Adeus, Windows 10: curiosidades e momentos marcantes de uma década de sistema operacional

Adeus, Windows 10: curiosidades e momentos marcantes de uma década de sistema operacional

Lançado em 2015 e cercado de expectativas, o Windows 10 encerrou ontem (14) seu ciclo de atualizações gratuitas e marca seu lugar na história da Microsoft e dos computadores. Mais do que estatísticas e versões, o sistema deixa pra trás uma coleção de fatos curiosos Hora de relembrar algumas curiosidades que talvez você tenha esquecido sobre a trajetória desse SO.

O Windows que prometeu ser o último

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Em maio de 2015, Jerry Nixon, desenvolvedor da Microsoft, declarou em conferência que o Windows 10 seria “a última versão do Windows”. A frase repercutiu e ganhou status oficial na estratégia da empresa: em vez de lançar um Windows 11, 12 ou 13, a Microsoft apostaria em atualizações contínuas e melhorias constantes.

O plano era claro: tratar o Windows como serviço vivo, recebendo grandes pacotes de recursos a cada seis meses — as chamadas feature updates. Esse conceito de “Windows as a Service” influenciou profundamente a indústria de software. Programas como Adobe Creative Cloud, Office 365 e diversos games passaram a adotar modelo semelhante, com atualizações constantes substituindo versões anuais pagas.

Mas em 2021, a promessa foi quebrada. A Microsoft anunciou o Windows 11, justificando que mudanças estruturais de interface, segurança e requisitos de hardware justificavam uma nova numeração. 

A pressão pelo retorno do menu iniciar

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O Windows 8, lançado em 2012, tentou revolucionar a interface apostando em tela cheia de blocos coloridos, os live tiles, eliminando o tradicional menu iniciar que existia desde o Windows 95. A decisão gerou revolta generalizada. Usuários e empresas reclamaram publicamente, sites de tecnologia criticaram duramente, e muita gente simplesmente voltou para o Windows 7.

A Microsoft tentou contornar o problema com o Windows 8.1, trazendo de volta um botão que levava à tela inicial de blocos — mas não era o menu clássico que todos queriam. A insatisfação continuou, e as vendas do sistema nunca decolaram.

Quando o Windows 10 foi anunciado, o retorno do menu foi apresentado como grande trunfo. Terry Myerson, vice-presidente executivo da divisão de sistemas operacionais, admitiu publicamente que a empresa tinha ouvido o feedback dos usuários. O novo menu mesclava a estrutura clássica à esquerda — com lista de programas e opções de energia — e os mosaicos dinâmicos do Windows 8 à direita, que mostravam informações em tempo real.

Curiosamente, o menu iniciar do Windows 10 acabou se tornando um dos elementos mais estáveis do sistema, permanecendo praticamente inalterado por vários anos até a chegada do Windows 11, que novamente redesenhou completamente a interface — desta vez com o menu centralizado na tela.

Cortana antes da febre dos assistentes

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Quando o Windows 10 chegou, a Cortana vinha integrada direto na barra de tarefas com a promessa de ser “sua assistente pessoal verdadeiramente inteligente”. O nome, inspirado na personagem de inteligência artificial da franquia de games Halo, já indicava as ambições da Microsoft.

Lançada originalmente nos smartphones Windows Phone em 2014, a Cortana migrou para o PC como grande aposta da empresa para competir com Siri, da Apple. A diferença é que enquanto a Siri ficava restrita aos dispositivos móveis, a Cortana estava em computadores desktop — território onde a Microsoft dominava.

A Cortana tinha recursos curiosos para a época. Ela aprendia hábitos do usuário, sugeria rotas para o trabalho baseadas no trânsito em tempo real, e até conseguia rastrear encomendas automaticamente lendo e-mails. Havia também o Caderno da Cortana, onde era possível configurar preferências, interesses e permitir ou bloquear acesso a determinadas informações.

Mas a assistente nunca decolou de verdade. Problemas de precisão no reconhecimento de voz em português, respostas limitadas e falta de integração com serviços de terceiros frustravam usuários. Enquanto isso, Amazon Alexa e Google Assistente ganhavam mercado rapidamente com alto-falantes inteligentes e ecossistemas mais abertos.

Em 2019, a Microsoft começou a recuar. A Cortana foi separada da busca do Windows, perdeu destaque na interface e teve funções removidas. Em 2023, a empresa anunciou oficialmente a descontinuação da assistente em dispositivos Windows, redirecionando esforços para o Copilot, ferramenta baseada em inteligência artificial generativa integrada ao Windows 11.

Paint 3D: a repaginada do clássico

O Paint é um dos programas mais icônicos da história do Windows. Desde 1985, acompanha o sistema como ferramenta simples para desenhar, editar imagens e criar memes. Em 2017, com a Creators Update do Windows 10, a Microsoft decidiu dar um salto ambicioso: lançou o Paint 3D.

A proposta era democratizar a criação tridimensional. Qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento técnico, poderia criar objetos 3D do zero ou importar modelos prontos de uma biblioteca online chamada Remix 3D. Era possível desenhar formas básicas como cubos e esferas, adicionar texturas, iluminação e até inserir elementos 3D em fotos comuns — colocando um dinossauro virtual na sala de casa, por exemplo.

