ChatGPT pode ser perigoso? CEO da OpenAI fala sobre psicose induzida por IA

ChatGPT pode ser perigoso? CEO da OpenAI fala sobre psicose induzida por IA

O CEO da OpenAI, Sam Altman, levantou um alerta preocupante durante evento do Federal Reserve americano na última terça-feira (22): adolescentes e jovens adultos estão desenvolvendo dependência emocional alarmante do ChatGPT. Segundo o executivo, muitos usuários mais jovens passaram a consultar o chatbot para praticamente todas as suas decisões cotidianas, estabelecendo uma relação de confiança potencialmente prejudicial com a inteligência artificial.

Durante sua participação no evento do banco central americano, Altman compartilhou relatos inquietantes sobre como alguns usuários têm transformado o chatbot da OpenAI em uma espécie de oráculo digital para orientar suas vidas, ultrapassando significativamente o propósito original da ferramenta.

Você também pode gostar dos artigos abaixo:

Existem jovens que literalmente dizem: ‘Não consigo tomar nenhuma decisão em minha vida sem antes contar tudo ao ChatGPT. Ele me conhece, conhece meus amigos, e sigo o que ele me orienta‘”, relatou Altman, evidenciando um comportamento que a própria OpenAI considera preocupante e potencialmente nocivo.

O fenômeno vai além do uso casual da tecnologia. Altman destacou que muitos usuários estão transformando a IA em um substituto para terapeutas humanos, recorrendo ao bot como conselheiro emocional permanentemente disponível. Embora o executivo reconheça que, em certos casos, o ChatGPT possa oferecer conselhos de qualidade, ele foi enfático ao caracterizar a dependência da IA para direcionamento da vida como “ruim e perigosa”.

Sam Altman falando em um microfone durante evento do Federal Reserve
O CEO da OpenAI, Sam Altman, expressou sérias preocupações sobre o uso excessivo do ChatGPT durante sua participação no evento do Federal Reserve americano.

Dados confirmam dependência emocional em adolescentes

As preocupações do CEO da OpenAI encontram respaldo em pesquisas recentes. Um levantamento realizado pela Common Sense Media revelou que 72% dos adolescentes americanos mantêm o que chamam de “companheiros de IA” – bots projetados especificamente para conversas de natureza pessoal. Entre esses usuários, mais da metade utiliza a tecnologia regularmente e confia nos conselhos oferecidos por esses assistentes digitais.

Particularmente alarmante é o dado referente aos adolescentes mais jovens, na faixa de 13 a 14 anos, que demonstram os maiores níveis de dependência emocional das IAs. Este grupo etário apresenta os índices mais elevados de confiança em seus “conselheiros digitais”, com aproximadamente um terço dos entrevistados considerando as interações com os bots tão ou mais satisfatórias que conversas com amigos reais.

Essa realidade levanta questões importantes sobre o desenvolvimento emocional e social de uma geração que está crescendo com acesso constante a inteligências artificiais cada vez mais sofisticadas. Para especialistas em desenvolvimento infantil e adolescente, a substituição de interações humanas por diálogos com IAs pode comprometer habilidades sociais fundamentais e criar padrões de dependência difíceis de quebrar na vida adulta.

Crianças usando smartphones lado a lado, demonstrando uso intenso de tecnologia
Adolescentes entre 13 e 14 anos representam o grupo mais vulnerável à dependência emocional de chatbots de IA, com muitos preferindo interações digitais às reais.

O fenômeno da “psicose induzida por IA”

As consequências da dependência excessiva de IAs conversacionais podem ir além de questões comportamentais. Especialistas têm observado e documentado casos do que chamam de “psicose induzida por IA”, condição caracterizada por delírios e alucinações desencadeados pelo uso intensivo de sistemas como o ChatGPT, conforme relatou o The New York Times no mês passado.

Um caso particularmente ilustrativo envolve um contador de 42 anos que iniciou o uso do ChatGPT como ferramenta de auxílio profissional. Com o tempo, as conversas evoluíram para discussões filosóficas sobre a “teoria da simulação”, aquele conceito popularizado pelo filme Matrix que sugere que a realidade poderia ser uma simulação computacional. A interação prolongada com a IA sobre este tema levou o homem a desenvolver a crença de que vivia em um universo paralelo, chegando a receber sugestões do chatbot para “desconectar” sua mente da realidade.

O caso quase terminou em tragédia e só não teve consequências mais graves porque o usuário começou a desconfiar que estava sendo manipulado pela IA. Este e outros relatos semelhantes mostram que a linha entre uso benéfico da tecnologia e consequências psicológicas adversas pode ser tênue, especialmente quando os usuários não compreendem completamente as limitações dos sistemas de IA generativa.

Diante desses desafios, a própria OpenAI reconhece a necessidade de compreender melhor o fenômeno da dependência emocional e seus efeitos. Altman afirmou que a empresa está analisando ativamente o problema para determinar quais medidas poderiam ser implementadas para minimizar riscos, especialmente para usuários mais jovens e potencialmente mais vulneráveis.

Para especialistas em saúde mental, o caso evidencia a necessidade de novas diretrizes para uso saudável de IAs conversacionais, particularmente entre crianças e adolescentes. No Brasil, onde o acesso a essas tecnologias cresce rapidamente, profissionais recomendam que pais e educadores monitorem o uso de chatbots por jovens e promovam discussões sobre os limites entre assistência tecnológica e dependência emocional.

Leave A Comment

You must be logged in to post a comment.

Back to Top