O sistema que se recusa a morrer: os lugares onde o Windows XP ainda sobrevive em 2025
O sistema que se recusa a morrer: os lugares onde o Windows XP ainda sobrevive em 2025
Mesmo 14 anos após seu “fim” oficial, o Windows XP continua vivo em cantos inesperados do mundo digital. Este sistema veterano da Microsoft, considerado por muitos como um dos melhores SOs lançados pela gigante fundada por Bill Gates e Paul Allen, segue funcionando silenciosamente em diversos locais, resistindo ao tempo e desafiando todas as previsões de obsolescência.
O Window XP ainda pulsa dentro de caixas eletrônicos, hospitais, trens, aeroportos e sistemas governamentais em pleno 2025
Caixas Eletrônicos
Em 2014, cerca de 89% dos caixas eletrônicos europeus rodavam Windows XP. Embora muitos tenham sido atualizados na última década, milhares permanecem presos ao lendário sistema (alguns até rodam versões ainda mais antigas, como o Windows NT, de 1993!) por uma razão simples: dinheiro.
Atualizar essas máquinas significa reprovar todo o hardware, refazer certificações regulatórias e reescrever software proprietário. O custo pode ultrapassar os US$ 60 mil por unidade.” Para os bancos, manter o XP funcionando – mesmo vulnerável – sai mais barato que uma modernização completa. É um cálculo arriscado que coloca milhões de transações financeiras em risco diário.
Curiosamente, a robustez e confiabilidade do Windows XP também são citadas como razões para mantê-lo. O XP ganhou fama de estável com o Service Pack 3, e muita gente confia nessas máquinas justamente porque “nunca deram problema. O clássico: time que está ganhando não se mexe.
Hospitais
Imagine entrar em um hospital moderno, repleto de equipamentos de alta tecnologia, e se deparar com uma tela de erro do Windows XP no elevador: foi o que aconteceu em Nova York, levando o jornalista Thomas Germain a investigar o quão difundido esse fenômeno está. A resposta? Muito mais do que se imaginava. Nos Estados Unidos, muitos equipamentos de imagem médica e plataformas de registros de pacientes ainda rodam software dos anos 1990, compatíveis apenas com sistemas como MS-DOS ou Windows XP.
A descoberta de mais impacto veio dos hospitais holandeses. Um levantamento de 2023 revelou que metade das instituições médicas consultadas ainda mantém equipamentos rodando Windows XP, incluindo gigantes como Erasmus MC e RadboudUMC.
Máquinas de ressonância, equipamentos de laboratório e sistemas de monitoramento custam milhões e foram projetados para durar décadas. Quando o software envelhece mais rápido que o hardware, hospitais ficam presos entre a segurança digital e a continuidade do atendimento.
“Dispositivos médicos frequentemente têm ciclos de vida maiores que o software usado neles”, admite a equipe do Z-CERT, responsável pela segurança cibernética na saúde holandesa. A solução temporária? Isolar essas máquinas em redes separadas e torcer para que nada dê errado.
Transporte Público
Sistemas de transporte também dependem de softwares antigos como o Windows XP. Na Suécia, trens de alta velocidade ainda dependem do Windows XP em seus sistemas de controle. Alguns vão além, operando com Windows 95 – software de quase 30 anos. Na Alemanha, a companhia ferroviária Deutsche Bahn chegou a publicar, em 2023, uma vaga de emprego buscando um administrador de sistemas com experiência em Windows 3.11 e MS-DOS – softwares de 32 e 44 anos atrás, respectivamente – para manter os painéis dos trens funcionando.
Em São Francisco, a situação é ainda mais vintage: alguns trens urbanos precisam de um disquete inserido diariamente para inicializar. Sem esse ritual analógico, o transporte público simplesmente não funciona.
O Japão também não fica de fora: o país convive com equipamentos legados semelhantes, comprovando que essa dependência de sistemas antigos é um fenômeno global.
