
Dossiê: A guerra das operadoras de internet contra a facção criminosa Comando Vermelho no Ceará
Dossiê: A guerra das operadoras de internet contra a facção criminosa Comando Vermelho no Ceará
O estado do Ceará enfrenta atualmente uma grave crise de segurança pública que afeta diretamente o setor de telecomunicações. Nos últimos meses, diversas empresas provedoras de internet têm sido alvo de ataques sistemáticos, ameaças e extorsões por parte da facção criminosa Comando Vermelho (CV).
O Comando Vermelho, facção de origem carioca com forte atuação no Ceará, implementou uma estratégia criminosa inspirada no modelo já utilizado em comunidades do Rio de Janeiro: o controle territorial não apenas para o tráfico de drogas, mas também para a exploração de serviços essenciais. Neste caso específico, a facção busca monopolizar o fornecimento de internet em áreas sob seu domínio, criando o que já é informalmente chamado de “CV NET” — um serviço clandestino de internet controlado pela organização criminosa.
O método é brutal e direto: a facção exige que as empresas provedoras de internet paguem uma “taxa” que pode chegar a até 60% do valor cobrado dos clientes nas áreas controladas pelo grupo criminoso. As empresas que se recusam a ceder a essas extorsões sofrem retaliações violentas, incluindo ataques a seus veículos, destruição de equipamentos, sabotagem da infraestrutura de rede e até mesmo ameaças diretas aos funcionários.
Este dossiê busca documentar, de forma cronológica e detalhada, os acontecimentos relacionados a esta crise, analisando as táticas utilizadas pela facção criminosa, o impacto econômico e social desses ataques, e as respostas das autoridades públicas e empresas afetadas.
É GRAVE! COMANDO VERMELHO(CV) ESTÁ RETIRANDO CABOS DE FIBRA ÓPTICA DOS BAIRROS DE FORTALEZA. SÓ A CVNET CONTINUARÁ FUNCIONANDO.
A Brisanet que já teve 03 veículos incendiados, e esta proibida de dar manutenção no Pirambu, na Colônia e na Barra do Ceará. pic.twitter.com/SNSE9eszWH— Donizete Arruda (@donizetearruda7) March 7, 2025
Cronologia dos ataques
Vamos começar marcando a cronologia dos ataques. No começo, não havia indícios de que os acontecimentos eram ataques orquestrados pelo crime organizado. Com o passar dos dias foi ficando claro que os ataques eram criminosos e sistemáticos.
Fevereiro de 2025
22 de fevereiro de 2025: O que parecia inicialmente um crime isolado marca o início da escalada de violência. Dois veículos da empresa Brisanet, uma das maiores operadoras de internet do estado, são incendiados no bairro Jacarecanga, em Fortaleza. Neste momento, ainda não estava claro que se tratava do início de uma operação coordenada da facção criminosa.
27 de fevereiro de 2025: Cinco dias após o primeiro ataque, um grupo de criminosos ligados ao Comando Vermelho ataca pontos de fornecimento de internet da empresa Giga+ no distrito de Pecém, próximo ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). O ataque afeta temporariamente o fornecimento de internet para empresas da região, embora os serviços tenham sido rapidamente restabelecidos. Na ocasião, mais de 90% dos usuários ficaram sem internet.
Março de 2025
6 de março de 2025: A situação se agrava quando outro veículo da Brisanet é incendiado, desta vez na região de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. O padrão de ataques começa a ficar evidente para as autoridades.
8 de março de 2025: Criminosos destroem fiações de uma empresa de internet na cidade de Caridade, no interior do Ceará. O ataque tem consequências severas: aproximadamente 90% dos clientes da região ficam sem acesso a internet fixa ou móvel durante todo o dia. A escala do ataque demonstra a capacidade operacional da facção e o potencial de dano à infraestrutura de telecomunicações.
8 de março de 2025: Após a intensificação dos ataques, o governador do Ceará, Elmano de Freitas, anuncia a criação de um grupo especial para combater as ações do Comando Vermelho contra as empresas de internet. Em pronunciamento, o governador afirma: “Nós vamos prender cada um desses criminosos“. Na mesma data, a cidade de Caridade sofre um “apagão” quase total de internet após um ataque particularmente destrutivo à infraestrutura local.
9 de março de 2025: Um dia após o anúncio do governador, criminosos atacam um ponto de atendimento da empresa A4 Telecom no bairro Sítios Novos, em Caucaia, demonstrando um claro desafio às autoridades e uma ousadia dos criminosos sem precedentes.
