Rua 25 de Março vira alvo dos EUA: Trump diz que Brasil falha no combate à pirataria; entenda
Rua 25 de Março vira alvo dos EUA: Trump diz que Brasil falha no combate à pirataria; entenda
O governo dos Estados Unidos, sob liderança de Donald Trump, colocou o Brasil na mira de uma investigação comercial que pode resultar em tarifas punitivas de até 50%. O motivo? Práticas consideradas desleais — entre elas, o suposto descaso com a pirataria e a proteção da propriedade intelectual.
Na lista de críticas, um nome chama atenção: a Rua 25 de Março, em São Paulo, um dos centros comerciais mais famosos do país. Segundo o relatório da Representação Comercial dos EUA (USTR), o Brasil tem falhado em conter a venda de produtos falsificados, consoles desbloqueados e dispositivos de streaming ilegais — um cenário que, para Washington, prejudica empresas americanas e distorce a concorrência.
Pirataria como argumento político-econômico
Embora o termo “piracy” não apareça de forma explícita na nota oficial da USTR, a referência à “proteção da propriedade intelectual” deixa claro o foco. E esse foco inclui justamente a pirataria, considerada um problema estrutural em países que comercializam, com pouca fiscalização, cópias de software, eletrônicos e serviços de mídia.
Para o governo dos EUA, essa permissividade tem efeito direto sobre negócios legítimos — em especial, aqueles ligados à indústria de tecnologia, entretenimento e semicondutores. A nova ofensiva de Trump parece menos sobre moralidade e mais sobre influência geopolítica: controlar fluxos de comércio, proteger empresas americanas e sinalizar firmeza às Big Techs, que têm pressionado Washington por medidas contra países que, segundo elas, operam “com dois pesos e duas medidas”
Rua 25 de Março: o que acontece lá?
Citada nominalmente no relatório da USTR, a Rua 25 de Março foi apontada como uma das principais barreiras à adoção de meios legítimos de distribuição de conteúdo. Segundo o documento, “a falha em abordar eficazmente a pirataria de conteúdo protegido por direitos autorais continua sendo uma barreira significativa”, referindo-se diretamente à região.
Localizada no centro de São Paulo, a 25 de Março é um dos maiores centros de comércio popular da América Latina — e há anos aparece em relatórios internacionais como um dos principais mercados físicos de pirataria no mundo. Um levantamento de 2024 do governo dos EUA classificou a região como “mercado notório” para produtos falsificados e clonados, incluindo acessórios eletrônicos, consoles desbloqueados e dispositivos IPTV ilegais.
Essa área comercial abriga sete centros classificados como críticos: Shopping 25 de Março, Galeria Pagé, Santa Ifigênia, Shopping Tupan, Shopping Korai, Feira da Madrugada e Nova Feira da Madrugada. A influência desse ecossistema informal é tamanha que se estende até os setores de tecnologia e consumo digital — exatamente os alvos das críticas da investigação norte-americana.
Outro fator de peso é a atuação do Grupo Bitong, uma ramificação da Máfia Chinesa, envolvida com extorsão e controle territorial sobre comerciantes da região. A organização foi desmantelada após a prisão de seu líder, Liu Bitong, em 2024, mas o histórico de coerção e mercado paralelo ainda paira sobre a área.
E o Pix no meio disso?
Outro ponto inusitado do relatório é o Pix. O sistema de pagamentos instantâneos, criado pelo Banco Central do Brasil, aparece como um “exemplo de favorecimento estatal que dificulta a entrada de alternativas americanas”. A crítica não é nova, fintechs estrangeiras já reclamaram do domínio do Pix no país —, mas agora ela ganha peso diplomático.
Na prática, a USTR insinua que o Pix seria uma forma de distorcer o mercado interno em favor de soluções locais, o que vai contra os princípios de “livre comércio” defendidos por Washington. Para os críticos da investigação, esse argumento beira o absurdo — afinal, o Pix não é uma empresa, mas uma infraestrutura pública.
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