Nos aeroportos, cena parecida: telas informativas exibindo o inconfundível visual do Windows XP já foram flagradas em diversos terminais pelo mundo, provocando curiosidade. Em portões de embarque e painéis de informação, às vezes lá está ele – o XP ou no mínimo seu sucessor quase tão defasado, Windows 7.
Um caso extremo ocorreu na França: em 2015 descobriu-se que o sistema DECOR, usado pelo controle de tráfego aéreo francês, ainda rodava Windows 3.1, de 1992.
Governos
Nem mesmo governos ficaram imunes. Quando a Microsoft “aposentou” o XP em 2014, diversos órgãos públicos se viram diante do problema de migração, incluindo prefeituras, tribunais e repartições que usavam sistemas antigos. Na Espanha, por exemplo, houve uma corrida para definir o que fazer com milhares de PCs governamentais rodando XP.
No Brasil, o Windows XP também segue ativo
No Brasil, a presença do XP também se prolongou em setores diversos: por aqui, bancos e empresas investiram na atualização de sistemas no auge do alerta de 2014, mas nem todos erradicaram o veterano. Estimativas atuais mostram que cerca de 0,15% dos computadores Windows em uso no Brasil ainda rodam o XP em 2025
Pode parecer pouco, mas dado o enorme parque de PCs no país, isso representa dezenas de milhares de máquinas – muitas possivelmente em indústrias, pontos de venda, sistemas de automação e até em lugares que dependem de equipamentos de controle de trânsito ou caixas de loja. Em nível mundial, o Windows XP ainda responde por aproximadamente 0,1% a 0,2% dos desktops conectados à internet – um número incrivelmente resistente para um sistema lançado em 2001.
O Windows XP atingiu seu auge de participação de mercado entre 2007 e 2008, quando respondeu por cerca de 76% a 80% de todos os PCs no mundo.
Como essas máquinas antigas ainda funcionam com o Windows XP?
Como essas máquinas antigas ainda funcionam? A resposta está em três palavras:
- Isolamento
- Proteção
- Gambiarra técnica.
A maioria dos sistemas XP em operação hoje vive em “bolhas digitais” – desconectados da internet ou segregados em redes internas ultra-restritas. É como manter um paciente em UTI: vivo, mas completamente dependente de suporte externo.
Outra abordagem é compensar a falta de atualização com camadas extras de segurança. Muitas organizações reforçam a proteção dos PCs Windows XP com firewalls robustos, antivírus atualizados e monitoração de tráfego.
Por exemplo, em ambientes industriais, um PC com XP pode ficar atrás de um firewall restritivo que só permite comunicação com um servidor específico, bloqueando todo o resto. Em certos casos, adota-se whitelisting de aplicações, impedindo que qualquer programa desconhecido rode naquela máquina.
Há também a opção pela virtualização para prolongar a vida do XP de forma mais controlada. Uma prática adotada em escritórios de engenharia e indústrias é rodar o Windows XP dentro de uma máquina virtual (VM) em um computador moderno. Dessa forma, o XP “vive” em um ambiente emulado, enquanto o sistema host (por exemplo, Windows 11 ou Linux) lida com a conexão à internet e outras funções com segurança atualizada. O XP virtualizado fica reservado a executar aquele software antigo imprescindível, sem contato direto com ameaças externas.
Em setores que precisam interligar sistemas XP a redes maiores, estão sendo usados protocolos e gambiarras para tentar protegê-los. Por exemplo, em redes industriais há soluções de “virtual patching”: dispositivos de segurança que identificam tentativas de explorar falhas conhecidas do Windows XP e as bloqueiam em tempo real, atuando como um “escudo” já que o sistema em si não recebeu a correção.
Empresas de cibersegurança comercializam essas medidas para clientes incapazes de atualizar sistemas legados. Existe até uma ferramenta chamada 0patch, que oferece micropatches não-oficiais para vulnerabilidades críticas em softwares fora de suporte. O agente do 0patch funciona no Windows XP e Server 2003, aplicando pequenos patches na memória para tapar falhas.