10 de março de 2025: A escalada continua com dois ataques no mesmo dia. Em Caucaia, a facção destrói a fiação de empresas de internet instalada em postes. No mesmo dia, a sede da empresa Acnet é alvejada por tiros. Embora a empresa estivesse fechada no momento do ataque e ninguém tenha se ferido, os disparos atingiram a fachada do estabelecimento, enviando uma mensagem clara de intimidação.
11 de março de 2025: Novos ataques são registrados em Caucaia, incluindo fios cortados, um carro apedrejado e uma loja alvejada por tiros. A empresa A4 Telecom anuncia em nota oficial que os ataques “comprometeram a segurança de nossas operações” e suspende temporariamente seus serviços em algumas regiões.
12 de março de 2025: A Polícia Civil do Ceará deflagra a “Operação Strike“, resultando na prisão de 17 suspeitos. Entre os detidos estão cinco donos de empresas de internet clandestinas que foram presos em flagrante. As autoridades cumprem 37 mandados de busca e apreensão, incluindo 14 contra empresas provedoras de internet suspeitas de ligação com a facção criminosa. Dois homens apontados como lideranças do Comando Vermelho são detidos: Luiz Rodrigues da Costa Neto, conhecido como ‘LZ’, de 21 anos, e Francisco Edelton da Silva Alves, o ‘Badé’, de 30 anos.
13 de março de 2025: A imprensa revela que a facção criminosa tem exigido até 60% do valor das mensalidades cobradas pelas empresas de internet que operam em territórios dominados pelo CV. Empresários do setor, sob condição de anonimato, relatam que as ameaças incluem invasões a lojas e incêndios de veículos. Estimativas iniciais apontam prejuízos de aproximadamente R$ 500 mil para as provedoras menores apenas nos últimos 20 dias.
14 de março de 2025: A Polícia Civil do Ceará deflagra a 2ª fase da “Operação Strike”, resultando na prisão de mais três suspeitos de envolvimento nos ataques. As novas ações policiais são realizadas nas cidades de Caridade, Canindé e Fortaleza. Além das prisões, são apreendidos cinco veículos e uma arma de fogo.
Esta sequência de eventos revela não apenas a crescente ousadia da facção criminosa, mas também sua estratégia coordenada para dominar o mercado de telecomunicações em áreas sob seu controle. Os ataques não são aleatórios, mas parte de um plano sistemático para extorquir empresas e implementar um monopólio criminoso no fornecimento de internet.
Modus operandi do Comando Vermelho (CV)
A atuação do Comando Vermelho contra as operadoras de internet no Ceará segue um padrão claro e estratégico, reproduzindo métodos já utilizados pela facção em territórios controlados no Rio de Janeiro. A análise dos incidentes ocorridos permite identificar as seguintes táticas e objetivos:
Estratégia de domínio territorial e econômico
O Comando Vermelho não busca apenas o controle territorial para o tráfico de drogas, mas a expansão de suas atividades para serviços essenciais, criando fontes adicionais de renda e fortalecendo seu poder nas comunidades. Esta diversificação de atividades criminosas representa uma evolução no modelo de atuação da facção no Ceará.
A facção estabeleceu como meta criar a “CV NET”, um serviço próprio de internet que seria oferecido exclusivamente nas áreas sob seu domínio. Para viabilizar este projeto, a organização adota duas abordagens principais:
- Extorsão de empresas estabelecidas: Exigindo o pagamento de uma “taxa de proteção” que pode chegar a 60% do valor das mensalidades cobradas dos clientes em áreas controladas pela facção.
- Criação de provedores clandestinos: Estabelecendo empresas de fachada ou operando de forma totalmente ilegal, utilizando equipamentos roubados e infraestrutura clandestina.
Táticas de intimidação e sabotagem
Para garantir o monopólio nos territórios que controla, o Comando Vermelho emprega diversas táticas de violência e intimidação:
CVNET: empresas retiram adesivos de carros e funcionários vivem terror
Funcionário relata crueldades praticadas pelo CV. Em um dos casos, a facção obrigou uma funcionária a tirar toda a roupa e ateou fogo
Leia na coluna de @mirelle_ap: https://t.co/zTpmaFfBR2 pic.twitter.com/bccYDFaRV8
— Metrópoles (@Metropoles) March 11, 2025
- Ataques a veículos: Incêndios e apedrejamentos de carros identificados com as marcas das operadoras legítimas, como ocorreu com veículos da Brisanet em Fortaleza e Caucaia.
