Conclave: o que o filme acerta e erra ao mostrar como é a escolha do novo Papa
Conclave: o que o filme acerta e erra ao mostrar como é a escolha do novo Papa
Com o falecimento do atual Papa Francisco, a Igreja Católica se prepara para a escolha de um novo líder, e para quem tem curiosidade em entender com detalhes como acontece todo esse processo, o filme Conclave oferece uma visão fascinante, cheia de intriga e drama, sobre esse ritual milenar da Igreja Católica.
Baseado no livro de Robert Harris, o filme é uma obra de ficção, mas se inspira no processo real do conclave, quando os cardeais se reúnem para eleger o líder da Igreja. Com atuações poderosas de Ralph Fiennes e Stanley Tucci, Conclave mergulha na política e nas tensões humanas por trás dessa decisão e por isso está sendo procurado por muitas pessoas que querem entender melhor tudo isso.
Mas o quanto ele acerta na representação do conclave? E onde ele toma liberdades criativas? Vamos analisar o que o filme faz de melhor e onde escorrega, com base em especialistas e no próprio contexto da Igreja.
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O que Conclave acerta: a essência do processo
Conclave brilha ao capturar a atmosfera solene e o funcionamento básico do processo de eleição papal. Segundo o padre Thomas Reese, especialista em política da Igreja Católica, o filme acerta em cheio na representação da votação. As urnas usadas para queimar as cédulas, por exemplo, são réplicas fiéis das reais, e a sequência na Capela Sistina, onde os cardeais com menos de 80 anos se reúnem em total isolamento, mostra a realidade de um ambiente sem contato externo. O filme mostra como os cardeais precisam chegar a um consenso de dois terços, um detalhe crucial que dá o tom da complexidade do processo.
Outro ponto forte é a humanização dos personagens. O filme não pinta os cardeais como santos intocáveis, mas como homens lidando com egos, ambições e dúvidas. Essa visão é endossada por irmã Susan Francois, líder assistente das Irmãs de São José da Paz, que destaca que, apesar da esperança de um processo guiado pelo Espírito Santo, a natureza humana inevitavelmente aparece. Disputas, alianças e até campanhas políticas sutis são parte do conclave, e Conclave não foge disso. Ralph Fiennes, como o cardeal Lawrence, e Stanley Tucci, como o cardeal Bellini, encarnam líderes progressistas que debatem o futuro da Igreja, mostrando que até na escolha do Papa há espaço para discordâncias e ideais conflitantes.
O filme também acerta ao dar visibilidade às freiras que trabalham nos bastidores, como na Casa Santa Marta, o local onde os cardeais ficam hospedados. A personagem irmã Agnes, vivida por Isabella Rossellini, reflete o papel real dessas mulheres: discretas, mas com olhos e ouvidos atentos. Conclave usa Agnes para explorar tanto o potencial de um papel mais ativo para as freiras quanto as sombras do passado da Igreja, como a exploração de mulheres. Essa dualidade é elogiada por Caetlin Benson-Allott, diretora de Estudos de Cinema e Mídia da Universidade de Georgetown, que vê na abordagem um equilíbrio entre progresso e crítica.
Onde Conclave erra: liberdades criativas
Apesar de seus acertos, Conclave toma algumas liberdades que se afastam da realidade. Um dos principais erros está na trama envolvendo o cardeal Vincent Benitez, interpretado por Carlos Diehz, que é apresentado como um cardeal in pectore, uma nomeação secreta feita pelo Papa. No filme, Benitez participa do conclave, mas, na vida real, um cardeal in pectore só pode votar se seu nome for revelado pelo Papa antes de sua morte. Como isso não acontece na história, a participação de Benitez é uma invenção dramática que não condiz com as regras da Igreja.
Outro ponto controverso é a revelação final sobre Benitez, que se descobre ser intersexo. Embora o filme use essa reviravolta para discutir gênero e progresso na Igreja, a abordagem é mais ficcional do que factual. A Igreja Católica não tem registros de cardeais intersexo, e a narrativa parece mais uma tentativa de provocar reflexão do que de retratar a realidade. Ainda assim, Benson-Allott destaca que a forma como Benitez fala sobre sua identidade é sensível, reforçando a beleza e a normalidade da condição intersexo, além de ecoar os apelos por uma Igreja mais inclusiva feitos por outros personagens.
O filme também exagera o drama em torno de escândalos pessoais, como a relação secreta de uma freira com um cardeal. Embora a Igreja tenha enfrentado casos de abuso e exploração, a forma como Conclave integra esses elementos às vezes parece mais novelesca do que documental. Isso não é necessariamente um defeito — afinal, é uma obra de ficção —, mas pode dar uma impressão exagerada da política do conclave.
O equilíbrio entre fé e política
Um dos maiores méritos de Conclave é mostrar que o conclave é, ao mesmo tempo, um ato de fé e um processo profundamente humano. Como diz o padre Reese, a Igreja é uma instituição divina governada por homens, e nem todos são anjos. O filme captura essa tensão ao retratar cardeais que, apesar de suas boas intenções, lidam com rivalidades e dilemas éticos. A irmã Susan reforça que, mesmo com orações por discernimento espiritual, é impossível evitar que preocupações humanas, como poder ou legado, influenciem as decisões.
Essa abordagem ressoa com quem já acompanhou conclaves reais, como o de 2013, quando o cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa Francisco, marcado pela fumaça branca subindo da chaminé da Capela Sistina. Conclave recria essa expectativa e o peso da escolha, mostrando que, por trás do ritual, há homens tentando equilibrar suas convicções com as necessidades de uma Igreja global.
Se você gosta de thrillers políticos ou quer entender melhor como a Igreja Católica escolhe seu líder, Conclave é uma ótima pedida. Ele mistura fatos e ficção para criar uma história que é tão instigante quanto informativa. E, quem sabe, pode até te fazer torcer por um Papa fictício enquanto reflete sobre o que significa liderar uma instituição milenar em um mundo moderno.
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