
Bastidores revelados: Como o ChatGPT mergulhou a Apple em caos e insegurança
Bastidores revelados: Como o ChatGPT mergulhou a Apple em caos e insegurança
Quando o ChatGPT foi lançado ao público no fim de 2022, não causou apenas euforia global. Ele também ligou um alerta vermelho dentro da Apple. A gigante de Cupertino, conhecida por agir com extrema discrição, foi surpreendida pela sofisticação da nova tecnologia e pela rapidez com que o mercado abraçou a inteligência artificial generativa. O jornalista Mark Gurman, da Bloomberg, relatou esses momentos de turbulência, e medo, da Apple com o impacto da tecnologia da OpenAI. Abaixo elencamos os principais pontos dessa história.
O desafio técnico de reinventar a Siri
Dividir a assistente em duas partes não funcionou
Craig Federighi, vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple, passou o final daquele 2022 testando o Copilot da Microsoft — e ficou impactado, segundo reportagem do The Wall Street Journal publicada no ano passado. Ao usar a IA para um projeto pessoal de codificação, percebeu que os modelos de linguagem estavam muito além do que se imaginava. Até aquele momento, uma Apple Intelligence não passava de um conceito distante.
Modernizar a Siri exigia desmontar anos de uma infraestrutura travada. A equipe tentou adaptar os novos modelos de linguagem (LLMs) à arquitetura existente. A ideia era simples no papel: manter uma parte da Siri lidando com funções básicas, como definir alarmes, enquanto outra assumiria comandos mais complexos com IA. Na prática, a operação virou um caos.
A cada nova integração, surgiam bugs em cascata. Corrigir um erro parecia abrir espaço para três novos. A situação se degradou a tal ponto que funcionalidades promissoras foram adiadas indefinidamente.
Funções esperadas para o iOS 18.4 foram canceladas
Entre os recursos engavetados estavam melhorias para que a Siri entendesse o contexto pessoal do usuário, interagisse de forma mais natural com aplicativos e entregasse respostas mais precisas. O plano original era lançar essas novidades no iOS 18.4, previsto para abril de 2025 — o que não se concretizou.
Segundo fontes ouvidas, Robby Walker, um dos executivos à frente do projeto, classificou os atrasos como “feios e constrangedores” durante uma reunião em março.
Crise de liderança
A saída de Giannandrea e o vácuo de comando

O colapso técnico coincidiu com um desgaste crescente na liderança. John Giannandrea, ex-Google, havia sido contratado em 2018 para liderar a estratégia de IA na Apple, mas nunca se integrou totalmente à cultura fechada da empresa. Sua gestão era vista como desconectada e pouco assertiva.
Com o passar do tempo, Tim Cook perdeu a confiança no executivo e passou o comando da área para Mike Rockwell, até então responsável pelo Vision Pro. A mudança, no entanto, veio tarde demais para evitar o colapso da moral da equipe.

Frases como “ninguém nos diz o que está acontecendo” tornaram-se comuns nos bastidores. Giannandrea culpava o marketing por promessas exageradas. O marketing, por sua vez, alegava não ter sido informado sobre os limites técnicos. O ambiente virou um campo minado de frustração e silêncio.
As tentativas de retomar o controle
Siri 2.0 está sendo desenvolvida do zero em Zurique
Mesmo em meio ao caos, a Apple não desistiu. Uma equipe especializada, baseada em Zurique, trabalha no desenvolvimento de uma Siri completamente nova. Desta vez, a proposta é começar do zero, utilizando modelos de linguagem avançados. A nova assistente deverá compreender melhor o contexto, interagir de forma mais fluida e responder de maneira mais natural às perguntas.
Europa será campo de testes para assistentes alternativos
Outra frente de atuação está na Europa. A Apple estuda permitir que os usuários escolham outros assistentes de voz no lugar da Siri — o que, além de atender às pressões regulatórias, pode aliviar a pressão sobre o sistema atual. Internamente, alguns engenheiros defendem abertamente que abandonar de vez a versão atual da Siri seria o único caminho viável
Nova regra: só anunciar quando estiver quase pronto
Em resposta à frustração causada por promessas não cumpridas, a Apple também está mudando sua política de comunicação. A nova diretriz é clara: nada será anunciado se não estiver perto do lançamento real. A ideia é evitar constrangimentos como os vistos no último ano, quando funções divulgadas acabaram adiadas indefinidamente.
Expectativas para a WWDC 2025
Com a conferência WWDC 2025 marcada para o próximo mês (entre 9 a 13 de junho), espera-se que a Apple revele mudanças importantes no iOS. A Siri, porém, deve continuar fora dos holofotes. Nos bastidores, cresce o temor de que a assistente atual precise ser descontinuada por completo, empurrando uma possível “Siri 2.0” para 2026 ou além.
O que começou como uma corrida para alcançar os rivais se transformou em uma reconstrução do zero, algo que a Apple raramente admite fazer. Dessa vez, porém, não há muito espaço para orgulho.
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