Compartilhou print do seu saldo bancário? Veja os riscos e como se proteger

Compartilhou print do seu saldo bancário? Veja os riscos e como se proteger

Compartilhar prints de contas bancárias nas redes sociais se tornou uma prática comum, porém extremamente arriscada do ponto de vista da segurança digital. Cada imagem de saldo, limite de crédito ou histórico de transações exposta online funciona como uma porta aberta para golpistas coletarem dados sensíveis e direcionarem ataques personalizados. Mesmo que informações como CPF completo e número da conta estejam parcialmente ocultas, outros elementos visíveis permitem que criminosos montem um quebra-cabeça de sua identidade financeira.

A motivação por trás desse comportamento tem raízes psicológicas e sociais profundas. O fenômeno conhecido como “financial flex” (ostentação financeira) ganhou força com a ascensão das redes sociais, onde mostrar conquistas materiais e financeiras tornou-se uma forma de validação social. Pesquisas da área de psicologia comportamental indicam que o compartilhamento dessas informações ativa os mesmos circuitos de recompensa no cérebro que são estimulados por curtidas e comentários positivos.

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Desafios virais também contribuem significativamente para essa exposição. Durante a pandemia, por exemplo, o “Desafio do Saldo” viralizou em diversas plataformas, incentivando pessoas a mostrarem seus saldos bancários para provar que estavam “sobrevivendo bem” ao período difícil. Segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), houve um aumento de 165% nas tentativas de golpes bancários durante esse período, com clara correlação à exposição de dados financeiros online.

A normalização dessa prática é talvez o aspecto mais preocupante. Quando influenciadores digitais e celebridades compartilham seus extratos e comprovantes de pagamentos vultosos, estabelecem um padrão que seus seguidores tendem a reproduzir. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Defesa do Consumidor revelou que 38% dos jovens entre 18 e 29 anos já compartilharam algum tipo de informação bancária nas redes sociais, acreditando erroneamente que os riscos são mínimos ou inexistentes.

Quais informações sensíveis estão visíveis em um print bancário

Por que você não deve postar print do saldo do banco nas redes sociais? -  Canaltech

Um print aparentemente inofensivo de um aplicativo bancário contém muito mais informações sensíveis do que a maioria das pessoas imagina. Mesmo com a ocultação parcial de números de conta e documentos, criminosos experientes conseguem extrair dados valiosos que, combinados com outras informações públicas, permitem a execução de golpes sofisticados.

Começando pela interface do aplicativo, a simples identificação do banco já reduz drasticamente o universo de tentativas que um golpista precisaria fazer para direcionamento de ataques. Elementos como o layout, cores e disposição dos menus são como impressões digitais que confirmam qual instituição financeira a vítima utiliza.

Os números parciais exibidos são particularmente perigosos. Muitos apps mostram os últimos dígitos da conta ou do cartão como forma de confirmação para o usuário. Porém, com esses fragmentos, golpistas podem realizar tentativas de engenharia social, alegando conhecer parte dos dados para ganhar confiança e obter as informações faltantes. É como entregar parte da combinação de um cofre e facilitar o trabalho de quem quer arrombá-lo.

O saldo e limite disponível são informações que transformam o usuário em alvo prioritário. Contas com valores elevados naturalmente atraem mais atenção de criminosos, que direcionarão esforços proporcionais à possível recompensa. Além disso, esses valores ajudam a personalizar golpes: se um criminoso sabe que você tem R$ 5.000 no saldo, pode elaborar uma fraude envolvendo uma falsa compra nesse valor para tornar a história mais verossímil.

O histórico de transações revela padrões comportamentais valiosos. Locais frequentes de compras, estabelecimentos que você costuma frequentar, valores médios gastos e até horários habituais de movimentação financeira ficam expostos. Um golpista pode usar essas informações para criar cenários mais convincentes, mencionando detalhes que apenas você e seu banco supostamente conheceriam.

Informações sobre a agência bancária, especialmente visíveis em comprovantes de transferência, podem ser usadas em técnicas de engenharia social. Criminosos podem se passar por funcionários daquela agência específica, citando o gerente pelo nome (informação facilmente obtida em sites corporativos) para criar uma falsa sensação de legitimidade no contato.

Como criminosos utilizam prints bancários em golpes reais

Dicas para se proteger contra golpes bancários

Os prints bancários compartilhados nas redes sociais são verdadeiras minas de ouro para criminosos, que desenvolveram técnicas sofisticadas para explorar essas informações. Em 2023, o Brasil registrou mais de 42 mil golpes financeiros relacionados a vazamento de dados bancários, resultando em prejuízos estimados em R$ 2,5 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira de Bancos.

O phishing direcionado é uma das técnicas mais comuns. Diferente do phishing genérico, que envia mensagens padronizadas para milhares de pessoas, o direcionado utiliza informações específicas da vítima para criar comunicações personalizadas e convincentes. Com dados obtidos de prints bancários, os criminosos enviam e-mails ou mensagens que incluem o nome do banco, últimos dígitos da conta e até referências a transações recentes, levando a vítima a acreditar que se trata de uma comunicação legítima.

