OpenAI entra na biossegurança: a nova IA contra armas biológicas
OpenAI entra na biossegurança: a nova IA contra armas biológicas
A OpenAI, criadora do ChatGPT, dá um passo significativo para além das fronteiras da inteligência artificial generativa ao investir US$ 30 milhões em um projeto de biossegurança. Em parceria com os fundos de investimento Founders Fund e Lux Capital, a OpenAI está financiando a Valthos, uma startup nova-iorquina que desenvolve sistemas de IA focados na detecção e prevenção de ameaças biológicas.
Operando discretamente até o anúncio recente, a Valthos se posiciona como uma barreira tecnológica contra um dos cenários mais alarmantes da era da inteligência artificial: o uso indevido de IA para criar agentes biológicos sintéticos que poderiam ser utilizados em ataques. A preocupação ganha contornos mais nítidos quando especialistas do Center for AI Safety descrevem a hipótese de um vírus desenvolvido artificialmente combinando características de HIV, sarampo e varíola como um verdadeiro pesadelo para a segurança global.
O sistema desenvolvido pela Valthos funciona coletando dados biológicos de fontes variadas, incluindo redes de monitoramento de ar e águas residuais, tanto de órgãos governamentais quanto de entidades comerciais. Esses dados são processados por modelos avançados de inteligência artificial capazes de identificar padrões anormais que possam indicar ameaças emergentes.

Além da capacidade de detecção, o software da startup também realiza avaliações de risco em tempo real e pode recomendar atualizações em contramedidas médicas existentes quando novas mutações ou padrões de contaminação são identificados. Este sistema de alerta precoce pode ser crucial para conter possíveis ameaças antes que se espalhem.
“A única forma de deter um ataque biológico é saber quando ele está acontecendo, atualizar rapidamente as contramedidas e implantá-las em larga escala”, explica Kathleen McMahon, CEO e cofundadora da Valthos. A executiva traz credibilidade ao projeto graças à sua experiência anterior liderando a divisão de ciências biológicas da Palantir Technologies.
O movimento da OpenAI ocorre em um momento paradoxal para o setor de biotecnologia. Enquanto os dados da PitchBook indicam que o financiamento no setor atingiu seu nível mais baixo em mais de uma década, o avanço acelerado da inteligência artificial tem reacendido o interesse em tecnologias defensivas, particularmente em áreas sensíveis como bioproteção e segurança nacional.
A National Security Commission on Emerging Biotechnology recentemente alertou para a iminência de “um momento ChatGPT para a biotecnologia“, sugerindo que avanços transformadores podem estar próximos. O relatório também levanta preocupações sobre a possibilidade de outros países, notadamente a China, conquistarem a liderança nesse campo estratégico.

Para Jason Kwon, diretor de estratégia da OpenAI, este investimento representa apenas o começo de uma nova frente de atuação da empresa. “Este é nosso primeiro investimento em biossegurança, mas provavelmente não será o último”, afirmou o executivo, destacando que a proteção biológica efetiva depende da colaboração entre empresas privadas, governos e instituições de pesquisa.
Kwon também enfatizou o compromisso da OpenAI com o uso responsável da tecnologia: “Estamos em constante evolução para impedir o uso indevido do ChatGPT. Precisamos de um sistema de tecnologias que se equilibrem mutuamente para torná-lo robusto”.
Apesar do investimento significativo, especialistas na área de biossegurança apontam que startups como a Valthos ainda enfrentam o chamado “vale da morte” do financiamento—um período crítico em que mesmo milhões de dólares podem ser insuficientes para garantir o desenvolvimento de longo prazo que tais tecnologias exigem.
“A questão é se esse montante é suficiente e se conseguiremos implementar essas soluções corretamente”, pondera Daniel Regan, pesquisador do Council on Strategic Risks especializado em biossegurança.
O cenário, no entanto, tem mudado rapidamente. “Antes de 2025, havia apenas murmúrios sobre o tema, mas agora ele está realmente em evidência“, observa Delian Asparouhov, sócio do Founders Fund, um dos coinvestidores no projeto.
Para Brandon Reeves, representante da Lux Capital, a Valthos representa apenas o início de uma nova geração de empresas focadas em defesa biológica. “Estamos nos primeiros estágios. Isso deve ser tratado no mesmo nível de ameaça que o nuclear ou o cibernético“, afirma.
O movimento da OpenAI sinaliza uma tendência crescente entre as gigantes de tecnologia: o reconhecimento de que os mesmos avanços que permitem inovações também podem trazer riscos inéditos, exigindo investimentos em sistemas de proteção adequados para a era da inteligência artificial.
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