito joias da realeza francesa.

Entre as peças roubadas estão o colar de safiras da rainha Maria Amélia e da rainha Hortênsia (oito safiras e 631 diamantes), a tiara da Imperatriz Eugénia (aproximadamente 2.000 diamantes) e outras seis joias da coleção de Napoleão Bonaparte e suas imperatrizes Marie-Louise e Eugénia. Uma nona peça, a coroa da Imperatriz Eugénia (1.354 diamantes e 56 esmeraldas), foi encontrada danificada nos arredores do museu.

Especialistas estimam que o valor das peças ultrapassa 100 milhões de euros, mas seu valor histórico é incalculável. No jogo, Arno coleta “artefatos” espalhados pelo Louvre que rendem pontos de experiência. Na vida real, os criminosos levaram pedaços literais da história francesa que podem nunca ser recuperados intactos
Os “enigmas de Nostradamus”
Assassin’s Creed Unity incluiu uma série de quebra-cabeças chamados “Enigmas de Nostradamus”, onde jogadores precisavam decifrar pistas sobre localizações específicas de Paris. Vários enigmas levavam diretamente ao Louvre, forçando os players a estudar a arquitetura, memorizar entradas secundárias e identificar pontos de acesso alternativos.
Um dos enigmas mais famosos termina em um cofre subterrâneo escondido na região de Tuileries, próximo ao Louvre. Para encontrá-lo, jogadores precisavam entender o layout dos jardins e localizar uma entrada discreta. Ironicamente, os criminosos reais usaram conhecimento similar: sabiam exatamente qual janela quebrar, qual galeria invadir e qual rota de fuga usar.
A mecânica de parkour do jogo também permitia que Arno escalasse qualquer superfície do Louvre usando calhas, beirais e ornamentos arquitetônicos. Enquanto os invasores reais usaram um guindaste.
Unity como arquivo histórico digital
Assassin’s Creed Unity ganhou relevância renovada em 2019, quando o incêndio de Notre-Dame devastou a catedral parisiense. A Ubisoft ofereceu o jogo gratuitamente e historiadores descobriram que os modelos 3D criados para Unity poderiam auxiliar na reconstrução, pois eram baseados em levantamentos arquitetônicos precisos.
In solidarity with everyone moved by Monday’s events we’re donating to the restoration for Notre-Dame & giving you the chance to play Assassin’s Creed Unity on Uplay for free.
— Assassin’s Creed (@assassinscreed) April 17, 2019
A Ubisoft criou mais de 300 interiores navegáveis em Paris, incluindo mansões, catedrais e palácios.
A relação do Louvre com games
O Louvre tem histórico com a indústria gamer. Em 2012, o museu adotou 5.000 consoles Nintendo 3DS como audioguias interativos, oferecendo geolocalização interna, visualização 3D de esculturas e mais de 600 fotografias de obras. O serviço funcionou por 13 anos até ser descontinuado em setembro de 2025, apenas um mês antes do assalto.
Em junho de 2025, o Louvre fez sua primeira parceria oficial com um jogo: Age of Empires. A colaboração criou conteúdo especial para a exposição “Mamluks 1250-1517” e eventos dentro do próprio game. A parceria marcou o reconhecimento do museu sobre o poder dos videogames em engajar audiências jovens e preservar história digitalmente.
Mas é Assassin’s Creed Unity – nunca oficialmente ligado ao Louvre – que acabou criando o registro digital mais completo e acessível do palácio. Um legado não planejado que ganha nova relevância quando o museu real enfrenta sua maior crise de segurança.
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