Apenas 8% dos celulares roubados são recuperados no Brasil

Apenas 8% dos celulares roubados são recuperados no Brasil

Mais de 917 mil celulares foram roubados ou furtados no Brasil em 2024, segundo o anuário brasileiro de segurança pública.  Desses, apenas cerca de 8% foram recuperados pelas polícias. Mas o dado mais chocante vem depois: mesmo entre os aparelhos que as autoridades conseguem localizar, uma parcela significativa jamais retorna às mãos dos proprietários legítimos. O buraco é mais embaixo — e revela uma falha sistêmica que vai muito além da criminalidade de rua.

O abismo entre estados brasileiros

celular roubado 1

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, traz pela segunda vez um recorte inédito sobre a recuperação de smartphones no país. Os números expõem não apenas a dimensão do problema, mas uma desigualdade regional que beira o absurdo: enquanto o Piauí recupera 1 celular a cada 2,7 roubados, o Pará consegue resgatar apenas 1 em cada 65,3 aparelhos subtraídos.

A diferença entre esses dois extremos não é acidental. O Piauí foi pioneiro na implementação de um programa estadual de recuperação de celulares, integrando bases de dados policiais, operadoras e Anatel em tempo real. O resultado? A taxa de roubos e furtos de celulares no estado caiu 29,7% entre 2023 e 2024 — a maior queda do país.

Pernambuco e o modelo que funciona

No meio do caminho, está Pernambuco. O estado implementou não um, mas dois programas específicos de combate ao roubo de celulares, e isso se reflete nos números: 1 aparelho recuperado para cada 4,7 subtraídos — uma taxa de 21%, quase o triplo da média nacional. Santa Catarina, outro destaque positivo, saltou de 13,5 para 31,5 celulares recuperados por 100 mil habitantes em apenas um ano, um crescimento de impressionantes 132,6%.

Recuperar não significa devolver

Mas o problema não termina na recuperação. O documento revela algo ainda mais preocupante: mesmo quando as polícias conseguem localizar os aparelhos, há um gargalo gigantesco na devolução. Em 2024, apenas 9 estados informaram dados sobre celulares efetivamente restituídos aos proprietários — contra 15 que reportaram números de recuperação. Dos 35.666 aparelhos recuperados no país, apenas 19.756 voltaram oficialmente às mãos dos donos.

São Paulo e Santa Catarina, curiosamente, lideram a queda nas devoluções: 4,8% e 57,3% a menos entre 2023 e 2024, respectivamente. A explicação, segundo especialistas, está na falta de integração entre sistemas. Sem programas específicos, esses estados dependem de processos burocráticos lentos, bases de dados desconectadas e, em muitos casos, da própria vítima descobrir que seu celular foi recuperado — algo que raramente acontece.

Os estados ausentes

O cenário fica ainda mais dramático quando se analisa o contexto nacional. Treze estados possuem programas estruturados de recuperação de celulares. Outros seis têm apenas iniciativas isoladas, sem coordenação centralizada. E oito não têm programa nenhum: Amapá, Goiás, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins estão completamente ausentes dessa corrida tecnológica contra o crime.

A lógica é cruel: em estados sem programas, os criminosos operam com margem de segurança altíssima. Sabem que a chance de um celular ser rastreado, recuperado e devolvido é estatisticamente desprezível. A média nacional — 1 aparelho recuperado para cada 12 roubados — esconde essas distorções regionais brutais.

A rota internacional do crime

E há outro fator complicador: a cadeia de receptação. O Anuário aponta que celulares roubados seguem rotas internacionais complexas, sendo exportados para países africanos e asiáticos onde o IMEI não é fiscalizado. Essa economia paralela movimenta milhões e alimenta não apenas o crime de rua, mas organizações especializadas em logística ilegal. Em São Paulo, receptadores africanos operam na Rua Guaianases, coordenando o envio de aparelhos para Senegal, Nigéria, China e Índia — países onde smartphones brasileiros bloqueados voltam a funcionar normalmente.

iPhone: o alvo preferencial

iphone

Enquanto isso, o brasileiro comum continua refém de uma equação perversa: 850 mil ocorrências de roubo e furto de celulares em 2024, taxa de recuperação de 8%, e devolução efetiva em números ainda menores. Para quem perde um iPhone — que representa 24,3% dos celulares roubados, apesar de ter apenas 10% de participação no mercado brasileiro —, a frustração é ainda maior: o prejuízo financeiro se soma à perda de dados pessoais, fotos, contatos e acesso a contas bancárias.

Leave A Comment

You must be logged in to post a comment.

Back to Top