Steam Machine por dentro: a engenharia do cubo de 2,6 kg da Valve; veja as imagens

O retorno da Steam Machine da Valve desafia tudo o que se espera de compactação, potência e engenharia em hardware de jogos doméstico. Debaixo do gabinete minimalista de pouco mais de 6 polegadas cúbicas, a empresa orquestrou um produto que promete entregar performance de PC gamer de elite num formato menor que Xbox Series X, com perfil térmico otimizado para salas fechadas.

Uma caixa térmica: 70% do espaço para refrigeração

O projeto da Steam Machine parte da arquitetura reversa: tudo orbita em torno do módulo térmico, que ocupa impressionantes 70% do volume interno, segundo a Valve. O cooler central, um ventilador de 120mm de diâmetro, foi desenhado para mover grandes volumes de ar em baixa rotação, reduzindo ruído e melhorando eficiência térmica — uma escolha fruto de extensas simulações de dinâmica dos fluidos computacional (CFD).

Um representante da Valve brincou com a Digital Foundry que a equipe dedicou “mais horas de simulação em CFD do que muitas equipes de Fórmula 1” para otimizar o fluxo de ar e a dissipação de calor.

Tubos de calor de cobre inspirados em servidores, dissipadores generosos e um fluxo de ar único servem CPU, GPU, VRM e chipset simultaneamente. Esse design elimina hotspots e mantém o ruído abaixo de 35 dBA sob carga máxima, fundamental para o uso em ambientes fechados típicos de salas de estar.

Placa-mãe customizada extremo, RAM e SSD atualizáveis

Sob o dissipador, a placa-mãe é uma peça customizada de 10 camadas, necessária para interligar a CPU Zen 4 com 16GB de RAM DDR5 e GDDR6 dual-channel para vídeo em altíssima largura de banda. Tanto RAM quanto SSD são tecnicamente acessíveis ao usuário, embora envolver desmontagem quase completa.

De fábrica, a Valve optou por SSDs M.2 2230 devido a questões logísticas e disponibilidade para produção em massa, não por limitação física do slot, porém também acomoda módulos M.2 NVMe 2280 (80 mm), permitindo futuros upgrades com SSDs de maior capacidade ou outras especificações, além do 2230 original.

APU AMD custom com foco em FSR e eficiência

O coração da Steam Machine é um processador projetado em parceria direta entre Valve e AMD, seguindo o conceito de “semi-custom”. Isso significa que, diferente de chips genéricos encontrados em notebooks, o modelo utilizado é baseado em plataformas AMD (Zen 4 e RDNA 3), mas foi redesenhado para demandas térmicas, de potência e conectividade específicas do projeto

• CPU: AMD Zen 4, 6 núcleos e 12 threads, clock até 4,8 GHz, TDP de 30W. Trata-se de uma versão personalizada de chips Phoenix/Hawk Point mobile, ajustada via firmware, alimentação elétrica e refrigeração para se encaixar no ecossistema compacto e silencioso da Steam Machine.

• GPU (semi-custom): RDNA 3 baseada em Navi 33, com 28 compute units ativas (de 32 possíveis), 2,45 GHz sustentado, TDP nominal de 110W e 8 GB de VRAM GDDR6 dedicada; arquitetura ajustada para maximizar eficiência e minimizar hot-spots, otimizando FSR 3 para escalar qualidade de imagem e permitir 4K/60 FPS mesmo em jogos pesados.​

• Memória: 16GB DDR5 SO-DIMM para o sistema e 8GB GDDR6 exclusiva para a GPU, ambas soldadas à placa-mãe e posicionadas próximas ao chip para desempenho e integridade de sinal máximos.

O mais interessante: não é um APU monolítico, mas um arranjo onde a CPU e a GPU são dois dies distintos, integrados em uma placa-mãe de 10 camadas com todo o barramento de comunicação customizado — não há chipset separado, e todos os I/Os relevantes ficam no “pacote” do processador. Isso viabiliza recursos de PC de alto desempenho, como HDMI 2.0 com CEC, suporte completo a ray tracing, e reduz exigências térmicas em espaços compactos.

Fonte interna compacta e conectividade completa

A Steam Machine conta com uma fonte interna CA bivolt (110-240V), eliminando o “tijolo” externo e permitindo alimentação direta por cabo padrão IEC, como um PC desktop de verdade — uma decisão que garante estabilidade energética, segurança, facilidade de transporte e visual limpo para quem deseja integrar o equipamento à estética da sala de estar ou escritório.

