As marcas de celulares que fizeram história no Brasil antes da dominação Apple-Samsung

As marcas de celulares que fizeram história no Brasil antes da dominação Apple-Samsung

Imagine uma época em que, ao entrar em uma loja para comprar um celular, você se deparava com várias marcas diferentes, cada uma com recursos exclusivos e designs característicos. De um lado, os resistentes “tijolões” da Nokia; de outro, os musicais Sony Ericsson; em outra prateleira, os elegantes BlackBerry com seus teclados QWERTY. Uma diversidade que parece quase utópica para quem hoje vê o mercado dominado por apenas três ou quatro fabricantes globais.

Essa realidade existiu não faz tanto tempo assim. Entre os anos 1990 e 2010, o mercado brasileiro de celulares fervilhava com inovações de diferentes empresas, cada uma buscando seu espaço com recursos que hoje parecem rudimentares, mas que na época representavam a vanguarda da tecnologia móvel. Telas coloridas, câmeras (ainda que de baixíssima resolução), MP3 players integrados e até acesso à internet eram as grandes novidades que cada marca tentava implementar para conquistar o consumidor.

Mas o que aconteceu com essa multiplicidade de opções? Por que hoje o mercado brasileiro se resume basicamente a Apple, Samsung, Xiaomi e poucas outras? A revolução dos smartphones, iniciada pelo iPhone em 2007, foi apenas o começo de uma transformação radical que consolidou o setor e deixou pelo caminho marcas que fizeram história no Brasil.

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Nokia: do auge da indestrutibilidade à queda sem volta

 Nokia 3310

Impossível falar de celulares antigos sem mencionar a Nokia. A marca finlandesa dominou o mercado brasileiro entre 1990 e boa parte dos anos 2000, com aparelhos que se tornaram verdadeiros ícones culturais. O célebre 3310, lançado em 2000, definiu o que era um celular resistente e funcional, além de popularizar o jogo da cobrinha que marcou gerações.

A fama dos “tijolões” indestrutíveis da Nokia criou um legado que persiste até hoje em memes e referências culturais. A confiabilidade desses aparelhos era tanta que muitos brasileiros até hoje guardam seus modelos antigos como reserva, na certeza de que, mesmo após anos sem uso, ainda funcionarão perfeitamente ao serem ligados. Lembro de uma vez estar na garupa de um mototaxi e meu Nokia 3310 caiu do meu bolso, se espatifando no asfalto. Fui só juntar as peças (corpo, tampa traseira e bateria), montar tudo e o bicho estava funcionando perfeitamente.

O declínio da Nokia começou justamente quando a empresa não conseguiu se adaptar à era dos smartphones. Enquanto o mundo abraçava telas sensíveis ao toque e sistemas operacionais avançados, a Nokia resistiu e, quando finalmente decidiu mudar, apostou no sistema Windows Phone em parceria com a Microsoft.

A linha Lumia, fruto dessa parceria, nunca conseguiu competir com o Android e iOS. Em 2016, após anos de vendas decrescentes, a Microsoft vendeu a divisão de smartphones da Nokia para a Foxconn e a HMD Global. Mesmo sob nova administração, a marca nunca recuperou seu protagonismo e, em fevereiro de 2025, a HMD confirmou que todos os modelos Nokia foram oficialmente descontinuados.

LG: da inovação à desistência

LG Chocolate

A sul-coreana LG, ainda presente no mercado de eletrônicos com TVs e eletrodomésticos, também teve seu momento de glória no setor de celulares. Apesar de nunca ter alcançado o status de gigante como sua conterrânea Samsung, a empresa teve modelos bastante populares no Brasil, especialmente nos segmentos de entrada e intermediário.

O LG Chocolate, lançado em 2006, tornou-se um ícone de design com seu visual elegante e distinto. Já o LG Prada foi um dos primeiros celulares com tela sensível ao toque, chegando ao mercado antes mesmo do iPhone, ainda que sem o mesmo impacto revolucionário.

Em 2009, a LG alcançou o posto de terceira maior fabricante mundial de celulares, com impressionantes 120 milhões de unidades vendidas. No entanto, a transição para os smartphones foi problemática para a empresa, que inicialmente apostou no sistema Windows Phone antes de migrar para o Android.

A companhia até teve alguns sucessos pontuais, como a linha Optimus, e investiu em inovações como o LG G Flex com seu corpo flexível e o G5 modular. Porém, desde 2014, a divisão de celulares da LG não apresentava lucro, levando a empresa a finalmente anunciar o encerramento da produção de smartphones em abril de 2021.

BlackBerry: o queridinho dos executivos

BlackBerry 5810

Embora não tenha sido tão popular no Brasil quanto em mercados como os EUA e Canadá, a BlackBerry conquistou seu espaço entre os executivos e profissionais que precisavam de acesso constante a emails. Fundada em 1984 como Research In Motion (RIM), a empresa canadense lançou seu primeiro dispositivo móvel, o BlackBerry 850, em 1999.

O grande diferencial da marca era o teclado físico em formato QWERTY, que facilitava a digitação de textos longos, além de recursos avançados de segurança e comunicação empresarial. O BlackBerry 5810, lançado em 2002, começou a popularizar a marca para além do ambiente corporativo, com sua tela colorida e sistema operacional próprio.

Entre 2009 e 2010, a BlackBerry chegou a controlar impressionantes 20% do mercado global de celulares, sendo usada por celebridades e políticos. No entanto, a empresa não conseguiu acompanhar as inovações trazidas pelo iPhone e Android, especialmente no que se referia a aplicativos e experiência de uso mais intuitiva. O destino foi ainda mais cruel com a Blackberry, que no início zombou das novidades trazidas pelo primeiro iPhone.