- Sabotagem da infraestrutura: Corte de cabos de fibra óptica e destruição de caixas de distribuição instaladas em postes, causando interrupções generalizadas no serviço, como ocorreu na cidade de Caridade.
- Ataques a estabelecimentos comerciais: Disparos de arma de fogo contra lojas e pontos de atendimento das operadoras, como no caso da ACNet, além de invasões e vandalismos.
- Ameaças diretas a funcionários: Técnicos de instalação e manutenção são abordados por criminosos, impedidos de realizar seu trabalho e, em alguns casos, têm seus uniformes confiscados e queimados como forma de intimidação.
- Barreira territorial: Estabelecimento de áreas onde apenas empresas autorizadas pela facção podem operar, criando “zonas de exclusão” para operadoras que não cedem às extorsões.
Estrutura e organização
Para operacionalizar estas atividades criminosas, o Comando Vermelho montou uma estrutura específica:
- Divisão de tarefas: Enquanto as lideranças coordenam e dão as ordens, executores de menor hierarquia realizam os ataques e as abordagens intimidatórias.
- Recrutamento de especialistas técnicos: A facção incorporou pessoas com conhecimento técnico em telecomunicações, como evidenciado pela prisão de um indivíduo que fornecia informações técnicas ao grupo e que já tinha antecedentes por estelionato.
- Furto sistemático de equipamentos: Há pelo menos um ano, a facção vem ordenando o roubo de equipamentos de internet, acumulando o material necessário para operar seus próprios serviços clandestinos. Segundo reportagens, somente em 2024, uma única empresa teve 19 equipamentos furtados, com prejuízo estimado em R$ 15 mil.
- Operação de empresas de fachada: As investigações revelaram que algumas empresas provedoras de internet que operavam em áreas controladas pelo CV eram, na verdade, controladas pela própria facção ou tinham acordos para atuar como “laranjas”.
As consequências das ações do Comando Vermelho são amplas e afetam diferentes setores:
- Apagões de internet: Comunidades inteiras ficam sem serviço, como ocorreu em Caridade, onde cerca de 90% dos usuários foram afetados.
- Restrições operacionais: Empresas legítimas são forçadas a suspender serviços em determinadas áreas por questões de segurança, como fez a A4 Telecom.
- Adaptação forçada: Algumas operadoras começaram a utilizar veículos descaracterizados e técnicos sem uniformes para tentar operar nas áreas de risco.
- Clima de insegurança: Funcionários do setor relatam medo de trabalhar em certas localidades, comprometendo a qualidade e disponibilidade dos serviços.
Este modelo de atuação representa uma clara tentativa de estabelecer um “Estado paralelo” em determinadas regiões, com controle não apenas sobre atividades ilícitas tradicionais, mas também sobre serviços essenciais à população.
Perfil dos líderes

As investigações policiais e operações de inteligência identificaram figuras-chave na liderança dos ataques às operadoras de internet no Ceará. Dois nomes se destacam como principais articuladores dessa estratégia criminosa:
Luiz Rodrigues da Costa Neto – “LZ”
Idade: 21 anos
Posição na organização: Identificado como uma liderança emergente do Comando Vermelho, especialmente responsável pela coordenação das extorsões a empresários do ramo de internet em São Gonçalo do Amarante e Caucaia.
Prisão: Capturado durante a “Operação Strike” em 12 de março de 2025, em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Material apreendido: Com ele foram encontradas duas pistolas, dez munições calibre Ponto 40 e diversos aparelhos eletrônicos.
Perfil criminal: Apesar da pouca idade, LZ ascendeu rapidamente na hierarquia do Comando Vermelho. Já era alvo de investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) antes mesmo dos ataques às operadoras de internet ganharem notoriedade. Sua rápida ascensão na organização é atribuída justamente à liderança nas extorsões contra empresários do setor de telecomunicações.
Situação atual: Além do mandado de prisão cumprido na operação, foi autuado em flagrante por posse ou porte ilegal de arma de fogo.
Francisco Edelton da Silva Alves – “Badé”
Idade: 30 anos
Posição na organização: Identificado como uma das principais lideranças nos ataques a provedores de internet em São Gonçalo do Amarante e Caucaia.
Prisão: Já estava detido em um presídio em Sobral quando teve o mandado de prisão pela “Operação Strike” cumprido em 12 de março de 2025. Havia sido preso pela Polícia Militar do Ceará em Acaraú, no dia 8 de março, por força de outro mandado de prisão referente a um homicídio em Fortaleza.
