
Gerador de R$ 70 mil, PlayStations alugados e polêmica sobre gasto público em ONG de SP
Gerador de R$ 70 mil, PlayStations alugados e polêmica sobre gasto público em ONG de SP
Um projeto social em São Paulo que promove torneios de videogame para jovens de periferia virou alvo de questionamentos após destinar R$ 70,4 mil do orçamento apenas para o aluguel de um gerador — valor suficiente para comprar mais de 20 PlayStations 4 novos.
Segundo o Metropoles, o caso envolve a Federação Estadual das Ligas de Esportes Amadores do Estado de São Paulo (Felfa-SP), beneficiada com R$ 8,5 milhões em recursos municipais desde 2023. Em 2024, a entidade recebeu R$ 300 mil via emenda parlamentar do vereador Marcelo Messias (MDB) para realizar a ação “Fifa Pro E-Sports 6”, voltada a 320 jovens entre maio e agosto.
Gerador mais caro que os próprios consoles
Segundo a prestação de contas enviada à Prefeitura, o gerador foi locado por 32 diárias de R$ 2,2 mil para evitar danos aos equipamentos em caso de queda de energia. O problema: cada PlayStation 4 usado no evento custa cerca de R$ 3 mil no varejo.
Além do gerador, a ONG gastou R$ 63 mil no aluguel de 10 PlayStations 4 por 32 dias — cerca de R$ 199 por diária de cada console, apesar de haver opções no mercado a R$ 350 por mês.
Se os equipamentos tivessem sido comprados, a entidade poderia adquirir 20 consoles novos e reutilizá-los em futuras edições do programa, reduzindo custos a longo prazo.
Serviços concentrados em uma única empresa
Outro ponto que chama atenção é a concentração de 96% do valor da emenda em uma única fornecedora: a Dmix Produções e Eventos. A empresa foi responsável por praticamente toda a operação: fornecimento de gerador, videogames, televisores, transporte, além da contratação de equipe técnica, fotógrafa e até auxiliar de limpeza.
Entre os pagamentos, estão R$ 12,1 mil para um técnico eletricista e R$ 17,5 mil para uma fotógrafa profissional.
Embora o aluguel de equipamentos e serviços seja prática comum em projetos sociais, especialistas lembram que a aquisição de bens é permitida quando se comprova ser mais econômica, desde que atendidos critérios técnicos e de edital.
O que dizem os envolvidos
A Felfa-SP declarou que todos os valores passaram por análise e aprovação da Secretaria Municipal de Esportes, com parecer técnico favorável, e que o aluguel incluiu seguro, manutenção, montagem e assistência. A entidade defendeu que a compra de consoles implicaria “alto índice de depreciação” e custos com armazenamento.
Sobre o gerador, a ONG afirma que o gasto foi necessário para garantir a continuidade das atividades e a segurança dos participantes.
A Dmix Produções disse atuar estritamente dentro dos contratos e planos de trabalho aprovados pelos órgãos públicos.
A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer informou que os processos seguem a legislação e que, se houver irregularidades, as entidades poderão sofrer sanções. A pasta afirmou ainda que está criando uma tabela de preços de referência para aumentar a fiscalização dos gastos.
Já o vereador Marcelo Messias declarou que seu foco é ampliar o acesso ao esporte, cultura e lazer nas periferias, e que não é possível acompanhar cada detalhe técnico de todos os projetos.
Discussão maior: transparência e eficiência no uso das emendas
O episódio reacende o debate sobre como os recursos de emendas parlamentares são aplicados e a dificuldade de fiscalizar o custo-benefício em ações sociais.
Para especialistas em gestão pública, casos como esse reforçam a importância de critérios claros de aquisição versus locação e maior transparência nos contratos, especialmente quando valores superam em muito o preço de mercado.
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