A empresa do Oregon que ninguém lembra, mas que criou o primeiro SSD

A empresa do Oregon que ninguém lembra, mas que criou o primeiro SSD

Em 1982, enquanto a maioria dos usuários de computador lutava contra disquetes lentos e drives de fita magnética barulhentos, uma pequena empresa no Oregon estava prestes a revolucionar o mercado de armazenamento. A SemiDisk Systems lançou o primeiro SSD comercial para PCs baseados em processadores Intel — um cartão de memória RAM que custava quase US$ 2 mil e oferecia míseros 512 kilobytes de capacidade.

Parece absurdo pelos padrões atuais, mas aquele dispositivo representou um salto tecnológico gigantesco para a época. Enquanto disquetes de 5,25 polegadas levavam vários segundos para carregar programas, o SSD da SemiDisk entregava taxas de 500 KB/s — uma velocidade considerada “muito rápida” nos primeiros anos da década de 1980.

A origem: um protótipo construído na Intel

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A história começa em outubro de 1980, quando Jim Bell trabalhava para a Intel em Aloha, Oregon. Bell não estava satisfeito com a lentidão dos sistemas de armazenamento disponíveis e decidiu construir algo melhor com as próprias mãos.

O protótipo foi montado em uma placa wirewrap usando chips DRAM 2118 de 5 volts e 16 kilobits. O engenheiro instalou 32 soquetes na placa e empilhou os chips em camadas de 8 unidades de altura.

Aquela placa rudimentar funcionou. E dois anos depois, Bell fundou a SemiDisk Systems em Beaverton, Oregon, para comercializar sua invenção.

O lançamento: velocidade a qualquer custo

Os primeiros SSDs da SemiDisk chegaram ao mercado em formato de cartão S-100, um padrão de barramento amplamente usado em computadores baseados em processadores Z80 de 8 bits. A capacidade inicial era de 512 KB, construída com chips DRAM de 64 Kb, e o preço de lançamento era de US$ 1.995 — o equivalente a cerca de US$ 6.600 em valores atualizados para 2025.

O design era peculiar. Bell literalmente saturou a placa com soquetes de memória posicionados o mais próximo possível uns dos outros — uma densidade de componentes impressionante para os padrões da época. Para gerenciar a estabilidade elétrica, a empresa usou capacitores de desacoplamento tipo “dipguard”, uma solução criativa para uma época em que componentes eletrônicos ocupavam muito mais espaço físico.

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Mas o verdadeiro diferencial estava na modularidade. A SemiDisk oferecia expansão até 8 megabytes por computador usando apenas dois slots de barramento — algo revolucionário para a época. O sistema era pensado para crescer conforme a necessidade do usuário, permitindo começar com 512 KB e expandir gradualmente até 2 MB por placa. O anúncio da empresa deixava claro: “Você pode começar com apenas 512 KB e depois expandir para 2 megabytes por placa”.

A interface era proprietária, o que significava que o SSD só funcionava com sistemas específicos. Mas para quem podia pagar, a diferença era brutal. Programas que levavam 30 segundos para carregar de um disquete eram executados quase instantaneamente

Expansão e adaptação a novos computadores

A SemiDisk não parou nos computadores S-100. Logo após o lançamento inicial, a empresa desenvolveu cartões compatíveis com TRS-80 Model II, 12 e 16, IBM PC (incluindo XT e AT), e Epson QX-10 — todos sistemas populares no início dos anos 1980. A tabela de preços da empresa mostrava a abrangência do catálogo: o modelo para S-100 custava US$ 695 (512 KB) ou US$ 1.395 (2 MB), enquanto versões para IBM PC variavam entre US$ 695 e US$ 1.795.

Um detalhe crucial diferenciava a SemiDisk da concorrência: backup de bateria. Por US$ 150 adicionais, o usuário podia garantir entre 5 e 10 horas de proteção de dados durante quedas de energia — algo que nenhum competidor oferecia na época. “Ninguém oferece essa funcionalidade importante“, destacava o anúncio da empresa. Como os SSDs usavam memória DRAM (volátil), esse recurso era essencial para evitar perda de dados.

Quando chips DRAM de 256 Kb se tornaram disponíveis no mercado, a capacidade dos SSDs saltou para 2 megabytes. Para contexto, um disquete de dupla densidade da época armazenava entre 360 KB e 1,2 MB. Ter 2 MB de armazenamento ultrarrápido era como ter um superpoder computacional.

A limitação técnica estava no barramento, não no SSD em si. A velocidade de transferência de dados era restrita pela função de transferência em bloco do processador Z-80, que usava instruções INIR e OTIR. Mesmo assim, os 500 KB/s representavam uma velocidade 10 a 20 vezes superior aos disquetes da época.

Quem comprava SSDs nos anos 1980?

Ao contrário do que se poderia imaginar, o mercado inicial não era dominado por instituições científicas. “Eram principalmente consumidores e empresas que compravam”, explicou Bell. A principal razão de compra era sempre a velocidade — nada mais importava tanto quanto eliminar o tempo de espera.

Profissionais que trabalhavam com planilhas eletrônicas, processamento de texto e programação eram os principais interessados. Para esses usuários, cada segundo economizado representava ganho de produtividade real. O investimento de US$ 2 mil se pagava rapidamente para quem usava o computador como ferramenta de trabalho diária.

O legado esquecido da SemiDisk

A SemiDisk Systems nunca se tornou um nome conhecido do grande público. A empresa operou durante os anos 1980 atendendo nichos específicos, mas foi essencial para provar que armazenamento em estado sólido era viável comercialmente.

Décadas depois, quando SSDs baseados em memória flash NAND começaram a surgir nos anos 2000, a indústria estava apenas redescobrindo princípios que Jim Bell havia explorado nos anos 1980: eliminar partes móveis, usar memória eletrônica rápida e priorizar velocidade acima de capacidade.

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