
O que torna os jogos japoneses tão únicos? Um ex-chefe da PlayStation explica
O que torna os jogos japoneses tão únicos? Um ex-chefe da PlayStation explica
O mercado de jogos já viu de tudo: ondas passageiras, reinvenções tecnológicas e modismos que vieram e foram embora sem deixar saudade. No meio disso tudo, uma constante permanece inabalável: a influência criativa do Japão. Enquanto os holofotes vão e vêm, os estúdios japoneses continuam lançando títulos que marcam época e atravessam gerações.
E para Shuhei Yoshida, ex-presidente dos PlayStation Studios e uma das vozes mais respeitadas da indústria, isso está longe de ser um acaso. Segundo ele, a força dos games japoneses nasce de uma decisão consciente: criar a partir da identidade cultural do país — e não seguir tendências externas.

A alma japonesa como diferencial
Em conversa recente ao PlayStation Inside, Yoshida foi direto: o que faz os jogos japoneses se destacarem é justamente o que os torna impossíveis de replicar fora do país. É a estética singular, o jeito de contar histórias, o cuidado com os detalhes. São jogos que “só o Japão saberia fazer”.
Essa abordagem não tenta se encaixar no gosto global. Ao contrário, ela parte de um ponto profundamente local, quase artesanal, e é justamente isso que cria conexão com o público de fora. Ao apostar em sua autenticidade, os criadores japoneses tocam algo que atravessa barreiras linguísticas e culturais.
O tropeço da era PS3
Esse entendimento, no entanto, nem sempre foi claro dentro da própria indústria japonesa. Yoshida relembra um período crítico: a geração do PlayStation 3. Pressionados pela ascensão dos blockbusters ocidentais, muitos estúdios japoneses tentaram “ocidentalizar” seus jogos, adotando mecânicas, visuais e estruturas narrativas que pouco tinham a ver com sua tradição.
O resultado? Muitos títulos perderam sua identidade, tentando imitar o que fazia sucesso lá fora. Foi uma fase confusa, em que a busca por aprovação global enfraqueceu a alma dos jogos. Mas esse tropeço acabou servindo de ponto de virada.
O retorno triunfal : NieR: Automata
O jogo que simboliza essa guinada é NieR: Automata, lançado em 2017. Comandado por Yoko Taro, o título apostou tudo na bizarrice poética do seu universo: combate estilizado, reflexões filosóficas, estética fora do padrão e uma narrativa emocionalmente complexa. Tudo ali gritava “Japão”.
E foi exatamente isso que conquistou o mundo. Longe de ser um produto formatado para agradar o gosto médio internacional, o game se destacou justamente por sua diferença. Tornou-se um fenômeno global e provou que a autenticidade cultural podia, sim, ser a chave do sucesso
Quando ser diferente é vantagem
A partir desse momento, grandes nomes do Japão voltaram a abraçar seu DNA criativo sem medo. Estúdios como FromSoftware, Atlus, Capcom e a própria Nintendo voltaram a explorar suas raízes com liberdade total. E o público respondeu.
Elden Ring, Persona 5, Resident Evil Village e os novos capítulos de The Legend of Zelda não tentam copiar tendências ocidentais. Em vez disso, reinventam ideias dentro de suas próprias lógicas. Em uma indústria cada vez mais tomada por fórmulas repetidas, esses títulos se destacam por ousar ser o que são.
O compromisso com a persona
Yoshida resume bem o que aprendeu ao longo dos anos: “o caminho não é copiar o que já existe, mas enriquecer o mundo com novas formas de olhar”. Em meio a tantos jogos que parecem variações do mesmo projeto, são aqueles que carregam identidade que realmente deixam marca.
O Japão, com seu modo peculiar de criar mundos, contar histórias e valorizar o detalhe, continua provando que não precisa imitar ninguém para dominar a cena mundial.
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