Game russo sobre a guerra na Ucrânia vira alvo de denúncias por propaganda pró-Kremlin

Game russo sobre a guerra na Ucrânia vira alvo de denúncias por propaganda pró-Kremlin

Um jogo de tiro desenvolvido na Rússia está no centro de uma controvérsia internacional. ‘Squad 22: ZOV’, lançado ontem (28) na Steam foi acusado de funcionar como ferramenta de propaganda militar pró-Kremlin, usando o conflito na Ucrânia como pano de fundo. Especialistas e órgãos oficiais apontam que o título não se limita à simulação de combate, mas promove abertamente a narrativa oficial do governo russo sobre a guerra.

Desenvolvido com apoio direto do exército russo

O projeto carrega uma conexão direta com as Forças Armadas da Rússia. Na própria descrição do jogo, os desenvolvedores do SPN Studio deixam claro que ‘Squad 22: ZOV’ é baseado na experiência real de veteranos russos que atuaram na Ucrânia, contando ainda com apoio informativo da Direção Político-Militar das Forças Armadas do país.

Não se trata apenas de um shooter com referências a cenários reais. O game assume a missão de reproduzir táticas, armamentos e situações do campo de batalha ucraniano, sempre sob a ótica do exército russo.

Acusação de propaganda e lavagem cerebral

O governo ucraniano reagiu imediatamente. O Centro Ucraniano de Combate à Desinformação classificou o jogo como uma ferramenta de lavagem cerebral, acusando os desenvolvedores de promover a narrativa que Moscou tenta sustentar globalmente. Para eles, o jogo romantiza a guerra, glorifica o serviço militar e reforça o discurso da chamada “operação militar especial”, como o Kremlin denomina a invasão da Ucrânia.

Um manual de guerra disfarçado de jogo

Squad 22

A situação fica ainda mais sensível quando se observa a página oficial do game na Steam. Lá, os próprios criadores destacam que o jogo é “oficialmente recomendado pelo exército russo como um manual de táticas básicas de infantaria”, servindo como material de apoio para o treinamento de cadetes e integrantes da Yunarmy, uma organização militar juvenil mantida pelo Ministério da Defesa da Rússia desde 2016.

Isso significa que, além de um produto de entretenimento, o game cumpre uma função educativa militar, com foco claro em preparar jovens para um possível futuro nas Forças Armadas.

Consultoria de veteranos condecorados

O desenvolvimento contou com consultores descritos como “heróis da Federação Russa”, todos com histórico de atuação direta na região do conflito. Segundo os desenvolvedores, o time trabalhou lado a lado com militares ativos, garantindo que táticas, manobras e operações simuladas no jogo fossem cópias fiéis do que acontece no front ucraniano.

O resultado, segundo a SPN Studio, é uma experiência de combate moderna “autêntica e intensa” — ainda que carregada de um viés que já começa no briefing da produção.

Postagens polêmicas e desprezo pelas vítimas

Uma investigação conduzida pelo portal Simulation Daily revelou outro aspecto perturbador. A conta oficial do estúdio no X publicou mensagens de teor extremamente duvidoso, incluindo uma que ironiza diretamente o sofrimento dos ucranianos. “Se a Ucrânia não se render, pelo menos teremos bastante conteúdo e novas missões no jogo”, dizia a publicação, demonstrando absoluto desprezo pelas consequências humanas do conflito real.

Liberado na Steam, apesar da polêmica

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Mesmo carregando sinais claros de uso político e ideológico, ‘Squad 22: ZOV’ passou pelas verificações da Valve e já está disponível na Steam. A decisão levanta uma série de questionamentos sobre os critérios da plataforma na hora de avaliar conteúdos sensíveis, especialmente quando envolvem temas como propaganda de guerra.

A discussão também reacende um debate maior sobre até que ponto empresas de tecnologia e plataformas de distribuição digital devem ser responsáveis pelos conteúdos que hospedam — principalmente quando esses conteúdos podem ser usados para fins de manipulação política ou ideológica.

Uma peça de uma estratégia maior

De acordo com o governo ucraniano, esse jogo não é um caso isolado. Na visão deles, faz parte de uma estratégia muito mais ampla do Kremlin, que busca expandir sua propaganda de guerra para todos os ambientes possíveis — incluindo e-sports e entretenimento digital.

O objetivo, segundo as autoridades, é claro: normalizar a visão russa sobre a guerra na Ucrânia e infiltrar essa narrativa especialmente entre os mais jovens, usando justamente os canais e formatos com os quais eles estão mais familiarizados.

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