Histórico criminal: Possui extensa ficha criminal, respondendo por crimes como:
- Integração a organização criminosa
- Homicídio
- Tráfico de drogas
- Associação para o tráfico
- Posse ilegal de arma de fogo
- Receptação
Observações: No momento de sua prisão em Acaraú, “Badé” estava supostamente a passeio na cidade, demonstrando a mobilidade e a sensação de impunidade com que lideranças da facção operavam no estado antes da intensificação das operações policiais.
Outros envolvidos
Além das duas principais lideranças, as investigações resultaram na prisão de outros dez suspeitos de executar os ataques, com idades entre 21 e 43 anos. Alguns desses indivíduos já possuíam antecedentes criminais por homicídios, roubos e tráfico de drogas.
Um caso particularmente relevante é o de um integrante da organização que demonstrou “conhecimento técnico” sobre internet e estaria fornecendo informações técnicas para a facção. Este indivíduo já tinha passagem pela polícia por estelionato, evidenciando a estratégia da facção de recrutar pessoas com habilidades específicas para viabilizar suas operações no setor de telecomunicações.
Conexão com empresas clandestinas
As investigações da “Operação Strike” levaram à prisão em flagrante de cinco proprietários de empresas provedoras de internet que estavam:
- Desenvolvendo clandestinamente atividades de telecomunicação (violação da Lei nº 9.472/1997, com pena prevista de 2 a 4 anos de detenção).
- Operando com material roubado (crime de receptação, com pena prevista no Código Penal de 1 a 4 anos de reclusão).
Embora as identidades desses empresários não tenham sido divulgadas, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) aprofunda as investigações para determinar a natureza exata da relação dessas empresas com o Comando Vermelho, uma vez que elas estavam autorizadas a funcionar em áreas onde outras operadoras foram proibidas de atuar pela facção.
Impacto econômico e social
A violência contra provedoras de internet no Ceará tem imposto perdas significativas para a economia local. Estimativas indicam prejuízos superiores a R$ 1 milhão, com as empresas menores relatando gastos de aproximadamente R$ 500 mil para restaurar infraestrutura danificada e lidar com cancelamentos. O modelo de negócio destas empresas está em risco, pois o retorno sobre o investimento inicial, que normalmente ocorre entre seis meses e um ano, torna-se inviável com os ataques recorrentes.
O mercado cearense de telecomunicações, que segundo a Anatel possui 511 provedoras registradas (embora estimativas do setor apontem mais de 1.200 operando), caminha para uma concentração perigosa. As empresas menores, sem condições de suportar os prejuízos, abandonam certas regiões, deixando espaço para grandes operadoras ou, pior, para serviços clandestinos controlados pelo crime.
Há divergências entre especialistas sobre o repasse de custos aos consumidores. Alguns acreditam que os preços permanecerão estáveis para não penalizar clientes, enquanto outros consideram inevitável um aumento para compensar riscos e prejuízos, afetando principalmente famílias de baixa renda que dependem de provedores menores e mais acessíveis.
As interrupções de serviço têm impacto direto na população. Em Caridade, cerca de 90% dos clientes ficaram sem acesso durante um ataque. Em partes da Região Metropolitana de Fortaleza, a instabilidade persiste há mais de um mês, comprometendo educação, trabalho remoto e acesso a serviços essenciais.
O setor de trabalho também sofre consequências graves. Cada pequeno provedor gera aproximadamente 10 empregos diretos no Ceará, e esses profissionais enfrentam riscos reais. As empresas adotam medidas como o uso de veículos descaracterizados e funcionários sem uniformes. Há relatos de técnicos sendo ameaçados e tendo uniformes confiscados e queimados, gerando um ambiente de medo generalizado.
Até mesmo o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, crucial para a economia regional, sofreu com instabilidade na internet após ataques à infraestrutura local, afetando operações logísticas essenciais. A médio prazo, as populações em áreas dominadas pela facção poderão ficar reféns de serviços controlados pelo crime, sujeitas a preços arbitrários e qualidade precária.
Resposta das autoridades
A reação do poder público aos ataques sistemáticos contra provedoras de internet envolveu diferentes níveis de governo e instituições, com resultados mistos até o momento. O ponto de inflexão ocorreu em 8 de março de 2025, quando o governador Elmano de Freitas, pressionado pela escalada da violência e pela repercussão na mídia, anunciou a criação de um grupo especial para investigar e combater os ataques. Em pronunciamento público, o governador fez uma declaração enfática: “Nós vamos prender cada um desses criminosos“, sinalizando uma postura mais assertiva do governo estadual frente à ousadia da facção criminosa.
