
Político americano quer que governo consiga desligar placas de vídeo remotamente — se elas forem parar na China
Um novo projeto de lei nos Estados Unidos propõe algo que parece saído de um roteiro de ficção científica: chips com rastreamento geográfico e possibilidade de desligamento remoto. A ideia não é parte de um experimento acadêmico, mas uma resposta direta à corrida global pela liderança em inteligência artificial, onde os semicondutores se tornaram ativos estratégicos no centro de uma disputa geopolítica entre Washington e Pequim.
A proposta que transformaria chips em ativos rastreáveis
Segundo informações da agência Reuters, o congressista democrata Bill Foster está elaborando uma proposta que obriga fabricantes de chips voltados à IA a incorporarem sistemas de rastreamento físico e até funções de desativação remota. Na prática, os chips poderiam ser inutilizados caso fossem detectados em regiões que sofrem sanções ou restrições comerciais dos Estados Unidos.
A iniciativa, que já teria apoio bipartidário no Congresso, teria como base tecnologias que, de acordo com Foster, já estariam parcialmente presentes em chips como os da NVIDIA. Isso incluiria mecanismos capazes de identificar a localização aproximada dos componentes com base no tempo de resposta de sinais enviados a servidores centrais.
Rastrear, bloquear, conter: a nova fronteira do controle tecnológico
O objetivo é claro: dificultar o acesso da China aos chips mais poderosos do mundo, especialmente aqueles usados para treinar modelos avançados de inteligência artificial. Desde 2022, o governo Biden já impôs uma série de restrições à exportação de hardware avançado, criando um sistema de camadas que diferencia os países conforme sua relação com a segurança nacional dos EUA.
Agora, com a IA se tornando peça-chave em aplicações militares, econômicas e estratégicas, o cerco se fecha ainda mais. Caso a proposta de Foster avance, ela pode inaugurar um novo paradigma no controle de tecnologia sensível, aproximando as fabricantes civis de práticas típicas de setores militares e de defesa.
As tensões com a China seguem escalando
A disputa entre Estados Unidos e China pelo domínio da IA já ultrapassou o campo diplomático. Em 2023, a administração Biden apertou ainda mais as restrições, afetando diretamente empresas como a NVIDIA. A fabricante, uma das maiores do setor, alertou publicamente que as barreiras comerciais estão limitando seu alcance global. No relatório mais recente, a empresa mencionou a possibilidade de um prejuízo de até US$ 5,5 bilhões no primeiro trimestre, ligado ao estoque e compromissos assumidos com a linha H20 — chips desenvolvidos para contornar as sanções, mas que podem acabar encalhados.
Enquanto isso, a China segue buscando sua própria independência tecnológica. O caso envolvendo a TSMC, que pode ser multada em mais de US$ 1 bilhão por ter tido um chip avançado usado em um produto da Huawei, mostra que os gargalos ainda existem. Mesmo com bloqueios, peças restritas continuam chegando ao mercado chinês por rotas paralelas.
A visão americana: impedir, ou ao menos dificultar
Na prática, o sistema sugerido por Foster funcionaria como uma barreira dissuasória. O rastreamento dos chips seria feito por tempo de latência em comunicação com servidores confiáveis. Caso detectado em local proibido, o componente poderia ser desativado remotamente. Ainda que não elimine por completo o risco de vazamento, a medida teria como objetivo aumentar o custo e a complexidade dessas aquisições não autorizadas.
Ainda assim, há dúvidas sobre a real eficácia de um sistema desse tipo. Especialistas alertam que qualquer solução remota pode ser burlada com engenharia reversa ou bloqueio de comunicação com os servidores de rastreamento. Mesmo assim, o simbolismo da proposta é forte: trata-se de transformar cada chip exportado em um potencial agente de vigilância do governo americano.
NVIDIA no centro da tempestade
Para a NVIDIA, o cenário é delicado. A China representa uma fatia considerável de sua receita. A empresa se consolidou como líder absoluta no setor de IA, sendo a terceira companhia mais valiosa do planeta, atrás apenas de Apple e Microsoft. Embora sua força de mercado seja robusta o suficiente para resistir a pressões de curto prazo, perder o mercado chinês comprometeria projeções de crescimento e impactaria seus planos futuros.
O próprio CEO Jensen Huang reconheceu publicamente que os chineses estão perigosamente próximos dos Estados Unidos em termos de capacidade tecnológica. Uma admissão que ajuda a entender por que parlamentares americanos soam o alarme — e por que propostas como a de Foster vêm ganhando tração.
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