Criador do primeiro navegador detona romantização de startups: “empreendedorismo não deveria ser encorajado”

Criador do primeiro navegador detona romantização de startups: “empreendedorismo não deveria ser encorajado”

Uma fala enfática de Marc Andreessen, criador do primeiro navegador web gráfico e cofundador da Andreessen Horowitz, voltou a viralizar no X, reavivando um debate essencial sobre a realidade brutal de fundar startups. A declaração original foi feita em dezembro de 2024, durante entrevista ao podcast Modern Wisdom com Chris Williamson, quando o bilionário afirmou categoricamente: “não deveríamos encorajar as pessoas a serem empreendedoras”.

O vídeo ressurgiu agora através do perfil @StartupArchive, gerando reflexões renovadas sobre saúde mental, expectativas irreais e a verdadeira natureza de construir empresas do zero. A repercussão em 2025 ganha ainda mais peso diante de novos dados alarmantes sobre saúde mental dos fundadores e taxas de rejeição no ecossistema de venture capital.

 

Andreessen, que literalmente criou a porta de entrada para a internet moderna com o navegador Mosaic em 1993, vai na contramão da romantização desenfreada que dominou a cultura tech nos últimos anos, quando programas de TV e influenciadores transformaram o empreendedorismo numa espécie de sonho vendido a qualquer preço. Sua credencial como pioneiro da revolução digital torna a crítica especialmente contundente.

A brutal matemática da rejeição

Criador do primeiro navegador

Andreessen descreveu o cotidiano de uma startup com precisão cirúrgica: “É tremendamente doloroso. A maior parte da experiência de estar no mundo dos negócios como startup é ouvir ‘não’”. Dados de 2025 confirmam que investidores de capital de risco rejeitam 99% das startups que avaliam. Fundos de primeira linha, que recebem fluxo massivo de propostas, financiam apenas 0,5% a 1% das aplicações.

O fundador precisa constantemente lidar com recusas de todos os lados: funcionários em potencial, clientes, parceiros comerciais e investidores. Andreessen comparou a experiência a “encarar o abismo e comer vidro”, uma metáfora emprestada de Elon Musk que captura perfeitamente a sensação de vulnerabilidade constante combinada com sofrimento autoimputado. A cada dia, 90% das startups enfrentam a perspectiva concreta de extinção.

A epidemia silenciosa de saúde mental

Os números sobre saúde mental entre empreendedores são alarmantes e frequentemente ignorados pela narrativa de sucesso do ecossistema tech. Uma pesquisa de outubro de 2025 revelou que 87,7% dos empreendedores enfrentam pelo menos uma condição de saúde mental, sendo ansiedade (50,2%), estresse elevado (45,8%) e preocupações financeiras (39,2%) as mais prevalentes.

Estudos da Universidade da Califórnia apontam que 72% dos fundadores reportam problemas como ansiedade, burnout ou depressão — mais do que o dobro da taxa da população geral, que fica em 32%. A taxa de depressão entre empreendedores atinge 30%, comparada a 16,6% no restante da população. Transtorno de déficit de atenção (ADHD) afeta 29%, e ansiedade generalizada atinge 27% dos fundadores.

O isolamento agrava o quadro: 27% dos empreendedores lutam contra solidão profunda, com muitos classificando seus níveis de isolamento em 7,6 de 10. Mais da metade relata passar menos tempo com amigos (73%), cônjuges (60%) e filhos (58%). Apenas 23% buscam ajuda de psicólogos ou coaches, principalmente devido ao custo (73%) e falta de tempo (52%).

O filtro das piores notícias

Andreessen explicou por que ser CEO é especialmente angustiante: “Você só gasta tempo em coisas que estão dando errado. Você tem um filtro para os problemas mais terríveis da empresa — os mais perniciosos e dolorosos”. Enquanto outras funções permitem focar em sucessos e conquistas, o líder da startup lida exclusivamente com crises.

Esse ciclo vicioso gera consequências físicas e cognitivas graves. Privação de sono — que afeta 60% dos empreendedores — prejudica o córtex pré-frontal, reduzindo foco em 14% e comprometendo capacidade criativa de resolução de problemas. Funcionários privados de sono levam 14% mais tempo para completar tarefas, e a qualidade das decisões estratégicas despenca após 18 horas acordados.

O estresse crônico aumenta risco de doenças cardiovasculares em 40%, enfraquece o sistema imunológico e eleva probabilidade de diabetes. Nos Estados Unidos, perdas de produtividade relacionadas à má qualidade do sono de trabalhadores somam US$ 136 bilhões anuais.

Coragem e tolerância à dor como diferenciais

Florence empreendedorismo de startup

Para Andreessen, o que separa grandes fundadores de bons fundadores não é inteligência ou energia — é coragem e tolerância à dor. “As pessoas não deveriam ser encorajadas a fazer algo tão doloroso. Elas deveriam fazer porque realmente querem. Na verdade, deveriam fazer porque não conseguem não fazer”.

Ele traçou um paralelo com atletas de ultra resistência: “Seria como encorajar alguém a fazer uma ultramaratona. Por que você iria lá fora e correria 32 quilômetros no calor? Não, isso é ruim. A maioria das pessoas não deveria fazer isso”. Apenas quem possui uma compulsão interna genuína deveria trilhar esse caminho, pois a motivação extrínseca não sustenta o nível de sacrifício exigido

Essa alta tolerância à dor se tornou praticamente um superpoder do fundador — a habilidade de “ser golpeado repetidamente enquanto finge que está tudo bem”. Em 2025, isso é reconhecido abertamente como requisito fundamental, não como defeito ou sinal de masoquismo profissional.

A necessidade de desmistificar o glamour

Andreessen criticou diretamente a romantização midiática: “Houve épocas em que a ideia de ser um empreendedor tech foi romantizada como conceito. Costumava haver programas de TV falando sobre como era divertido”. Essa narrativa distorcida criou expectativas completamente desconectadas da realidade brutal do dia a dia.

A verdade estatística é implacável: aproximadamente 90% das startups falham, e apenas 13% conseguem sucesso duradouro até 2025. Cerca de 50% fecham as portas nos primeiros cinco anos. No segmento de micro SaaS, a taxa de mortalidade chega a 92% em 18 meses. Esses números não refletem falta de esforço ou competência — são simplesmente a natureza darwiniana do mercado;

O paradoxo da abundância prometida pela IA

Ironicamente, enquanto alerta sobre a dor do empreendedorismo, Andreessen também publicou previsões otimistas sobre o futuro moldado por inteligência artificial este mês. Em entrevista ao podcast Cheeky Pint da Stripe, ele argumentou que mesmo que a IA destrua empregos massivamente, o resultado seria “hiperdeflação de preços” — onde produtos que custam US$ 100 cairiam para US$ 0,01 devido à oferta excessiva gerada pela produtividade exponencial.

Leave A Comment

You must be logged in to post a comment.

Back to Top