O robô doméstico com Atari embutido que custava caro demais para dar certo

O robô doméstico com Atari embutido que custava caro demais para dar certo

Imagine um robô com rodas que passeia pela sua casa, fala com você usando uma voz sintetizada, mostra a temperatura num display digital… e ainda vem com um Atari 2600 embutido. Parece coisa de um anime retrofuturista — mas era real. E se chamava Hubot.

Um show de funções e possibilidades

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Muito antes de Alexa, Siri ou qualquer assistente por IA, uma startup da Califórnia chamada Hubotics Inc. tentou criar o companheiro doméstico ideal. O ano era 1984, e a ideia era ousada: um robô de 1,10 m de altura, com rodas, sensores, computador próprio e um arsenal de funções multimídia.

Chamado de Hubot — uma fusão entre human e robot —, o projeto era tão ambicioso quanto engenhoso: o robô falava mais de mil palavras, sabia se deslocar pela casa sem bater nas paredes, exibia um monitor de 12 polegadas com TV embutida, tocava fitas K7 e até trazia um Atari 2600 acoplado para diversão.

Por dentro do robô: computador, TV, joystick e sensor ultrassônico

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O Hubot não era só aparência. No seu interior havia um computador proprietário completo da SysCon, com monitor monocromático, teclado destacável e até suporte para impressora. Ele podia ser controlado via joystick ou seguir rotas programadas com precisão.

Mais curioso ainda: o robô usava um transdutor sônico — o mesmo sensor dos antigos modelos da Polaroid — montado num colar giratório para detectar obstáculos no ambiente. A ideia era que ele escaneasse a sala antes de se mover, evitando colisões com móveis ou paredes.

Essa “cabeça” giratória era feita de plástico esculpido manualmente e coberta com fibra de vidro. O trabalho foi artesanal ao extremo: Glen Keith, responsável pelo design mecânico e gráfico, moldou a peça em casa e removeu a espuma interna com uma faca de precisão. Tudo isso… no quintal.

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Glen Keith ao lado do Hubot

Um robô feito no improviso, com alma de garagem

A história da construção do Hubot é quase um hino à cultura maker. O primeiro protótipo foi feito com placas de isopor e styrene, coladas à mão. Glen montou a estrutura na sala de casa, transformando seu quarto em oficina. “Graças a Deus minha esposa apoiou essa loucura”, ele contou em depoimento anos depois.

O corpo do Hubot foi moldado em uma única peça de polietileno rotomoldado, o mesmo material de lixeiras e caixas d’água. A escolha não era estética — era sobrevivência: barato, resistente e com boa aparência mesmo após riscos ou batidas.

CES 1984: a estreia

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O Hubot estreou oficialmente na Consumer Electronics Show de janeiro de 1984, em meio a um mar de novidades da época — de tocadores de laserdisc a computadores MSX. O robô chamava atenção pela presença física imponente, visual amigável e, claro, por ser um computador ambulante com TV e videogame.

Seu módulo de comando por voz era opcional, com microfone embutido. E ainda exibia a hora e a temperatura em um painel digital. Uma mistura de assistente pessoal, centro de entretenimento e mascote robótico.

A Hubotics não se contentava com o básico. Entre os módulos opcionais planejados para os “próximos seis meses”, a empresa prometia:

  • Alarme contra incêndio e invasão

  • Braço robótico com mão funcional

  • Bandeja para bebidas

  • Módulo de aspiração

  • Programação de rotas via interface gráfica

  • E até um sistema de recarga autônoma de bateria, em que o robô encontraria sozinho a tomada quando estivesse com energia baixa

O sonho (quase) impossível de um robô doméstico

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Apesar de toda a engenhosidade, o Hubot era um produto à frente de seu tempo. Era caríssimo (US$ 3.495 — um valor que, corrigido pela inflação, ultrapassaria facilmente os US$ 10 mil hoje), exigia conhecimento técnico e dependia de um ecossistema que ainda não existia. A Hubotics Inc. era uma startup pequena demais para bancar a industrialização em massa — e o projeto acabou não decolando comercialmente.

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Mas sua história ecoa como um marco de criatividade, engenho e paixão. Um daqueles projetos que mostram como, antes dos algoritmos e dos chips neurais, a revolução tecnológica era feita no improviso — com cola quente, dremel e muita coragem.

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Com o mercado de robôs humanoides projetando crescimento acelerado nos próximos anos, é impossível não reconhecer como o Hubot antecipou tendências que só agora se tornam viáveis

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