China redefine o futuro com plano de 5 anos focado em IA e semicondutores
China redefine o futuro com plano de 5 anos focado em IA e semicondutores
A China divulgou oficialmente seu novo plano de 5 anos que vai ditar as diretrizes econômicas do país entre 2026 e 2030, com ênfase expressiva no desenvolvimento de tecnologias estratégicas como inteligência artificial e semicondutores, informa a Bloomberg. O documento, resultado de uma reunião de quatro dias do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, revela a determinação do gigante asiático em alcançar autonomia tecnológica e reduzir sua vulnerabilidade às pressões externas.
Diferente de ciclos anteriores, o plano quinquenal chinês estabelece como prioridade máxima “aumentar amplamente a capacidade de autossuficiência e força em ciência e tecnologia”, direcionando investimentos para áreas consideradas essenciais para o futuro tecnológico do país. Além de semicondutores e IA, o documento aponta para o desenvolvimento acelerado de setores como aviação, transporte e internet.
A iniciativa surge em um cenário de crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos e seus aliados, que têm imposto severas restrições à exportação de tecnologias avançadas para o território chinês. A resposta de Pequim vem na forma de um ambicioso programa de desenvolvimento doméstico, visando transformar o país em uma potência autônoma em inovação.

Segundo o comunicado oficial, o governo pretende manter a participação da manufatura em um nível “razoável” dentro da economia, equilibrando o crescimento industrial com estímulos ao mercado interno. A estratégia dá continuidade à política de “dupla circulação” iniciada em 2020, que prioriza o desenvolvimento do mercado doméstico sem abandonar completamente o comércio exterior.
Especialistas da Bloomberg indicam que o plano de 5 anos da China será detalhado em março de 2026, mas já sinaliza uma postura mais pragmática, com menos ênfase no termo “segurança” em comparação com o ciclo anterior (15 menções contra 22 na versão passada).
A leitura é uma aposta renovada em um modelo de crescimento com a manufatura avançada como espinha dorsal. O país continuará a depender da demanda externa, enquanto a interna deve permanecer moderada
Duncan Wrigley, economista-chefe para a China na Pantheon Macroeconomics
Independência tecnológica como prioridade nacional
O desenvolvimento de chips avançados e sistemas de IA generativa recebe destaque especial no plano estratégico chinês, refletindo a determinação do país em superar as barreiras impostas pelas restrições ocidentais. A meta declarada é criar uma base tecnológica robusta e independente, capaz de resistir a sanções e bloqueios comerciais.
A estratégia para semicondutores vem sendo implementada há anos, mas ganha novo impulso no atual ciclo. Com empresas como a SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corporation) desenvolvendo processos de fabricação cada vez mais sofisticados, o país busca diminuir a distância tecnológica que o separa de líderes como Taiwan e Coreia do Sul.
No campo da inteligência artificial, empresas chinesas como Baidu, Alibaba e SenseTime têm intensificado seus investimentos em modelos proprietários, após restrições ao acesso a chips avançados da NVIDIA e outras tecnologias ocidentais. O governo demonstra disposição para financiar pesquisas e criar ambientes regulatórios favoráveis ao desenvolvimento desses sistemas.
Além disso, Pequim pretende eliminar gargalos regionais que dificultam a criação de um mercado nacional unificado, incentivando a mobilidade de bens, talentos e capitais entre as províncias. A ênfase em “novas forças produtivas de qualidade” aparece repetidamente no comunicado como motor central do crescimento futuro.
Consumo interno como pilar do crescimento sustentável
Um dos principais desafios identificados no plano é a necessidade de impulsionar o consumo doméstico, que atualmente representa cerca de 40% do PIB chinês — proporção considerada baixa em comparação com outras grandes economias. Para alcançar esse objetivo, o governo pretende ampliar o sistema de seguridade social, melhorar o acesso a serviços públicos e estabilizar o setor imobiliário, que vem enfrentando uma prolongada crise nos últimos anos.
Contudo, o documento mantém um tom cauteloso sobre novos gastos públicos. “O governo agirá dentro dos meios disponíveis para fortalecer programas básicos de bem-estar”, afirma o comunicado, sinalizando restrições fiscais e uma priorização de investimentos produtivos sobre medidas de estímulo direto ao consumo.

Analistas econômicos projetam que a China buscará um crescimento médio anual de 4,5% durante a vigência do novo plano, taxa inferior aos 5,5% registrados no ciclo anterior. Essa moderação reflete tanto os desafios estruturais da economia chinesa — como o envelhecimento populacional e o alto endividamento — quanto a nova ênfase em qualidade e sustentabilidade do desenvolvimento.
Para Michelle Lam, economista-chefe do Société Générale para a Grande China, o principal desafio será transformar as ambiciosas diretrizes em resultados concretos:
“O que realmente importa é a força com que os formuladores de políticas executarão essas metas. O discurso sugere prudência fiscal, mas também uma tentativa de fortalecer a rede de proteção social, afirmou Michelle Lam, economista-chefe do Société Générale.
A estratégia de longo prazo da China evidencia a determinação do governo de Xi Jinping em posicionar o país como um centro global de inovação industrial até 2030, respondendo diretamente às políticas de “desacoplamento estratégico” promovidas pelos Estados Unidos. Para Pequim, o caminho da próxima década será o de independência tecnológica e fortalecimento interno, consolidando a transição do país de “fábrica do mundo” para potência tecnológica autônoma.
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