A partir desse momento, foi estabelecida uma coordenação intensificada entre diferentes órgãos de segurança pública, resultando na “Operação Strike“, deflagrada em 12 de março. Esta primeira fase da operação produziu resultados expressivos, com a prisão de 17 suspeitos, incluindo dois líderes do Comando Vermelho e cinco proprietários de provedoras clandestinas. As forças de segurança também cumpriram 37 mandados de busca e apreensão, sendo 14 deles direcionados a empresas provedoras de internet suspeitas de ligação com a organização criminosa.
Parabéns às nossas forças de segurança, que prenderam hoje 12 pessoas suspeitas de envolvimento nos ataques a empresas provedoras de internet. A operação Strike, comandada pela Polícia Civil do Ceará, cumpriu ainda 35 mandados de busca e apreensão em pic.twitter.com/iihRmR732a
— Elmano de Freitas (@elmanooficial) March 12, 2025
O sucesso inicial da operação motivou a realização de uma segunda fase, nesta sexta-feira, 14 de março, que resultou na prisão de mais três suspeitos, além da apreensão de cinco veículos e uma arma de fogo. As ações ocorreram em Caridade, Canindé e Fortaleza, demonstrando o alcance territorial da investigação. Essas operações contaram com a atuação conjunta da Polícia Civil, com apoio das Coordenadorias de Inteligência (Coin) e Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), evidenciando um esforço de integração entre diferentes órgãos e uso de recursos especializados.
A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) assumiu a liderança nas investigações, trabalhando em coordenação com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Ceará. O trabalho de inteligência foi fundamental para revelar as conexões entre provedores clandestinos e a facção criminosa, bem como para identificar os principais responsáveis pela coordenação dos ataques. As autoridades também estabeleceram canais para recebimento de denúncias anônimas através do Disque-Denúncia (181), WhatsApp e outros meios digitais, buscando a colaboração da população.
No âmbito federal, a resposta foi mais tímida. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) limitou-se a informar que enviaria “esforços para acompanhar os acontecimentos”. Quando questionada sobre atualizações ou medidas concretas, a agência afirmou que, até o momento, “não há novidades” que possam ser compartilhadas. A ausência de ações regulatórias específicas para proteger as empresas afetadas foi notada pelo setor, que esperava uma postura mais proativa da agência federal responsável pelas telecomunicações no país.
As entidades representativas do setor também se posicionaram. A União dos Provedores do Ceará (Uniproce) emitiu nota afirmando que “o desejo de todos os empreendedores do setor” é “poder trabalhar em paz” e “levar o sustento” para as famílias, “pagar colaboradores, honrar compromissos e contribuir com o desenvolvimento das comunidades atendidas”. A entidade enfatizou que “um ambiente seguro é essencial, permitindo que cada profissional exerça suas atividades com dignidade e tranquilidade”.
Já a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), através de seu conselheiro Basílio Perez, manifestou preocupação com o possível fechamento de empresas, “sobretudo as menores”. Perez destacou que “os provedores se autofinanciam, fazendo suas próprias redes, adquirindo clientes e colocando mais equipamento usando o próprio lucro. Geralmente eles não têm financiamentos de bancos ou agências que possam ajudá-los na recuperação”, o que torna esse segmento particularmente vulnerável aos ataques continuados.
Conclusão
A guerra entre operadoras de internet e o Comando Vermelho no Ceará evidencia uma nova fase do crime organizado brasileiro. Ao tentar monopolizar serviços essenciais, a facção cria “estados paralelos” em territórios sob seu controle, revelando uma estratégia calculada: não apenas destruir, mas coagir e controlar o mercado.
As consequências vão além dos prejuízos financeiros. Cidadãos que dependem da internet para trabalho, educação e serviços básicos são diretamente afetados, especialmente em áreas onde a presença estatal já é frágil.
Embora as operações policiais tenham produzido resultados iniciais, uma resposta efetiva exige medidas estruturais para recuperar o controle territorial. O setor de telecomunicações precisa desenvolver estratégias conjuntas de proteção, enquanto o poder público deve garantir a segurança necessária para a prestação de serviços.
O fenômeno da “CV NET” representa um modelo de governança criminosa que ameaça se expandir para outros setores e regiões. Este confronto, em essência, é uma disputa pelo controle do território e pelo futuro de comunidades inteiras, um desafio que requer atenção urgente de toda a sociedade brasileira.
Agora queremos saber a sua opinião. Se você fosse o Governador ou Prefeito da cidade, que ações tomaria para barrar o avanço do crime organizado nas grandes capitais e preoteger cidadãos e pequenas empresas de serem ameaçados?
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