Em 2016, a BlackBerry anunciou o fim de sua fabricação própria de smartphones, passando a licenciar sua marca para outras empresas como a TCL. A tentativa de ressurreição, no entanto, não obteve o sucesso esperado, e a marca foi gradualmente abandonada.

Sony Ericsson: quando música e fotografia eram diferenciais

Sony Ericsson W800

Enquanto a Nokia se destacava pela durabilidade, a Sony Ericsson conquistou os brasileiros com aparelhos focados em entretenimento. A parceria entre a japonesa Sony e a sueca Ericsson, formada em 2001, gerou alguns dos celulares mais desejados da primeira década dos anos 2000.

A marca revolucionou o mercado com a linha Walkman, que transformou os celulares em verdadeiros aparelhos musicais. O W800i, lançado em 2005, foi o sonho de consumo de muitos jovens brasileiros com seu visual distinto, botões dedicados para música e qualidade de som superior para a época.

Além dos musicais, a Sony Ericsson inovou com a linha Cyber-shot, focada em fotografia. Em uma era em que câmeras em celulares eram novidade, a marca elevou o padrão com recursos como zoom, flash e até lentes de qualidade superior.

O formato slider do W580i, lançado em 2007, também mostrou como a empresa estava à frente em termos de design, com mecanismos deslizantes que eram tão funcionais quanto estilosos. Esses celulares se tornaram verdadeiros itens de moda e status.

Contudo, a parceria não sobreviveu à revolução dos smartphones. Em 2008, a empresa registrou queda de quase 100% na receita, culminando na demissão de aproximadamente 2 mil funcionários. Entre 2011 e 2013, a Sony comprou a participação da Ericsson por quase US$ 1,5 bilhão, encerrando a parceria e tentando seguir sozinha com a linha Xperia, que nunca alcançou o mesmo sucesso.

Siemens: pioneirismo alemão que se perdeu no tempo

Siemens S10

Se você é mais jovem, talvez nunca tenha ouvido falar da Siemens como fabricante de celulares. No entanto, a empresa alemã foi uma das pioneiras no setor, lançando seu primeiro modelo, o volumoso Mobiltelefon C1, ainda em 1985.

A marca ganhou relevância a partir de 1994 com aparelhos mais modernos e compactos. O Siemens S10, lançado em 1997, foi o primeiro celular do mundo com tela colorida – uma inovação que hoje parece básica, mas que na época representou um salto tecnológico significativo.

A empresa também esteve à frente no desenvolvimento dos celulares tipo flip, com o Siemens SL10 em 1999, estabelecendo uma tendência que seria seguida por diversas outras marcas nos anos seguintes.

O declínio da Siemens no mercado de celulares começou em 2006, em meio a escândalos de corrupção que levaram à renúncia de seu CEO. Gradualmente, a empresa alemã redirecionou seus esforços para outros setores onde já era forte, como equipamentos médicos, infraestrutura ferroviária e tecnologia industrial.

ZTE: a presença chinesa que se dissipou

ZTE V281

A ZTE foi uma das primeiras empresas chinesas a ganhar espaço no mercado brasileiro de celulares, antes mesmo da explosão de marcas como Xiaomi e Huawei. Fundada em 1985, a empresa se destacou por oferecer celulares convencionais e, posteriormente, smartphones de entrada com preços acessíveis.

Em 2009, a companhia se tornou a terceira maior fornecedora mundial de equipamentos GSM, evidenciando sua relevância no setor de telecomunicações. Diferentemente de outras marcas citadas, a ZTE não parou no tempo tecnologicamente, adotando o Android e seguindo tendências do mercado, ainda que sem o mesmo investimento em inovação das líderes.

Os problemas da ZTE no mercado global começaram em 2017, quando o governo dos Estados Unidos multou a empresa por exportar ilegalmente tecnologias para países sob sanções, como Irã e Coreia do Norte. As restrições impostas dificultaram o acesso da empresa a componentes cruciais como chips Qualcomm e até mesmo ao sistema Android.

Esse cenário levou à redução significativa da presença da ZTE no mercado de celulares, e hoje é difícil encontrar seus smartphones nas lojas, mesmo em países onde a marca costumava ser forte.

O que aprendemos com o fim dessas gigantes

Olhar para essas marcas que fizeram história e hoje estão praticamente ausentes do mercado de celulares nos permite entender como a indústria tecnológica pode ser implacável. Um único erro estratégico ou atraso na adoção de novas tecnologias pode custar décadas de história e bilhões em investimentos.

A revolução dos smartphones, iniciada pelo iPhone em 2007, redesenhou completamente o mercado. As empresas que não conseguiram se adaptar rapidamente à nova realidade de telas touchscreen, sistemas operacionais avançados e ecossistemas de aplicativos ficaram para trás.

Outro fator crucial foi a consolidação do duopólio Android-iOS nos sistemas operacionais. Marcas que insistiram em sistemas próprios, como BlackBerry, ou que apostaram no Windows Phone, como Nokia e LG, acabaram perdendo a batalha dos ecossistemas digitais.

A concentração do mercado em poucas empresas também mostra como a produção de smartphones se tornou um negócio de margens estreitas e escala massiva, onde apenas grandes conglomerados com capacidade de investimento constante conseguem sobreviver.

Você se lembra qual foi seu primeiro celular? Era de alguma dessas marcas que já não existem mais? Compartilhe suas memórias nos comentários e nos conte quais recursos desses aparelhos antigos você ainda sente falta nos smartphones atuais.

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