O Paint 3D também permitia visualizar criações em realidade aumentada através de dispositivos compatíveis, como os headsets Windows Mixed Reality que a Microsoft tentava popularizar na época. A ideia era posicionar seus modelos 3D em ambientes reais e interagir com eles.

A Microsoft promoveu o Paint 3D como ferramenta educacional e criativa, ideal para estudantes aprenderem conceitos de modelagem sem precisar dominar softwares complexos como Blender ou 3ds Max. Algumas escolas adotaram o programa em aulas de design e tecnologia, e houve até concursos de criação 3D promovidos pela empresa.

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Mas, na prática, pouquíssimas pessoas usaram o Paint 3D regularmente. A interface era confusa para iniciantes, os recursos eram limitados demais para profissionais, e faltava um propósito claro: para que criar objetos 3D se não havia um ecossistema robusto onde usá-los? A biblioteca Remix 3D nunca alcançou massa crítica de conteúdo, e os headsets de realidade mista não se popularizaram.

Em 2021, a Microsoft anunciou discretamente que o Paint 3D não viria mais pré-instalado no Windows 11, ficando disponível apenas para download opcional na Microsoft Store. O Paint clássico, que muitos achavam que seria substituído, continuou firme e forte — inclusive ganhando atualizações com ferramentas modernas como remoção de fundo por IA e suporte a camadas.

Edge, o navegador “do zero”

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Quando o Windows 10 foi lançado, uma das mudanças mais simbólicas foi a aposentadoria do Internet Explorer como navegador padrão. Depois de duas décadas dominando o mercado — e sendo alvo de incontáveis piadas sobre lentidão e falhas de segurança — o IE foi substituído pelo Microsoft Edge, um navegador criado completamente do zero.

O Edge original usava o motor EdgeHTML, desenvolvido pela própria Microsoft para ser mais rápido, mais seguro e consumir menos bateria que a concorrência. A interface era minimalista, sem barulho visual, e trazia novidades como anotações em páginas web usando caneta digital, modo de leitura que eliminava distrações, e integração nativa com a Cortana.

Mas o Edge não conquistou usuários. Mesmo vindo pré-instalado no Windows 10, a maioria das pessoas continuava baixando Chrome ou Firefox assim que configurava o computador. Desenvolvedores reclamavam que precisavam adaptar sites para funcionar corretamente no EdgeHTML, criando trabalho extra. A falta de extensões robustas também afastava quem dependia de add-ons para produtividade.

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Em dezembro de 2018, a Microsoft tomou uma decisão drástica: abandonar o EdgeHTML e reconstruir o Edge usando Chromium, o mesmo código-fonte aberto que alimenta o Google Chrome. Foi uma admissão pública de derrota — e também uma jogada pragmática.

O novo Edge, lançado em janeiro de 2020, manteve a identidade visual da Microsoft mas ganhou compatibilidade total com extensões do Chrome e melhor suporte a padrões web. Trouxe recursos exclusivos como Coleções (para organizar pesquisas e conteúdos), modo de economia de memória agressivo, e posteriormente integração com Copilot e ferramentas de IA.

A estratégia funcionou. O Edge baseado em Chromium cresceu consistentemente em participação de mercado, ultrapassando o Safari e se tornando o segundo navegador mais usado no mundo, atrás apenas do Chrome. Empresas passaram a adotá-lo oficialmente, aproveitando recursos corporativos como sincronização com Microsoft 365 e controles de segurança avançados.

O misto de rivalidade e colaboração com o Linux

Durante décadas, Microsoft e Linux representaram mundos opostos. De um lado, o gigante corporativo do software proprietário. Do outro, o movimento de código aberto liderado por comunidades de desenvolvedores. Steve Ballmer, ex-CEO da Microsoft, chegou a chamar o Linux de “câncer” em 2001, numa declaração que simbolizava a hostilidade entre os ecossistemas.

O dia em que usuários de Linux protestaram contra a Microsoft para pedir reembolso do Windows

Por isso, o anúncio feito na conferência Build de 2016 pegou todo mundo de surpresa. A Microsoft revelou o WSL (Windows Subsystem for Linux), uma camada de compatibilidade que permitia rodar distribuições Linux completas diretamente dentro do Windows 10, sem máquina virtual ou dual boot. Era possível abrir um terminal Ubuntu, Debian ou openSUSE e executar comandos, scripts e ferramentas Linux nativamente.

A reação inicial foi de descrença. Desenvolvedores acharam que seria limitado, cheio de bugs ou apenas um truque de marketing. Mas o WSL funcionava de verdade. Dava para usar ferramentas de linha de comando, instalar pacotes com apt-get, rodar servidores web locais e até compilar código — tudo dentro do Windows, sem precisar reiniciar ou configurar partições complexas.

