Intel e AMD enfrentam pressão histórica: ARM e RISC-V ameaçam duopólio x86; entenda

Intel e AMD enfrentam pressão histórica: ARM e RISC-V ameaçam duopólio x86; entenda

Uma aliança sem precedentes entre Intel e AMD completa seu primeiro ano em meio a sinais crescentes de que o domínio absoluto sobre a arquitetura x86 pode estar chegando ao fim. As duas gigantes, que controlam praticamente todo o mercado de processadores para PCs e servidores, formaram o x86 Ecosystem Advisory Group em outubro de 2024 — não por generosidade corporativa, mas por necessidade urgente de sobrevivência.

Chips ARM avançam além dos smartphones

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O grupo nasceu da pressão crescente dos processadores ARM, que dominam dispositivos móveis há anos e agora avançam agressivamente sobre notebooks, desktops e data centers. A Apple provocou o primeiro abalo sísmico ao abandonar chips Intel em 2020, migrando seus Macs para processadores ARM proprietários com ganhos expressivos de desempenho e eficiência energética. Microsoft seguiu o movimento ao lançar PCs Copilot+ baseados em Qualcomm Snapdragon, mostrando que Windows pode prosperar fora do ecossistema x86.

A NVIDIA reforçou a tendência ao apostar nos núcleos Neoverse da ARM em seus processadores Grace para servidores, colocando a arquitetura x86 sob pressão adicional no segmento de alto desempenho. Amazon e Google desenvolvem chips ARM personalizados para seus data centers, reduzindo dependência de Intel e AMD enquanto cortam custos operacionais.​

Mas há outro fator menos visível: fabricantes x86 alternativos como a chinesa Zhaoxin, que herdou licença legítima através da VIA Technologies. A empresa anunciou recentemente processadores de 96 núcleos que rivalizam diretamente com os AMD EPYC em servidores.

Padronização que deveria ter vindo antes

Após décadas de implementações proprietárias que dificultavam portabilidade de software entre suas plataformas, Intel e AMD finalmente concordaram em padronizar recursos críticos. A fragmentação raramente afetava usuários finais, mas desenvolvedores enfrentavam desafios constantes ao otimizar código para recursos exclusivos de uma fabricante.​

Lisa Su, CEO da AMD, declarou que o grupo garantirá que x86 permanece “a plataforma de escolha para criadores de aplicações e clientes”. As declarações foram feitas durante a formação do x86 Ecosystem Advisory Group em outubro de 2024, quando Pat Gelsinger ainda comandava a Intel — ele foi afastado em dezembro de 2024 após queda de 60% no valor das ações. Desde março de 2025, Lip-Bu Tan lidera a companhia com foco em reestruturação agressiva e redução de 24 mil funcionários.

Novidades técnicas unificadas

O x86 Ecosystem Advisory Group anunciou quatro recursos padronizados que estarão presentes em processadores futuros de ambas as marcas:​

AVX10 representa a próxima geração de instruções vetoriais, aumentando throughput em operações matemáticas intensivas enquanto garante compatibilidade entre chips de desktop, workstations e servidores. Intel já implementou AVX10.1 nos Granite Rapids; AMD incorporará nas próximas gerações. A tecnologia resolve problema antigo: AVX-512 permaneceu exclusiva da Intel por anos, chegando à AMD apenas em 2024.​

ACE (Advanced Matrix Extensions) padroniza multiplicação de matrizes, operação fundamental para cargas de trabalho de inteligência artificial. O recurso já funciona nos Sapphire Rapids da Intel e chegará aos futuros processadores AMD.

FRED (Flexible Return and Event Delivery) moderniza o modelo de interrupções do x86, reduzindo latência nas transições entre modo usuário e kernel. A tecnologia acelera milhões de trocas de contexto que ocorrem por segundo durante execução de aplicativos, melhorando desempenho e estabilidade simultânea do sistema operacional.​

ChkTag introduz marcação de memória por hardware para detectar vulnerabilidades como buffer overflow e use-after-free. A tecnologia segue caminho do MTE da ARM, presente em chips da Apple e Ampere, representando reconhecimento tardio de que segurança de memória precisa estar integrada à arquitetura.

Competição além do duopólio tradicional

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Enquanto Intel e AMD colaboram, a Zhaoxin avança com arquitetura Century Avenue baseada em know-how da extinta Centaur Technology. A empresa é joint venture entre VIA e governo de Xangai, combinando licença x86 legítima com forte apoio estatal chinês.​

O KX-7000, chip de consumo da Zhaoxin, possui oito núcleos com suporte AVX2, cache L3 de 32 MB e opera a 3,2 GHz. Para servidores, o KH-50000 marca salto ambicioso: 96 núcleos, 384 MB de cache L3, 12 canais DDR5 ECC e 128 linhas PCIe 5.0. A empresa também lançou o KX-7000N, primeiro CPU chinês x86 com NPU integrada para processamento local de IA.

Licenças x86 são extremamente restritas — Intel geralmente não permite transferência em caso de aquisição corporativa. Além de Intel e AMD, apenas VIA (que sublicenciou para Zhaoxin) e a obscura DM&P possuem direitos legítimos à arquitetura.​

Mercado em transformação acelerada

Robert Hormuth, vice-presidente corporativo da AMD, indicou que novos padrões começarão a aparecer em chips ainda em 2025. A especificação completa do ChkTag deve ser publicada até dezembro, embora implementação em hardware comercial demande anos adicionais.​

O x86 permanece dominante em PCs e data centers há 46 anos, mas o cerco se fecha. ARM controla dispositivos conectados e ganha terreno em servidores através de parceiros como Amazon (Graviton) e Microsoft (Azure Cobalt). A China aposta na Zhaoxin como caminho para independência tecnológica em semicondutores críticos, reduzindo vulnerabilidade a sanções ocidentais.

Analistas do Bank of America projetam desaceleração para AMD em 2025, rebaixando classificação de ações de “Compra” para “Neutra” e reduzindo preço-alvo de US$ 180 para US$ 155. A preocupação central: AMD enfrenta dificuldades para competir efetivamente no mercado de chips para IA, enquanto rivais como Marvell e Broadcom ganham espaço.​

A cooperação tardia entre eternas rivais pode ter chegado atrasada demais. Enquanto padronizam recursos que ARM e outros já oferecem de forma coesa, competidores avançam sem o peso de quatro décadas de compatibilidade retroativa que torna x86 cada vez mais complexo e difícil de otimizar. O RISC-V, arquitetura aberta emergente, surge como terceira força capaz de desafiar tanto x86 quanto ARM no médio prazo.

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