Trump quer banir laboratórios chineses de testarem hardware vendido nos EUA

Trump quer banir laboratórios chineses de testarem hardware vendido nos EUA

Os primeiros meses da nova liderança na FCC, a agência responsável por regular telecomunicações nos Estados Unidos, trouxeram mais que ajustes administrativos. Em menos de 100 dias, a entidade acelerou um plano ambicioso: cortar os laços com laboratórios chineses responsáveis por testar dispositivos eletrônicos antes de sua comercialização no mercado americano.

Por trás da medida, está uma visão cada vez mais clara no governo Trump: os EUA não devem depender, sob nenhum aspecto, de infraestrutura ou certificações controladas por países considerados adversários. A proposta, portanto, é simples no enunciado, mas carregada de implicações profundas — impedir que qualquer laboratório com ligações ao governo chinês participe da homologação de hardware vendido em solo americano.

O problema vai além da certificação: é uma questão de confiança

fcc

Nenhum dispositivo eletrônico — seja um roteador doméstico ou um chip de telecomunicação — chega às mãos do consumidor nos Estados Unidos sem antes passar pelo crivo da FCC. Agora, essa lupa regulatória ganha uma nova lente, voltada não apenas para o produto em si, mas para quem está por trás do processo de validação técnica.

A preocupação não surgiu do nada. Nos últimos anos, laboratórios com conexões diretas com governos estrangeiros, como a própria Huawei, conseguiram atuar legalmente no país. Isso permitia que empresas com interesses geopolíticos opostos aos dos EUA pudessem, ironicamente, atestar a conformidade de equipamentos que entrariam no território americano. Para a FCC, era como permitir que o lobo tomasse conta do celeiro.‍⁠⁠

Agora, esse tipo de cenário está na mira. A proposta é bloquear qualquer laboratório que receba financiamento, tenha vínculo societário ou esteja sob influência de governos considerados ameaça à segurança nacional. Entre eles, a China ocupa lugar de destaque, com cerca de 75% dos testes de certificação de eletrônicos com destino aos EUA sendo realizados em território chinês.

Mais que segurança: uma corrida por autonomia tecnológica

Por trás da movimentação política, há também uma leitura estratégica sobre o futuro. Repatriar a fase de testes dos dispositivos eletrônicos representa, para Washington, mais do que um reforço de segurança — é uma oportunidade para fortalecer a indústria doméstica e reduzir a dependência de estruturas estrangeiras.

A ideia não é apenas cortar os laços com laboratórios no exterior, mas também garantir que os futuros processos de certificação ocorram sob supervisão direta de entidades americanas. Para isso, a FCC estuda regras mais rígidas de transparência e rastreabilidade sobre quem controla os centros de testes.

Lista pública vai expor empresas com vínculos suspeitos

Uma das propostas que já circulam em Washington prevê a criação de um cadastro público com empresas envolvidas em certificações que possuam ligações com governos considerados hostis. O objetivo é escancarar quem está por trás dos bastidores, deixando menos espaço para operações opacas.

Embora a FCC já coletasse algumas dessas informações nos bastidores, a nova direção quer ir além. A ideia é transformar esses dados em algo acessível, rastreável e auditável pela sociedade e por outros órgãos reguladores. Isso está sendo costurado em conjunto com o Congresso e, curiosamente, conta com apoio bipartidário — algo cada vez mais raro no atual cenário político.‍

Expansão de espectro mostra que nem tudo é restrição

A pauta da FCC, no entanto, não está focada apenas em contenção e controle. Na mesma agenda de maio, a agência abriu espaço para avanços importantes. Está em andamento a liberação de mais de 1.000 MHz entre as faixas de 12,7 GHz e 42 GHz, destinadas à comunicação via internet satelital.

Esse movimento pode ser um divisor de águas para a chamada “economia espacial”. Ao destravar frequências estratégicas, os EUA buscam garantir conexões mais rápidas e estáveis, especialmente em regiões remotas e rurais, onde o acesso à rede ainda é limitado. É um passo importante para que o discurso sobre inclusão digital e infraestrutura de ponta não fique apenas no papel.⁠⁠

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