O cruzamento de dados é outra estratégia sofisticada. Os criminosos raramente usam apenas as informações do print bancário isoladamente. Eles combinam esses dados com informações disponíveis em redes sociais, vazamentos anteriores e até registros públicos. Por exemplo, o nome completo obtido no print bancário pode ser usado para localizar o endereço em bancos de dados públicos, ou para identificar familiares nas redes sociais que posteriormente serão alvo de golpes como o “falso sequestro”.

A fraude de identidade também se alimenta dessas informações. Criminosos usam os dados bancários parciais, combinados com outros dados pessoais, para se passar pela vítima em instituições financeiras, solicitando empréstimos, cartões adicionais ou alterações cadastrais. Em média, uma vítima de roubo de identidade leva 7 meses para descobrir que teve seus dados utilizados fraudulentamente, período no qual o prejuízo financeiro pode se multiplicar significativamente.

O que diz a lei sobre proteção de dados financeiros

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No contexto jurídico brasileiro, os dados financeiros são classificados como informações sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018). Isso significa que dados bancários recebem proteção especial e seu vazamento pode acarretar consequências legais severas para empresas que não adotem medidas adequadas de segurança, com multas que podem chegar a 2% do faturamento, limitadas a R$ 50 milhões por infração.

A LGPD estabelece que informações financeiras só podem ser tratadas mediante consentimento específico do titular ou em situações expressamente previstas em lei. Quando um usuário compartilha voluntariamente seus dados bancários nas redes sociais, ele tecnicamente está fornecendo esse consentimento para a plataforma – mas não para terceiros mal-intencionados que possam acessar essas informações.

As instituições financeiras têm obrigações específicas estabelecidas pelo Banco Central do Brasil e pelo Conselho Monetário Nacional quanto à segurança das informações dos clientes. A Resolução nº 4.658/2018 do Banco Central estabelece requisitos de segurança cibernética para instituições financeiras, incluindo a proteção de dados de clientes. Porém, essas medidas têm limitações quando o próprio cliente expõe voluntariamente suas informações.

Em casos de golpes realizados a partir de dados compartilhados pelo próprio usuário, a responsabilidade do banco pode ser reduzida ou até mesmo excluída. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já estabeleceu precedentes indicando que, quando há culpa concorrente do cliente na exposição de seus dados, a responsabilidade do banco pode ser mitigada.

Para criminosos que utilizam dados expostos para aplicar golpes, o Código Penal prevê penas severas. Crimes como estelionato (Art. 171), furto mediante fraude (Art. 155) e falsidade ideológica (Art. 299) podem ser aplicados, com penas que variam de 1 a 8 anos de reclusão, dependendo das circunstâncias e valores envolvidos. Adicionalmente, a Lei dos Crimes Cibernéticos (Lei nº 12.737/2012) pode ser aplicada em casos que envolvam invasão de dispositivos.

Como identificar e reagir a tentativas de golpe após exposição

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Após a exposição de dados bancários, é crucial saber identificar sinais de que seus dados estão sendo utilizados em tentativas de golpe. O tempo de reação é determinante: segundo a Febraban, vítimas que identificam e reportam golpes nas primeiras duas horas conseguem recuperar em média 70% dos valores, enquanto após 24 horas essa taxa cai para menos de 15%.

Os principais sinais de alerta incluem contatos inesperados supostamente do seu banco, especialmente se mencionarem detalhes específicos visíveis no print compartilhado. Desconfie imediatamente de ligações, SMS ou e-mails que contenham frases como “verificamos uma tentativa de fraude na sua conta” ou “precisamos confirmar uma transação suspeita”. Instituições financeiras legítimas raramente pedem ações imediatas por esses canais.

Mensagens de phishing direcionado são particularmente perigosas após a exposição de dados bancários. Diferente do phishing genérico, essas mensagens citarão informações específicas da sua conta ou histórico de transações, visíveis no print compartilhado. Fique atento a e-mails ou mensagens que mencionem valores específicos, últimos dígitos da sua conta ou cartão, ou transações recentes – especialmente se solicitarem cliques em links ou downloads de arquivos.

Outro sinal preocupante são contatos via WhatsApp ou outras plataformas de mensagens de pessoas se passando por “novos atendentes” do seu gerente ou da sua agência. Os golpistas podem mencionar o nome correto da sua agência ou gerente (informações muitas vezes visíveis em prints bancários) para ganhar sua confiança.

Ao identificar uma possível tentativa de golpe, siga este protocolo de reação imediata: não responda à mensagem suspeita nem clique em links enviados; registre evidências com capturas de tela das tentativas de contato; contate seu banco exclusivamente pelos canais oficiais (preferencialmente ligando para o número que consta no verso do seu cartão bancário); reporte a tentativa de golpe ao banco e solicite o bloqueio preventivo de transações suspeitas; registre um Boletim de Ocorrência, preferencialmente em delegacias especializadas em crimes cibernéticos; e informe plataformas como o site consumidor.gov.br e o Procon local.

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