Investigação revela que uso de IA nas universidades do Reino Unido explodiu. E não é só entre os alunos

Investigação revela que uso de IA nas universidades do Reino Unido explodiu. E não é só entre os alunos

No ciclo letivo de 2023 a 2024, mais de 7 mil estudantes foram flagrados usando inteligência artificial generativa para realizar atividades acadêmicas no Reino Unido, segundo revelou uma investigação conduzida pelo jornal The Guardian.

Esse número representa um salto de mais de 200% em apenas um ano. Ao mesmo tempo, os registros de plágio convencional têm diminuído. Em outras palavras: o problema não desapareceu — apenas ganhou uma nova forma.

Quando o prompt substitui o copia e cola

Com a popularização de ferramentas como ChatGPT, o modelo clássico de trapaça ficou obsoleto. Alunos não estão mais copiando parágrafos de sites ou colegas: agora, geram textos originais, fluidos e muitas vezes imperceptíveis aos detectores de plágio tradicionais.

Para driblar as poucas ferramentas que ainda conseguem identificar conteúdo gerado por IA, alguns estudantes recorrem até a aplicativos que “humanizam” textos antes de entregá-los. É o que especialistas já chamam de “fraude por criatividade automatizada”.

O iceberg invisível da trapaça digital

Os 7 mil casos são apenas a superfície. Segundo o próprio Guardian, uma pesquisa feita em fevereiro apontou que 88% dos estudantes britânicos admitem usar IA em algum momento de suas avaliações. Em testes conduzidos por professores da Universidade de Reading, 94% dos textos gerados por IA não foram detectados nem pelos sistemas, nem pelos avaliadores humanos.

Além disso, mais de um quarto das universidades britânicas ainda não reconhece o uso de IA como categoria específica de má conduta acadêmica, o que cria uma zona cinzenta regulatória. O problema é real, mas muitas instituições ainda não sabem como lidar com ele.

A linha tênue entre trapaça e apoio educacional

Apesar da repercussão negativa, nem todos os estudantes veem o uso de IA como uma infração. Vários relatam empregar essas ferramentas para organizar ideias, estruturar argumentos ou revisar a redação de seus trabalhos.

Para estudantes com dislexia, por exemplo, o ChatGPT pode funcionar como um recurso de inclusão, ajudando na clareza textual e superando barreiras de expressão escrita. O debate, então, extrapola a simples questão do “colar ou não colar” e mergulha em uma discussão mais profunda: qual é o papel da tecnologia no processo de aprendizagem?.

A resposta não está na vigilância, dizem especialistas

Diante desse cenário, algumas instituições discutem o retorno de provas presenciais como solução. Mas para estudiosos como Thomas Lancaster, pesquisador da Imperial College London, isso seria um retrocesso — e não uma resposta efetiva ao problema.

Para ele, o foco deve estar na reinvenção das formas de avaliação: atividades que valorizem habilidades humanas, como pensamento crítico, criatividade aplicada, comunicação interpessoal e julgamento ético — áreas em que a IA ainda não consegue competir com pessoas reais.

Governo e big techs entram no jogo

A discussão chegou ao parlamento britânico. O secretário de Ciência e Tecnologia, Peter Kyle, declarou que a IA tem potencial para democratizar o acesso ao ensino, especialmente para alunos com dificuldades cognitivas. Mas também reconheceu a necessidade de estabelecer marcos regulatórios claros para seu uso educacional.

O governo já destinou cerca de £187 milhões em programas de capacitação docente e produção de guias de boas práticas com IA. Enquanto isso, empresas como Google e OpenAI oferecem versões educativas de seus sistemas — inclusive com descontos e planos gratuitos para estudantes.

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