Meta nega ter baixado ilegalmente mais de 2 mil vídeos pornográficos para treinar sua IA
Meta nega ter baixado ilegalmente mais de 2 mil vídeos pornográficos para treinar sua IA
A Meta está em meio a uma disputa legal que levanta questões incômodas sobre como empresas de tecnologia obtêm dados para treinar seus modelos de inteligência artificial. A gigante das redes sociais foi acusada pela Strike 3 Holdings — produtora de marcas de conteúdo adulto como Vixen, Tushy, Blacked e Deeper — de ter feito download ilegal de quase 2.400 filmes pornográficos sem autorização.
A acusação não é nova, mas ganhou destaque quando a Strike 3 Holdings e a Counterlife Media protocolaram uma ação judicial em julho deste ano contra a Meta, pedindo indenização de US$ 359 milhões. Segundo o processo, equipamentos de monitoramento BitTorrent da empresa detectaram endereços IP corporativos da Meta baixando sistematicamente seus filmes protegidos por direitos autorais.
O que realmente teria acontecido
A Strike 3 Holdings alega que a Meta utilizou esse conteúdo para treinar uma versão adulta não divulgada do Movie Gen, seu modelo gerador de vídeos. Se comprovado, isso representaria não apenas uma violação de propriedade intelectual, mas também uma contradição com a política interna da empresa, que proíbe explicitamente suas IAs de gerar conteúdo adulto.
A gravidade da acusação aumenta quando se considera a escala: 2.369 vídeos em uma única operação sugerem ação deliberada, não coincidência. As produtoras argumentam que o padrão de downloads foi consistente durante anos — um indicativo de prática sistemática, não de alguns funcionários curiosos.
A defesa da Meta: um argumento frágil?
A Meta apresentou uma estratégia defensiva que levanta mais questões do que resolve. A empresa alega que os downloads teriam começado em 2018, anos antes de iniciar pesquisas em LLMs e geração de vídeos em 2022. Tecnicamente, o argumento faz sentido. Mas deixa aberta uma pergunta incômoda: por que seus servidores estavam baixando conteúdo pornográfico em volume antes disso?
Quanto aos números, a Meta argumenta que uma média de 22 downloads por ano em dezenas de endereços IP é prova de consumo pessoal, não uso corporativo. Esse raciocínio, contudo, não explica por que dezenas de servidores corporativos compartilhavam o mesmo padrão de downloads nem como é possível diferenciar intenção criminosa de atividade pessoal nesse contexto.
A empresa também oferece um argumento quase cômico em sua defesa: a impossibilidade de rastrear quem baixou os vídeos porque “dezenas de milhares de funcionários e terceiros acessam a internet diariamente” em suas instalações. Se verdade, isso apenas reforça a falta de controle da Meta sobre suas próprias operações.
Este caso representa um dilema maior enfrentado pela indústria de IA. Enquanto empresas de tecnologia enfatizam a necessidade de dados abundantes para treinar modelos eficientes, violam sistematicamente direitos autorais e privacidade. A Meta é apenas o mais visível dos muitos que fazem isso.
A acusação também expõe como gigantes tecnológicas frequentemente confiam em estruturas defensivas genéricas — argumento de escala, rastreabilidade impossível, políticas internas que supostamente previnem abusos — para se esquivar de responsabilidade. Ainda não há precedente claro sobre como tribunais lidarão com essas defesas quando confrontadas com evidências técnicas de violação.

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