A explicação para a mudança de postura era pragmática. A Microsoft percebeu que desenvolvedores modernos, especialmente os que trabalhavam com web, cloud e DevOps, dependiam fortemente de ferramentas Unix/Linux. Muitos usavam MacOS justamente porque oferecia um terminal Unix nativo. Ao trazer o Linux para dentro do Windows, a empresa tornava seu sistema mais atraente para esse público técnico.

Em 2019 chegou o WSL 2, uma evolução significativa. Em vez de traduzir chamadas do sistema Linux para Windows, a nova versão rodava um kernel Linux real através de virtualização leve e otimizada. O desempenho melhorou drasticamente, a compatibilidade ficou quase perfeita, e até recursos avançados como Docker passaram a funcionar sem gambiarras.

A Microsoft foi além. Passou a contratar desenvolvedores de projetos open source, contribuir ativamente para o kernel Linux, e até lançou o Visual Studio Code — um dos editores de código mais populares do mundo — como software gratuito e de código aberto. Em 2018, comprou o GitHub, maior plataforma de hospedagem de código aberto, e manteve sua independência e filosofia.

Claro, nem tudo são flores. Críticos apontam que a estratégia da Microsoft é atrair desenvolvedores Linux para dentro do ecossistema Windows, eventualmente criando dependência de ferramentas e serviços da empresa. O conceito de “abraçar, estender e extinguir” ainda ecoa em discussões sobre as reais intenções da gigante.

O mistério do Windows 9 que nunca existiu

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Uma das maiores curiosidades sobre o Windows 10 começa antes mesmo do seu lançamento: por que a Microsoft pulou do Windows 8 direto para o 10? O Windows 9 simplesmente nunca existiu, e até hoje a empresa nunca deu uma explicação oficial para isso.

A teoria mais aceita envolve um problema técnico bem peculiar. Muitos programas antigos verificavam a versão do sistema operacional procurando pela string “Windows 9” no código — referência ao Windows 95 e Windows 98, os famosos “Windows 9x”. Se a Microsoft lançasse um Windows 9, esses softwares legados poderiam confundir o sistema novo com versões de 20 anos atrás, causando erros de compatibilidade.

Um suposto desenvolvedor da Microsoft confirmou isso no Reddit, afirmando que “testes iniciais revelaram que muitos produtos de terceiros tinham códigos deste tipo” e que pular para o 10 foi “uma solução pragmática para evitar problemas”.

Mas há outras teorias. Do ponto de vista de marketing, o nome Windows 10 simbolizava uma ruptura completa com o fracassado Windows 8, representando um recomeço para a plataforma. Internamente, a empresa também considerou nomes como “Windows One” e “Windows X” antes de decidir pelo 10.

Existe ainda uma explicação cultural: o número 9 é considerado de azar no Japão, onde sua pronúncia se assemelha à palavra para “sofrimento”. Na Alemanha, “nine” soa como “nein” — “não” em alemão. Coincidentemente, a Apple também pulou o iPhone 9, indo direto do iPhone 8 para o iPhone X em 2017.

O curioso é que internamente a Microsoft chegou a usar “Windows 9” durante o desenvolvimento, mas o nome nunca foi oficializado.

O fim do suporte

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O Windows 10 encerrou oficialmente seu ciclo de vida. A partir de agora, nenhuma atualização de segurança, correção de bugs ou suporte técnico será oferecido pela Microsoft. Os computadores continuarão funcionando normalmente, mas ficarão cada vez mais vulneráveis a vírus, malware e falhas de segurança que não serão mais corrigidas.

O impacto é gigantesco: aproximadamente 650 milhões de dispositivos em todo o mundo ainda rodam o Windows 10, incluindo cerca de 13 milhões de computadores corporativos apenas no Brasil. Entre gamers, a plataforma Steam indica que um terço dos jogadores ainda usa o sistema, enquanto fora do universo dos games a porcentagem ultrapassa os 40%.

Para quem não pode ou não quer migrar, a Microsoft criou o programa ESU (Extended Security Updates), que garante mais um ano de atualizações de segurança até outubro de 2026. O serviço custa US$ 30 por dispositivo (cerca de R$ 165), mas há uma opção gratuita: usuários que ativarem o backup de configurações na nuvem através de uma conta Microsoft vinculada recebem o ano adicional sem custos.

Instituições de ensino também têm acesso gratuito ao ESU, com ativação feita por administradores de TI via Microsoft Intune. Empresas podem solicitar o período gratuito através do portal Microsoft 365 Admin, ganhando tempo para planejar a transição de seus equipamentos.

Na Europa, a história tem um desfecho diferente. Após meses de pressão da Euroconsumers — grupo que representa organizações de defesa do consumidor em diversos países europeus — a Microsoft cedeu e liberou o programa ESU gratuitamente para todos os usuários do Espaço Econômico Europeu, sem exigir backup na nuvem, resgate de pontos ou pagamento.

A mudança aconteceu em setembro de 2025, menos de um mês antes do fim oficial do suporte. A Euroconsumers vinha contestando desde junho a política da Microsoft com base na Lei de Mercados Digitais (DMA), norma da União Europeia que busca limitar abusos de grandes empresas de tecnologia.

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