Alta do dólar, 5G e IA: os culpados pela disparada no preço dos celulares

Alta do dólar, 5G e IA: os culpados pela disparada no preço dos celulares

Os preços dos smartphones no Brasil explodiram em 2025. Entre o primeiro trimestre de 2024 e o mesmo período deste ano, os celulares ficaram 88% mais caros, saltando de R$ 1.361 para R$ 2.557 em média, segundo dados da consultoria IDC.

A alta representa o maior choque de preços já registrado no setor. Para entender a dimensão: enquanto a inflação brasileira ficou em torno de 4% ao ano, os smartphones subiram mais de 20 vezes esse índice.

Três fatores principais explicam essa escalada: a valorização do dólar frente ao real, a migração massiva para tecnologia 5G e a integração de recursos de inteligência artificial nos aparelhos.

Por que o dólar disparou o custo dos celulares

Dólar Subiu
Dólar Subiu

A cadeia produtiva de smartphones depende pesadamente de componentes importados. Processadores, memória RAM e telas vêm majoritariamente do exterior.

Quando o dólar subiu 15% em 2024, o impacto foi imediato. Fabricantes repassaram o aumento diretamente para o consumidor final.

“A valorização da moeda norte-americana impacta toda a indústria, uma vez que vários componentes são importados”, explica Reinaldo Sakis, diretor de Pesquisas da IDC.

O cenário se agravou com as incertezas geopolíticas. Guerra comercial entre EUA e China desorganizou cadeias produtivas globais, forçando empresas a buscar fornecedores alternativos – sempre mais caros.

Tecnologia 5G e IA encarece produção em até 40%

5g
5g

Metade dos smartphones vendidos no Brasil já utiliza tecnologia 5G. Essa migração tecnológica cobra seu preço.

Aparelhos 5G exigem chips mais potentes, antenas especializadas e sistemas de resfriamento mais eficientes. O custo adicional pode chegar a 40% comparado a modelos 4G equivalentes.

A Samsung reconhece o desafio. Em abril, lançou o Galaxy A06 5G por R$ 899 – seu smartphone 5G mais barato até então.

“É um novo movimento nos aparelhos de entrada. Estamos melhorando os recursos, trazendo atributos até então presentes na categoria intermediária”, afirmou Gustavo Assunção, vice-presidente da Samsung Brasil.

A corrida por recursos de IA nos smartphones criou uma nova categoria de gastos. Aparelhos precisam de chips especializados para processar algoritmos complexos localmente.

A Apple exemplifica essa tendência. Seu sistema Apple Intelligence exige o chip A18 – o mais avançado da empresa. Resultado: até a versão “econômica” iPhone 16e custa R$ 5.799.

Recursos como geração de texto por voz e edição de imagens por IA demandam poder computacional extra. Isso significa processadores mais caros, mais memória RAM e baterias maiores.

Marcas chinesas apostam na nacionalização

Fabricantes chineses encontraram uma saída: produzir no Brasil. A estratégia reduz custos de importação e tarifas.

A Realme inaugurou produção em Manaus com meta de 28 mil unidades mensais. Seu modelo 14T 5G sai por R$ 1.799 – preço competitivo para um aparelho com IA.

“A fábrica facilitará a adaptação dos produtos às preferências dos consumidores locais”, diz Tedy Wu, CEO da Realme para América Latina.

A Oppo seguiu caminho similar, firmando parceria com a brasileira Multilaser. Seus modelos Reno 13 começam em R$ 3.699.

Até a chinesa Jovi, da Vivo Mobile, estreou no mercado brasileiro com produção local. A empresa já incorpora componentes nacionais, eliminando custos de importação.

Taxa Selic alta trava financiamentos

Copom eleva taxa de juros para 14,75% ao ano

O Banco Central elevou a taxa básica de juros para 14,75% ao ano. O movimento visa controlar a inflação, mas prejudica o setor de eletrônicos.

Juros altos encarecem financiamentos. Como 70% dos brasileiros compram smartphones parcelado, o crédito mais caro reduz a demanda.

O resultado é visível: vendas de celulares recuaram quase 10% em 12 meses. A projeção para 2025 é de 38 milhões de unidades vendidas – 6% menos que 2024.

Teles perceberam a oportunidade. Com vendas em queda no varejo tradicional, aumentaram subsídios para smartphones em planos pós-pagos.

Dados da IDC mostram que operadoras responderam por 12,15% das vendas no início de 2025, contra 9,28% em 2024.

Tim, Claro e Vivo oferecem parcelamentos de até 20 meses. O foco está em acelerar a migração para 5G, ainda limitada no país.

Mercado ilegal complica cenário

O Brasil convive com um problema adicional: contrabando. Aparelhos ilegais respondem por quase 20% das vendas totais.

Esses produtos chegam sem impostos, criando concorrência desleal. Fabricantes legais precisam compensar essa diferença, pressionando preços para cima.

A situação força empresas a buscar alternativas. Produção local surge como única forma de competir com preços do mercado paralelo.

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