
França impede Pavel Durov, CEO do Telegram, de viajar para os EUA e acirra crise com Rússia; entenda
França impede Pavel Durov, CEO do Telegram, de viajar para os EUA e acirra crise com Rússia; entenda
As autoridades francesas recusaram o pedido de Pavel Durov para viajar aos Estados Unidos, onde o bilionário russo alegava ter compromissos com investidores. O Ministério Público de Paris considerou a solicitação e “insuficientemente justificada”. A decisão mantém o criador e CEO do Telegram sob um regime rígido de controle judicial — medida vigente desde sua prisão no país, em agosto de 2024.
Desde então, qualquer saída da França depende de autorização prévia. Um dos poucos casos liberados foi sua ida a Dubai, entre 15 de março e 7 de abril deste ano. Durov possui cidadania francesa e emiradense, mas seu direito de ir e vir está limitado. A relação com o Estado francês, antes discreta, virou disputa pública.
Prisão em Paris e acusações graves
Durov foi detido no dia 24 de agosto de 2024, logo após pousar no aeroporto de Paris–Le Bourget, vindo do Azerbaijão. A operação foi conduzida por agentes da Gendarmaria de Transporte Aéreo e investigadores do Escritório Nacional Antifraude. Ele estava acompanhado de sua assistente pessoal, um segurança e outra mulher.
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Apesar de haver um mandado de prisão em aberto, o empresário desembarcou como se nada estivesse fora do normal. Um investigador descreveu o comportamento de Durov como “alheio à realidade”, sugerindo que ele agia como se fosse intocável.
Quatro dias depois, o fundador do Telegram foi formalmente acusado de seis crimes graves. As acusações incluem:
- Uso da plataforma para facilitar transações ilegais
- Recusa em colaborar com autoridades
- Disseminação de pornografia infantil
- Tráfico de drogas
- Lavagem de dinheiro
- Oferta irregular de serviços financeiros com criptomoedas.
Telegram adota tom mais moderado
A prisão de seu fundador marcou uma virada na postura da empresa. Em 2024, a plataforma removeu mais de 15,5 milhões de canais e grupos com conteúdo ilegal ou nocivo. Em casos ligados a abuso sexual infantil, o número chegou perto dos 710 mil.
Esse movimento rompe com a cultura anterior. Durante anos, o Telegram manteve um time reduzido de moderadores, cerca de 50 pessoas, mesmo com quase um bilhão de usuários. Críticos apontavam conivência. Durov, por sua vez, sempre defendeu um modelo de liberdade total. No fim de 2024, reconheceu que havia limites. Disse que liberdade “não é sinônimo de abandono” e prometeu endurecer a supervisão.
Internamente, a plataforma agora investe em inteligência artificial para detectar e bloquear conteúdos proibidos. A política de moderação foi atualizada. O tom de resposta às autoridades, mais cauteloso.
Acusações de censura e ataque ao serviço secreto francês
A Western European government (guess which ) approached Telegram asking us to silence conservative voices in Romania ahead of today’s presidential elections. I flatly refused. Telegram will not restrict the freedoms of Romanian users or block their political channels.
— Pavel Durov (@durov) May 18, 2025
Durov acusou o governo francês de pressioná-lo a remover vozes conservadoras da plataforma em novembro, durante o segundo turno das eleições presidenciais da Romênia. Em outra publicação aberta, citou diretamente Nicolas Lerner, chefe da inteligência externa francesa, como um dos responsáveis pelo pedido.
This spring at the Salon des Batailles in the Hôtel de Crillon, Nicolas Lerner, head of French intelligence, asked me to ban conservative voices in Romania ahead of elections. I refused. We didn’t block protesters in Russia, Belarus, or Iran. We won’t start doing it in Europe.
— Pavel Durov (@durov) May 18, 2025
O perfil oficial das Relações Exteriores da França no X negou as acusações com veemência. Disse que a declaração era “infundada” e que a França respeita a liberdade de expressão. Ainda assim, o episódio alimentou a tensão entre o empresário e o governo.
Completely unfounded allegations are circulating on Telegram and Twitter regarding alleged French interference in the Romanian presidential election.
France categorically rejects these allegations and calls on everyone to exercise responsibility and respect for Romanian… pic.twitter.com/PxFO7KnzDm
— France Diplomacy (@francediplo_EN) May 18, 2025
Relações diplomáticas entre França e Rússia continuam em queda livre
A crise envolvendo Durov se soma a um cenário diplomático já deteriorado entre Paris e Moscou. Desde a invasão da Ucrânia, em 2022, os laços entre os países estão praticamente congelados. A Rússia incluiu a França na lista de nações hostis, e as sanções econômicas se multiplicaram. O último contato direto entre Emmanuel Macron e Vladimir Putin ocorreu ainda naquele ano.
Em 2024 e 2025, a tensão aumentou. Hackers ligados ao Kremlin atacaram alvos diplomáticos franceses. Paris acusou Moscou pela morte de dois voluntários franceses em território ucraniano. Em resposta, a Rússia convocou o embaixador francês e criticou o envio de mísseis SCALP EG para a Ucrânia.
No continente africano, a disputa por influência se intensificou. A presença russa cresceu em países como Mali, Níger e Burkina Faso, territórios historicamente sob influência francesa. A rivalidade geopolítica avançou para outros tabuleiros.
Mais do que um caso judicial
A recusa do governo francês em liberar a viagem de Durov para os EUA não é apenas um entrave logístico. Simboliza uma batalha mais ampla, entre soberania nacional e plataformas transnacionais, entre segurança pública e liberdade digital, entre velhas potências e novos intermediários de poder.
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Enquanto o Telegram tenta se reposicionar diante da pressão global, seu fundador segue preso a um conflito que ultrapassa fronteiras. E a crise, que começou com um pouso discreto em Paris, hoje ecoa nos corredores da diplomacia internacional.
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