ONU alerta: boom de data centers de IA ameaça o abastecimento global de água

ONU alerta: boom de data centers de IA ameaça o abastecimento global de água

A Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta sobre a expansão acelerada de centros de dados em meio à escassez de recursos hídricos e elétricos confiáveis em escala global. O boom de infraestrutura para inteligência artificial está acontecendo em áreas críticas, com dois terços dos novos data centers construídos ou em desenvolvimento nos Estados Unidos desde 2022 localizados em regiões com alto estresse hídrico.​

Consumo de água dispara com expansão da IA

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Um data center médio de 100 megawatts nos EUA consome cerca de 2 milhões de litros de água por dia, equivalente ao uso doméstico de 6.500 famílias, segundo relatório da Agência Internacional de Energia de abril de 2025. Globalmente, os data centers consomem aproximadamente 560 bilhões de litros de água por ano, volume que pode chegar a 1,2 trilhão de litros até 2030 com o avanço de chips de IA mais potentes.​

O processo é especialmente ineficiente: data centers evaporam cerca de 80% da água captada, devolvendo apenas 20% para tratamento. Isso contrasta drasticamente com o uso residencial, que perde apenas 10% por evaporação. Em 2022, Google, Microsoft e Meta utilizaram juntas 580 bilhões de galões de água para refrigeração e geração de energia em suas instalações.​

Europa e Ásia freiam expansão por falta de recursos

A União Europeia anunciou em abril de 2025 planos para triplicar sua capacidade de data centers nos próximos cinco a sete anos, mas o projeto enfrenta resistência em regiões já afetadas por seca. Aproximadamente 30% da população do sul da Europa vive em áreas com estresse hídrico permanente, onde a demanda supera a oferta disponível.​

Kevin Grecksch, professor associado da Universidade de Oxford, criticou a falta de planejamento coeso: “A IA é um tema quente e todos querem participar. Parece que os investimentos são feitos pensando em crescimento futuro e criação de empregos, mas a sustentabilidade fica em segundo plano”. Amazon, Microsoft e Meta investiram bilhões em novas instalações na Espanha, enquanto o Google planeja três centros na região de Attica, na Grécia.​

Na Malásia, a infraestrutura hídrica consegue fornecer apenas 142 milhões de litros por dia aos 101 data centers operando em Johor, Selangor e Negeri Sembilan, muito abaixo dos 808 milhões necessários. No estado de Johor, apenas 17 instalações receberam aprovação para demanda de água. Charles Santiago, presidente da Comissão Nacional de Serviços Hídricos da Malásia, alertou que a crescente sede dessas instalações durante períodos de seca será “bastante preocupante”.​

Regiões críticas nos EUA enfrentam conflito

No Arizona, data centers retiram volumes massivos de água em áreas onde agricultores deixaram campos em pousio e famílias ficaram sem água na torneira durante grande parte de 2023. No Oregon, os data centers do Google representam 25% do consumo de água em The Dalles, região seca normalmente vetada a novos usuários industriais. O uso de água nessa instalação triplicou entre 2017 e 2022, e a empresa planeja abrir mais dois centros nas proximidades.​

Projetos no valor de US$ 64 bilhões já foram bloqueados ou suspensos devido à oposição local centrada em ruído, demanda de água, consumo energético e questões de conservação ambiental.​

ONU cobra energia 100% renovável até 2030

O secretário-geral António Guterres convocou empresas de tecnologia a alimentar a expansão de data centers com 100% de energia renovável até 2030. A demanda por eletricidade de data centers deve dobrar globalmente até 2030, sendo a IA o principal motor desse aumento. A participação desses centros no consumo global de energia pode crescer de níveis atuais para 3-4% até o final da década.​

O Banco Europeu de Investimento prometeu €15 bilhões em projetos hídricos e estabeleceu padrões mínimos para eficiência hídrica em data centers. A Comissão Europeia enfatiza eficiência energética e sustentabilidade ambiental em seus critérios de seleção para fábricas de IA, citando o supercomputador Jupiter na Alemanha como exemplo de computação verde

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