 
            O Marshmallow gigante de Ghostbusters: os truques e detalhes por trás de uma das cena mais icônica dos anos 80
A cena do Homem de Marshmallow Stay Puft descendo a Broadway em Ghostbusters (Os Caça-Fantasmas), de 1984, quase não aconteceu. No roteiro original de Dan Aykroyd, a criatura deveria emergir do East River aos 20 minutos de filme, mas o orçamento estimado para essa versão? US$ 300 milhões — em valores de 1984. A solução foi concentrar a aparição do marshmallow gigante no clímax, transformando limitações em genialidade pura.
Diferentemente dos filmes atuais saturados de computação gráfica, Stay Puft é 100% efeitos práticos. O personagem exigiu múltiplas fantasias customizadas, quatro operadores de marionetes, miniaturas em escala forçada e técnicas que desafiavam a própria física da fotografia. Ivan Reitman, diretor vindo do teatro (Murder On Broadway), trouxe conhecimento de truques visuais teatrais que se mostraram essenciais para resolver problemas técnicos impossíveis para a tecnologia da época.
Anatomia de Um Marshmallow
Bill Bryan, o homem por trás — e dentro — do Stay Puft, enfrentou desafios únicos ao construir e interpretar a criatura. Cada fantasia custava entre US$ 25 mil e US$ 30 mil, mas ser barato não era o problema: ser seguro, sim. A espuma utilizada era considerada tóxica, exigindo que Bryan usasse suprimento de ar enquanto vestia o traje.
Havia versões específicas do figurino para cada ângulo de câmera: frontal, traseira, lateral, visão superior e até uma com braços extra-longos e mãos gigantes para criar perspectiva forçada. A cabeça, mãos e pés eram esculpidos — Bryan fez as extremidades, enquanto Linda Frobos criou três cabeças distintas: uma feliz, uma franzindo a testa e outra capaz de expressar surpresa e carranca.
O movimento foi calculado cientificamente: filmado a 72 quadros por segundo, Bryan precisava executar cada passo em velocidade um terço menor que o normal. O problema? Após ver as primeiras filmagens de teste, ele memorizava o resultado em câmera lenta e compensava demais no teste seguinte, resultando em movimentos três vezes mais lentos que o pretendido.
Truques criativos
A equipe liderada pelo supervisor de efeitos visuais Richard Edlund — quatro vezes vencedor do Oscar, que trabalhou em Star Wars, O Império Contra-Ataca, Caçadores da Arca Perdida e Poltergeist — enfrentou um problema técnico curioso: não conseguiam encontrar carros em miniatura na escala adequada para as cenas de Stay Puft. A solução? Compraram cerca de cem modelos de viaturas policiais de um tipo específico e os cortaram para criar diferentes veículos.
Outro truque: quando um carro controlado remotamente bate em um hidrante e jorra água, não é água de verdade — é areia. Segundo Harold Ramis, coautor do roteiro, “água não miniaturiza”. O líquido em escala pequena não se comporta visualmente como água em tamanho real, então areia proporcionava o efeito visual correto.
As miniaturas foram construídas em perspectiva forçada — uma técnica onde objetos mais distantes são proporcionalmente menores que a escala sugere, criando ilusão de profundidade maior. Mark Stetson supervisionou uma equipe de dez modeladores que operavam carros remotos, criavam explosões e adicionavam detalhes ao cenário em miniatura.
Queimando com Segurança
O maior desafio técnico era fazer Stay Puft pegar fogo sem matar o dublê dentro da fantasia. A ideia inicial de Bryan era simular as chamas com aerografia, misturas químicas para criar bolhas e adicionar o fogo opticamente na pós-produção. Richard Edlund, porém, exigiu fogo real.
A construção em camadas salvou a produção: meia polegada de espuma inflamável (que por sorte queimava com a aparência certa) sobre meia polegada da melhor espuma não inflamável do mercado, contendo 42% de aditivos retardantes de fogo. Essa camada protetora era colada em espuma mais rígida e coberta com outro retardante, criando textura semelhante a couro sem bolhas de ar que pudessem permitir absorção pela camada inflamável
Composição em sete tentativas
Uma única cena de Stay Puft descendo a Broadway ilustra a complexidade do trabalho óptico. O supervisor de impressão óptica Mark Vargo precisou de sete tentativas até conseguir o resultado final aceitável. A sequência combinava uma placa de fundo filmada na Broadway real em Nova York (em 65mm), o Stay Puft caminhando em uma rampa contra tela azul, e uma pintura fosca para integrar os elementos.
Cada pessoa correndo em primeiro plano que passava na frente do monstro precisava ser rotoscopada quadro a quadro para criar máscaras que a mantivessem à frente. Um poste de luz no primeiro plano foi removido com pintura fosca porque distraía visualmente. O processo exigiu testes de equilíbrio de cor, testes de difusão (Vargo trabalhava com cinco tipos diferentes de materiais difusores), e controle milimétrico de registro.
Na primeira composição completa, o fundo parecia se mover em relação à pintura — o internegativo havia encolhido durante quatro meses. Na quinta tentativa, as máscaras sujaram. Na sexta, apareceu transparência no joelho de Stay Puft ao passar em frente a um poste de luz — resolvido com um pequeno pedaço de filtro ND 0.20 posicionado durante a passagem da máscara.
Tecnologia de ponta para 1984
A Boss Film Corporation, empresa recém-formada por Edlund após deixar a Industrial Light & Magic, construiu equipamentos únicos para Ghostbusters. Entre eles, a única câmera reflex de espelho rotativo em 65mm do mundo, capaz de filmar até 105 quadros por segundo, projetada por Mike Bolles e Gene Whiteman em quatro meses.

O formato 65mm oferecia área de imagem um terço maior que VistaVision, permitindo que filmagens de efeitos reduzidas para 35mm parecessem até melhores que a fotografia de produção original. Isso criava a situação ideal para trabalho óptico, onde difusão podia ser usada livremente para balancear elementos sendo compostos
Todo o projeto foi concluído em dez meses — da aprovação da Columbia até o lançamento. O filme foi rodado em apenas 55 dias, e a pós-produção foi extremamente rápida: terminaram de filmar em janeiro/fevereiro e o filme estreou em junho de 1984. Edlund estima que 70-80% dos compostos em Ghostbusters são da primeira tomada — índice surpreendente considerando a complexidade técnica.
Creme de barbear como Marshmallow
Para a explosão final do Stay Puft, a equipe de produção preparou 500 galões de creme de barbear por vez. No roteiro, 68 quilos de creme seriam despejados do alto sobre o burocrata da EPA Walter Peck (William Atherton), que achou a quantidade excessiva. A equipe o chamou de covarde.
Atherton então pediu que testassem em um dublê primeiro — o impacto derrubou o homem no chão. Todos concordaram que metade da quantidade seria suficiente. Uma cena cortada do filme final mostrava o chapéu de Stay Puft (estrutura de alumínio reforçado de 5,5 metros) descendo lentamente do céu, sustentado por guindaste — removida por problemas de ritmo narrativo, não por falha técnica.
Legado técnico incomensurável
Os efeitos práticos de Ghostbusters representam um momento de transição no cinema. Poucos anos depois, a transferência de efeitos físicos para computação gráfica aconteceu praticamente da noite para o dia, surpreendendo a maioria dos envolvidos.
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