Em termos de conectividade, o sistema é surpreendentemente completo para um dispositivo compacto:

• Ethernet Gigabit: Garantindo máxima velocidade e estabilidade para jogos online e downloads pesados.​

• Wi-Fi 6E (2×2 spatial streams) e Bluetooth 5.3: Oferecem conexão de última geração para redes sem fio e periféricos modernos.​

• Frontais: 2x USB-A 3.2 Gen 1, ideais para acessórios e controle, além da faixa LED RGB configurável com 17 zonas, útil para customização e status do sistema.​

• Traseiras: 2x USB-A 2.0, 1x USB-C 3.2 Gen 2 (10Gbps, suporte a dados e carregamento rápido), DisplayPort 1.4 (4K@240Hz, 8K@60Hz, HDR, FreeSync), HDMI 2.0 (4K@120Hz, HDR, CEC), expansibilidade NVMe SSD e slot microSD de alta velocidade

Esse arsenal de portas transforma o cubo da Valve tanto em PC gamer, quanto workstation, centro multimídia 8K, ou até mini-servidor para aplicações domésticas. Usuários podem conectar monitores de altas taxas, placas de captura, docks Thunderbolt/USB-C e múltiplos acessórios simultaneamente — tudo sem limitações comuns de consoles tradicionais.

Testes de ruído e calor: rival à frente de consoles

Testes preliminares indicam que a Steam Machine mantém temperaturas estáveis abaixo de 75°C mesmo rodando Cyberpunk 2077 em 4K com FSR ativado, o que demonstra eficiência térmica impressionante para um hardware compacto e potente.

O ruído gerado dificilmente ultrapassa 35 dBA, mesmo sob carga intensa, graças a um gerenciamento sofisticado da curva do ventilador que evita picos de rotação e mantém o conforto acústico. O fan principal é maior que os encontrados nos consoles Xbox e PlayStation atuais, sendo peça fundamental para a garantia de performance consistente em ambientes fechados típicos de salas de estar.

Decisões de engenharia: foco em confiabilidade, não customização

Diferente da Steam Machine original (2013), o novo modelo é majoritariamente fechado, buscando confiabilidade, menos variação térmica e atualizações de software unificadas via SteamOS. Modificações são possíveis, mas requerem quase desmontagem total — aposta consciente da Valve para garantir experiência idêntica e evitar problemas históricos de customização desenfreada do PC.

Por que a Valve escolheu o formato em cubo?

O cubo de 15 cm pesa cerca de 2,6 kg, em relação a escolha do formato, engenheiros revelaram à Digital Foundry e ao The Verge que o cubo foi literalmente “imposto” pelo fan gigante, e pela exigência de caber em espaços de 15cm, típicos de móveis de sala dos americanos. Aparentemente, a equipe testou mais de 30 protótipos, descartando formatos tradicionais de mini tower, notebook e NUC, até chegar à solução única do cubo. Não à toa, o apelido interno era “Gabecube”, em homenagem a Gabe Newell, fundador da Valve.

A liberdade do PC com experiência de console

Apesar de ter sido concebido para rodar SteamOS 3, a Valve reforça que o Steam Machine é também um PC completo, permitindo instalação de outros sistemas operacionais e programas. Por isso, haverá expansão do programa Steam Verified para garantir compatibilidade consistente de jogos. 

Seu peso, dimensões e engenharia detalhada demonstram um projeto avançado que visa ao equilíbrio perfeito entre potência, silêncio e formato amigável a salas de estar. Além disso, o Steam Controller renovado e o headset VR Steam Frame prometem compor um ecossistema robusto e interativo.

Disponibilidade e perspectivas

Chega globalmente em 2026, com pacotes opcionais incluindo o novo Steam Controller de segunda geração e headset VR Steam Frame.

A Valve projetou o retorno da Steam Machine como um passo estratégico direto no mercado de consoles, mas com alma de PC. Muito mais que uma simples máquina, ela integra o SteamOS a maior biblioteca de jogos do mundo, e um ecossistema completo de acessórios. O recado é claro: Sony  e Microsoft precisam se preparar — ou arriscar perder terreno para este cubo preto quase quadrado de 162 mm, que já virou meme na internet por ser o que eles chamam simplesmente de “uma CAIXA direito”.