
O dia em que Bill Gates e Steve Jobs se conheceram – confira essa história
O dia em que Bill Gates e Steve Jobs se conheceram – confira essa história
Quando pensamos na história da tecnologia, algumas duplas se destacam. Bill Gates e Paul Allen, com a criação da Microsoft; os Steves, Jobs e Wozniak, fundadores da Apple; Larry Page e Sergey Brin, responsáveis pelo Google; entre tantas outras.
Mas, entre todos esses nomes, uma dupla se tornou a mais midiática, marcada por momentos de aliança e colaboração, mas também por disputas épicas: Bill Gates e Steve Jobs.
A história de como esses dois gigantes da tecnologia se conheceram remonta ao início da era de ouro da computação pessoal e do mercado de softwares. Então, embarque comigo nessa viagem no tempo. Vamos para 1977!
O evento que juntou Gates e Jobs
“Ao entrar no salão principal da feira, tanto os olhos quanto os ouvidos são bombardeados por uma variedade de sons. Vários sintetizadores de música e voz estão tocando e falando ao mesmo tempo. Além disso, muitos estandes possuem exibições usando dispositivos de projeção de TV, criando um caleidoscópio virtual de cores e sons por todo o salão.”
Esse é um trecho da descrição do jornalista David H. Ahl na revista Creative Computing, relatando sua experiência na primeira edição da West Coast Computer Faire, evento lendário de computadores realizado entre os dias 15 e 17 de abril de 1977, no Brooks Auditorium, em São Franciscom e que recebeu novas edições até 1991.
Foi exatamente nesse evento que Bill Gates e Steve Jobs se encontraram pela primeira vez.
A feira reuniu mais de 180 expositores, incluindo a Apple, que estava lá para promover seu segundo produto, o computador Apple II. Outras empresas também marcaram presença com máquinas que se tornariam lendárias na história da computação, como o Commodore PET 2001 e o RadioShack TRS-80.
Naquele momento, Gates já havia perdido o interesse na faculdade e seu grande foco era a empresa que fundara com Paul Allen: a Micro-Soft (ainda com hífen).
Ele via um enorme potencial no mercado de software e queria tornar a Micro-soft a maior fornecedora de programas para o máximo de microprocessadores possível. Por isso, estar presente na West Coast Computer Faire era essencial, principalmente para estabelecer novos contatos.
Em seu livro “Código-fonte: Como tudo começou”, lançado em janeiro, Gates relembra que comparecer ao evento foi importante para confirmar sua aposta no mercado de computação pessoal: “Todas as empresas eram voltadas aos computadores pessoais. Naquele momento, senti que a indústria havia chegado para ficar.”
Na cinebiografia do Steve Jobs, lançada em 2013 e que tem o ator Ashton Kutcher no papel do cofundador da Apple, há uma cena que retrata a participação da Apple na West Coast Computer Faire.
O encontro que mudaria tudo
Deslumbrado com os inúmeros estandes no evento, Gates observava empresas como a Commodore, Processor Technology e IMS Associates. Em meio a uma das apresentações do Extended Basic (versão aprimorada do Microsoft Basic), ele notou, com o canto do olho, um jovem bem-apessoado, de idade semelhante à sua, rodeado por algumas pessoas.
Esse cara era Steve Jobs, que estava no estande da Apple apresentando o Apple II.
A obsessão de Jobs pelo design, que se tornaria uma das marcas da Apple, já era evidente naquela época. A Apple decorou seu espaço com elegantes placas de acrílico, destacando sua nova logomarca da maçã mordida, criada por uma empresa de marketing.
“O estande ficava na entrada do galpão da feira, e eles estavam usando um projetor para exibir os gráficos coloridos do Apple II em uma tela gigante, de modo que qualquer um que entrasse veria imediatamente seu símbolo, suas placas e o novo computador”, descreveu Gates.
Embora a Apple não fosse a maior empresa do evento, sabia exatamente como chamar a atenção. Paul Allen, sócio de Gates que também estava presente, comentou: “Os caras da Apple estão chamando bastante atenção.”
A Apple também apelou para um truque para reforçar o apelo visual do seu stand. Foram expostos os os únicos três Apple II que estavam prontos, mas foram empilhados caixas vazias ao redor para dar a impressão de que havia muitos outros.
A conversa com Woz e o acordo com a Apple

Durante o evento, Gates também conversou com o outro Steve, o gênio da eletrônica Steve Wozniak. Ele se identificou mais com Woz do que com Jobs, pois ambos eram nerds clássicos, apaixonados pela parte técnica da computação.
O principal ponto da conversa foi o uso do Basic no Apple II. O problema era que a versão escrita por Wozniak tinha uma grande limitação: só conseguia lidar com números inteiros, sem suporte a aritmética de ponto flutuante. Isso tornava impossível a utilização de pontos decimais ou notação científica, ambos essenciais para qualquer software sofisticado.
A Apple precisava de um Basic mais avançado. Gates, que já havia desenvolvido um Basic 6502 para a Commodore, viu uma oportunidade de negócio e apresentou a solução: a Apple poderia licenciar o software da Microsoft em vez de desenvolver um próprio.
Pouco tempo depois, Gates enviou um e-mail para Wozniak com os termos da proposta:
Prezado Sr. Wozniak,
Segue em anexo nosso contrato-padrão de licenciamento. Creio que já lhe comuniquei o preço do Basic 6502:
OPÇÃO 1: US$ 1.000 fixos + US$ 2.000 pelo código-fonte + (US$ 35 por cópia até o máximo de US$ 35.000)
OPÇÃO 2: US$ 21.000 fixos: inclui o código-fonte e plenos direitos de distribuição para o objeto do acordo.
Podemos elaborar uma opção entre uma coisa e outra, caso estejam interessados. Se quiser outra versão demo ou tiver alguma dúvida, não hesite em me contatar. Estou ansioso em resolver um acordo de licenciamento que será mutuamente benéfico.
A Apple escolheu a Opção 2. Além do Apple II, a Microsoft acabou colaborando diretamente com os outros dois computadores da chamada “Trindade de 1977” – Commodore PET 2001 e RadioShack TRS-80 –, todos rodando versões do Basic da Microsoft adaptadas às necessidades dos clientes. No caso do Apple II, o software ficou conhecido como Applesoft.
A ideia do licenciamento de software se tornaria o grande trunfo da Microsoft anos depois, quando fechou o acordo histórico com a IBM para fornecer o MS-DOS.
O primeiro encontro entre Gates e Jobs marcou o início de uma relação repleta de proximidade estratégica, mas também de embates públicos. Algumas dessas disputas geraram histórias icônicas, como o dia em que Jobs foi até a sala de Gates acusá-lo de ter roubado a ideia da Apple para criar o Windows. Gates, com sua habitual ironia, respondeu com frase de efeito genial que tinha total relação com a relação da Apple e Microsoft com a Xerox.
É possível não gostar de Bill Gates e Steve Jobs, mas não tem como ignorar a contribuição de ambos para o que entendemos hoje como o mercado da computação pessoal e toda a indústria de software. Eles, junto com outros gênios menos midiáticos, como Steve Wozniak, mudaram nossas vidas para sempre!
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