Tudo sobre o julgamento que pode obrigar o Google a vender o Chrome

Tudo sobre o julgamento que pode obrigar o Google a vender o Chrome

O Google Chrome ainda é um dos navegadores mais usados no mundo, e o preferido de muitos internautas, mas imagine um mundo em que ele não pertence mais ao Google. Parece algo improvável, mas essa possibilidade está no centro de um caso antitruste que está agitando os Estados Unidos.

O Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) está enfrentando o Google em um julgamento histórico que pode transformar a gigante da tecnologia e a internet como a conhecemos. Vamos explicar o que está acontecendo, por que isso é importante e o que pode vir a seguir.

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O veredito de monopólio e o “ciclo vicioso”

Google

No ano passado, o juiz Amit Mehta deu um veredicto impactante no caso US v. Google: o motor de busca do Google é um monopólio. O problema central? A dominância do Google não é apenas por ser o melhor, mas por causa de um sistema que se autoalimenta, chamado pelo DOJ de “ciclo vicioso”.

Funciona assim: o Google paga bilhões (como os US$ 20 bilhões anuais que dá à Apple) para ser o motor de busca padrão em dispositivos e navegadores. Isso garante que a maioria das pessoas use o Google, gerando toneladas de dados. Mais dados significam melhores resultados de busca, que atraem mais usuários, que geram mais receita, que permitem ao Google pagar por mais posições padrão. E o ciclo continua.

O Google não nega que esse ciclo existe. Na verdade, eles o chamam de ciclo virtuoso — um sinal de um produto bem construído que só melhora. Mas o DOJ argumenta que é uma barreira para a concorrência, sufocando rivais que não conseguem competir com os dados ou o poder financeiro do Google. Agora, o tribunal está decidindo como quebrar esse ciclo e equilibrar o jogo.

As grandes exigências do DOJ

Google

O DOJ não está medindo esforços. Eles propuseram três grandes medidas para tenta quebrar um pouco a dominância do Google. São elas:

1 – Fim dos acordos de posição padrão
Os contratos do Google para ser o motor de busca padrão, especialmente o gigantesco acordo com a Apple para o Safari, estão na mira. O DOJ quer proibir o Google de fazer qualquer acordo que garanta uma posição privilegiada como motor de busca, seja com a Apple, fabricantes de celulares ou outros. Esses acordos, segundo o DOJ, são a base do monopólio do Google, tornando quase impossível para concorrentes como Bing ou DuckDuckGo ganharem espaço.

2 – Venda do Chrome
Aqui a coisa fica séria. O DOJ quer que o Google venda o Chrome, o navegador mais popular do mundo, com mais de quatro bilhões de usuários. Por quê? O Chrome é uma porta de entrada importante para as buscas, já que cerca de 35% das pesquisas no Google começam ali.

Ao controlar o Chrome, o Google garante que seu motor de busca esteja sempre em destaque para milhões de pessoas. O DOJ argumenta que transformar o Chrome em uma empresa independente enfraqueceria o domínio do Google e daria aos concorrentes uma chance mais justa. O Google rebate, dizendo que o Chrome não é um negócio independente e só faz sentido dentro do seu ecossistema, mas a ideia de vender o Chrome é um prato cheio para outras gigantes da tecnologia.

3 – Compartilhar os Dados de Busca
A terceira exigência do DOJ é de peso: o Google deve licenciar seus dados de busca, desde o índice de busca até os resultados, para qualquer concorrente que queira. Isso permitiria que rivais construíssem seus próprios motores de busca usando os dados do Google como base.

Os advogados do Google estão horrorizados, argumentando que isso é como obrigá-los a entregar sua receita secreta. Eles também alertam que compartilhar esses dados, que incluem informações sensíveis de usuários, pode criar riscos de privacidade. Além disso, dizem que os concorrentes poderiam simplesmente copiar os resultados do Google enquanto o Google é impedido de fazer os acordos que o mantêm na liderança.

A defesa do Google: “Somos apenas os melhores”

A posição do Google é clara: eles dominam porque são os melhores, não porque trapaceiam. Claro, eles pagam para ser o padrão, mas argumentam que os usuários escolhem o Google porque ele entrega os melhores resultados. O advogado principal do Google, John Schmidtlein, chamou as medidas do DOJ de uma “lista de desejos” para concorrentes preguiçosos que querem o sucesso do Google sem esforço.

O Google está disposto a ceder em um ponto: aceitaria uma proibição de acordos de exclusividade, como o com a Apple, desde que os usuários possam facilmente mudar para outros motores de busca. Além disso, eles estão firmes, alertando que os planos do DOJ podem prejudicar a inovação e dar uma vantagem injusta aos rivais.

O elefante da Inteligência Artificial na sala

Google's Gemini AI

Se você achou que isso era só sobre buscas, pense novamente. A inteligência artificial (IA) está roubando a cena nesse julgamento. O DOJ argumenta que o Google está usando a mesma estratégia das buscas para dominar a IA com seu projeto Gemini, garantindo dados e parcerias para se manter à frente. Enquanto isso, o Google aponta para a popularidade explosiva do ChatGPT como prova de que o mercado de buscas já é competitivo. Se a OpenAI pode abalar a indústria sem os dados do Google, argumenta o Google, por que os concorrentes precisam de favores?

A IA será um tema quente nas próximas semanas, com testemunhas como a ex-líder do Gemini, Sissie Hsiao, e executivos da OpenAI e Perplexity no banco das testemunhas. Até a primeira testemunha do julgamento, o especialista em IA Greg Durrett, passou boa parte do tempo explicando como a IA se conecta com as buscas. À medida que ferramentas baseadas em IA mudam a forma como buscamos informações, ambos os lados estão debatendo se os monopólios tradicionais de busca ainda importam.

O que seria um mercado de buscas justo?

No fundo, esse julgamento é sobre justiça. Como seria um mercado de buscas competitivo? O Google diz que já é justo, já que qualquer um pode construir um motor de busca melhor e conquistar os usuários. Mas o DOJ, apoiado pelo testemunho do CEO da Microsoft, Satya Nadella, argumenta que ninguém pode alcançar o Google sem acesso aos dados que ele acumulou.

O juiz Mehta parece cético sobre algumas propostas do DOJ, sugerindo que obrigar o Google a compartilhar seus dados pode ser um exagero. Mas, com semanas de depoimentos pela frente, ele ainda está avaliando o quanto de mudança é necessário para restaurar a concorrência.

O que está em jogo?

Se o DOJ vencer, o Google pode perder o Chrome, enfrentar limites rígidos em parcerias e ver seus dados de busca alimentando motores rivais. Isso poderia abrir espaço para novos jogadores, mas também pode atrapalhar a experiência fluida que os usuários do Google esperam. Por outro lado, se o Google convencer o tribunal a adotar medidas leves, pode manter seu domínio intacto, deixando os concorrentes na luta.

A decisão do juiz Mehta não será fácil. Ele já está fazendo perguntas difíceis sobre precedentes e os riscos de reformular uma gigante da tecnologia. O Google planeja apelar de todo o caso, então essa batalha pode se arrastar por anos. Por enquanto, o mundo da tecnologia está observando de perto, sabendo que o resultado pode impactar navegadores, motores de busca e até a revolução da IA.

Fonte: TheVerge

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