Proibição de IA ‘woke’ nos EUA: o que muda para Google, OpenAI e xAI?

O presidente americano Donald Trump assinou uma ordem executiva proibindo o uso de sistemas de IA considerados “woke” em contratos federais, medida que pode transformar radicalmente o cenário de desenvolvimento de inteligência artificial nos Estados Unidos. A diretriz exige que empresas fornecedoras de tecnologia para o governo americano garantam que seus modelos sejam “ideologicamente neutros”, criando potenciais obstáculos para gigantes como Google, OpenAI e Anthropic.

Assinada na quarta-feira (23), a ordem executiva classifica ideologias ligadas à diversidade, equidade e inclusão (DEI) como “destrutivas” e capazes de “distorcer a qualidade e precisão dos resultados” dos sistemas de inteligência artificial. O documento faz menções específicas a questões como teoria crítica de raça, transgenerismo e interseccionalidade como elementos que devem ser eliminados das IAs contratadas pelo governo federal.

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“De uma vez por todas, estamos eliminando o woke”, declarou Trump durante um evento de IA organizado pelo podcast All-In. “Estou assinando uma ordem proibindo o governo federal de adquirir tecnologia de IA que tenha sido infundida com viés partidário ou agendas ideológicas, como a teoria crítica de raça, que é ridícula. A partir de agora, o governo dos EUA lidará apenas com IA que busque a verdade, justiça e estrita imparcialidade.”

A medida surge no mesmo dia em que a Casa Branca publicou o “Plano de Ação para IA” de Trump, que reorienta as prioridades nacionais, afastando-se da preocupação com riscos sociais para focar na construção de infraestrutura, redução de burocracia para empresas de tecnologia e competição com a China.

Especialistas apontam que a ordem pode pressionar desenvolvedores a alinharem seus modelos com a visão da Casa Branca para garantir contratos federais lucrativos. Philip Seargeant, professor de linguística aplicada da Open University, contestou a premissa básica da ordem: “Um dos princípios fundamentais da sociolinguística é que a linguagem nunca é neutra. A ideia de que você pode obter objetividade pura é uma fantasia.”

Impacto nas gigantes da tecnologia

A ordem executiva chega apenas uma semana depois de OpenAI, Anthropic, Google e xAI assinarem contratos com o Departamento de Defesa americano, com valor potencial de até $200 milhões cada para desenvolverem sistemas de IA voltados para segurança nacional. Agora, essas empresas podem precisar ajustar seus modelos para se adequarem às novas exigências governamentais.

Entre as empresas afetadas, a xAI de Elon Musk parece estar em posição privilegiada. Musk tem posicionado seu chatbot Grok como “anti-woke” e “menos enviesado”, com instruções para evitar autoridades e mídia mainstream, buscar informações politicamente incorretas e até consultar as próprias opiniões de Musk em tópicos controversos. A empresa já anunciou que seu “Grok para Governo” foi adicionado ao catálogo da Administração de Serviços Gerais, permitindo sua compra por qualquer agência governamental.

Lembrando que o Grok há pouco tempo precisou ser interrompido e atualizado após ter dado respostas com conteúdo antissemita e de exaltação ao nazismo.

Mark Lemley, professor de direito da Universidade Stanford, questiona a imparcialidade da ordem: “A pergunta correta é: eles baniriam o Grok, a IA com a qual acabaram de assinar um grande contrato, apesar de ter sido deliberadamente projetada para dar respostas politicamente carregadas? Se não, claramente foi projetada para discriminar contra um ponto de vista específico.”

Rumman Chowdhury, cientista de dados e CEO da organização sem fins lucrativos Humane Intelligence, expressa preocupação de que empresas de IA possam ativamente retrabalhar dados de treinamento para seguir a linha partidária: “Qualquer coisa que a administração Trump não goste é imediatamente jogada nesse monte pejorativo de ‘woke’.”

Fonte: TechCrunch