Esta tecnologia de 1928 ainda é essencial para Google e NASA guardarem dados

Esta tecnologia de 1928 ainda é essencial para Google e NASA guardarem dados

Em um cenário onde SSDs e soluções em nuvem dominam atualmente as discussões sobre armazenamento, uma criação de 1928, atribuída ao engenheiro alemão Fritz Pfleumer, segue como um elemento fundamental para diversas empresas pelo mundo. As fitas magnéticas.  Sua durabilidade, baixo custo por terabyte e confiabilidade mantém essa tecnologia uma escolha estratégica para diversas corporações. É o tipo de tecnologia que faz lembrar aquela expressão “old, but gold” (velho, mas de valor).

A jornada de 97 anos que desafia a lógica da inovação

A trajetória da fita magnética​ lembra aqueles filmes onde o protagonista improvável se torna herói. Nascida para capturar áudio, ela demorou 23 anos para encontrar sua verdadeira vocação: em 1951, a UNIVAC I se tornou o primeiro computador a usar fitas para armazenar dados digitais. Essas fitas eram lidas e gravadas por unidades chamadas UNISERVO, que foram os primeiros drives de fita magnética comercializados com computadores. Cada fita podia armazenar cerca de 1,5 MB de dados, com uma taxa de transferência de aproximadamente 7.200 caracteres por segundo.

fita magnetica Univac
Fita magnética do Univac

Desde então, ela evoluiu em silenciosamente. Enquanto todo mundo falava sobre a morte dos formatos físicos, as fitas magnéticas se reinventaram constantemente. As fitas magnéticas disponíveis comercialmente mais recentes são as LTO-9, lançadas em 2021, com capacidade nativa de 18 TB e até 45 TB com compressão. Em 2023, a IBM anunciou o sistema de armazenamento TS1170, que utiliza cartuchos com capacidade nativa de 50 TB e até 150 TB com compressão, representando o maior avanço comercial até então. E há pesquisas para alcançar patamares ainda mais impressionantes. 

Em parceria com a Fujifilm, a IBM desenvolveu uma nova fita magnética com capacidade de armazenamento de até 580 TB por cartucho. O anúncio foi feito em 2020 como um protótipo experimental. Até o momento, essa tecnologia permanece em fase de pesquisa e desenvolvimento, sem previsão de comercialização em larga escala

Números que tornam as fitas magnéticas uma opção muito estratégica para o mundo corporativo:

  • Velocidade de leitura: 400 MB por segundo
  • Capacidade por cartucho: até 45 TB (comprimido)
  • Vida útil: 30 anos ou mais em condições adequadas
  • Custo por TB: até 80% mais barato que SSDs

Google, Meta e NASA: por que apostam no “passado”

LTO

Pode soar contraditório, mas as empresas mais inovadoras do planeta dependem de uma tecnologia quase centenária para suas operações críticas. A explicação é simples: quando você precisa guardar exabytes de informação — fotos do Instagram, vídeos do YouTube, dados científicos da NASA — cada centavo por terabyte faz diferença.

O segredo está no conceito de “armazenamento frio”. Nem todos os dados precisam estar disponíveis instantaneamente. Aquele backup de 2019, os arquivos históricos da empresa, ou mesmo suas fotos antigas no Google Photos podem esperar alguns segundos a mais para serem acessados.

Em 2011, após uma falha de software que resultou na perda de e-mails de aproximadamente 40.000 contas do Gmail, o Google conseguiu restaurar os dados utilizando backups armazenados em fitas magnéticas.

Essa característica as torna ideais para backups de longo prazo, arquivos históricos e dados que precisam ser mantidos por conformidade regulatória.

A NASA mantém uma infraestrutura robusta de armazenamento em fita magnética para preservar grandes volumes de dados científicos produzidos por suas missões. O High-End Computing Capability (HECC) da NASA utiliza um sistema de arquivamento em fita em escala exascale, onde os dados armazenados em discos RAID são migrados para fitas conforme necessário. Além disso, a NASA também utiliza bibliotecas robóticas de fitas Spectra Logic T950, com capacidade total de arquivamento que ultrapassa 1 exabyte.

Além da durabilidade, as fitas magnéticas oferecem segurança contra ataques cibernéticos, como ransomware, pois os dados armazenados offline estão isolados de redes vulneráveis. Essa proteção adicional é um dos motivos mais importantes pelos quais empresas continuam a confiar nessa tecnologia.

O uso de fitas magnéticas no Brasil

fita magnetica
fita magnética LTO 9 da IBM

No Brasil, empresas de diversos setores, como farmacêutico e audiovisual, continuam a utilizar fitas magnéticas para backup e arquivamento de dados. As fitas magnéticas começaram a ser utilizadas no Brasil para armazenamento de dados a partir da década de 1960, acompanhando a introdução dos primeiros computadores de grande porte no país. A IBM, que teve papel fundamental nesse processo, inaugurou sua primeira fábrica na América do Sul em 1939, no Rio de Janeiro, e, posteriormente, em 1971, estabeleceu uma unidade em Sumaré (SP), onde passou a produzir unidades de fitas magnéticas e controladoras associadas.

Podemos ver nesse documento que a A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) do Brasil incluiu em seu Plano Diretor de Tecnologia da Informação 2023/2025 a aquisição de fitas magnéticas para backup e bibliotecas de fitas padrão LTO-7, demonstrando a continuidade do uso dessa tecnologia em ambientes corporativos.

fita magnetica

Crescimento contínuo no uso de fitas

Apesar de serem consideradas por alguns como obsoletas, o uso de fitas magnéticas continua a crescer. Em 2023, os carregamentos de fitas aumentaram em 3%, totalizando 152,9 exabytes de dados armazenados. Esse crescimento reflete a confiança contínua das empresas na tecnologia para soluções de armazenamento de longo prazo.

O mercado global de armazenamento em fita foi avaliado em US$ 5,76 bilhões em 2024 e está projetado para atingir US$ 6,37 bilhões em 2025.

Em um mundo obcecado pelo próximo lançamento, talvez a verdadeira inovação seja reconhecer que algumas soluções são atemporais. 

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