Quais são os riscos de manter o XP vivo?
Hoje, usar o XP conectado à internet é, na prática, um convite ao desastre. E não é exagero. O pesquisador de segurança Eric Parker testou isso na prática em 2024. Ele pegou um computador com Windows XP, sem firewall, e simplesmente o conectou à rede. Não abriu o navegador, não clicou em nada, apenas deixou ligado. O resultado? Em menos de 15 minutos, o sistema foi invadido e contaminado por malware automaticamente. Isso mesmo: nem deu tempo de reagir.
Quando Parker retornou, encontrou processos estranhos rodando e até um novo usuário fantasma criado no sistema, sinal claro de comprometimento remoto.
Vários ataques cibernéticos de grande porte nos últimos anos expuseram o perigo de continuar com sistemas antigos. O caso mais emblemático foi o ransomware WannaCry, em maio de 2017, que se espalhou por todo o mundo, infectando mais de 300 mil computadores em poucos dias e causando caos em serviços de saúde, empresas e infraestruturas de diversos países. Uma estimativa da Avast na época mencionou que o Brasil foi o quinto país mais afetado por esse ransomware.
O WannaCry se aproveitava de uma falha crítica no protocolo SMBv1 do Windows – a vulnerabilidade EternalBlue, desenvolvida pela NSA e vazada por hackers. Embora a Microsoft já tivesse corrigido essa falha nas versões suportadas do Windows na época, o Windows XP permaneceu vulnerável, já que não tinha mais patches regulares. Dado a gravidade, a Microsoft liberou tardiamente um patch emergencial para XP, mas para muitos já era tarde. O resultado: sistemas desatualizados foram presas fáceis. Hospitais no Reino Unido tiveram de cancelar cirurgias, fábricas interromperam produção e órgãos governamentais ficaram offline, em parte porque ainda rodavam Windows XP ou Windows 7 sem atualização.
Outro risco importante é a falta de compatibilidade com ferramentas modernas de segurança e software em geral. Navegadores atuais, por exemplo, não rodam mais no XP – o Google Chrome e o Firefox encerraram suporte há anos. Mesmo soluções de antivírus vêm descontinuando suas versões para XP; muitas deixaram de receber atualizações de definições recentemente. A própria Microsoft encerrou em 2015 as atualizações do Microsoft Security Essentials e do Malicious Software Removal Tool para XP, declarando que quem insistisse em usá-lo “continuaria em risco de infecção” apesar de qualquer antivírus.
Evidentemente que algumas tentativas seguem ativas, como o MyPal Browser, um navegador atualizado compatível com o Windows XP, permitindo uma navegação mais segura e moderna.
2025 deve marcar realmente os últimos suspiros do Windows XP. O sistema hoje ocupa um espaço irrisório no mercado e sobrevive mais por inércia do que por escolha. A expectativa dos especialistas é que, salvo em cenários altamente isolados, o XP seja completamente erradicado de aplicações críticas nos próximos anos, seja pela substituição das máquinas antigas, seja porque o próprio risco de mantê-lo ativo se tornará insustentável. Em paralelo, as atenções se voltam aos próximos legados: o Windows 7 (fim do suporte em 2020, mas ainda presente em quase de 3% dos PCs globais em 2025).
A grande força da nostalgia
No campo pessoa, fora de instituições, há um seleto grupo que mantém o XP por pura nostalgia ou hobby. Comunidades online de retrocomputação mantêm o XP vivo por paixão, rodando jogos antigos, relembrando a interface clássica.
Falando em nostalgia e em Windows XP poucas coisas evocam tanto esse sentimento de lembrança ao famoso SO da Microsoft do que o mítico papel de parede que o usuário tomava contato assim que iniciava o sistema. Temos aqui no Hardware.com.br um artigo relembrando a história de como o fotógrafo Charles O’Rear,fez esse registro histórico que se transformou numa das imagens mais conhecidas de todos os tempos. Clique no link abaixo para ler:
A história da foto que virou o inesquecível papel de parede do Windows XP
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