Papa Francisco com um casaco estiloso: o dia que uma imagem gerada por IA enganou o planeta

No final de março de 2023, uma imagem começou a circular nas redes sociais numa velocidade impressionante: o Papa Francisco, que faleceu na segunda-feira aos 88 anos, caminhando tranquilamente pelas ruas, usando uma jaqueta branca acolchoada, no estilo puffer jacket, com um crucifixo pendurado por fora.

Em outra versão, o casaco exibia o símbolo da AFA (Associação de Futebol da Argentina) com as três estrelas da Copa. E, em mais uma variação, o pontífice aparecia com roupas papais combinadas com tênis de couro. Tudo parecia real — mas não era. Foi gerado por inteligência artificial, mais especificamente o Midjourney.

O”Papa fashion”

 

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A foto viralizou rapidamente e confundiu muita gente. Afinal, onde estaria o Papa para ter sido clicado assim? E por que ele estaria andando sozinho, sem seguranças ou fiéis ao redor?

A resposta veio pouco depois: aquela imagem havia sido criada por inteligência artificial, usando a ferramenta Midjourney — que, na época, ainda era desconhecida do grande público. O desconhecimento em torno da ferramenta estava atrelado a capacidade de milhões em reconhecer os indícios de uma imagem gerada por IA.

Quem criou a imagem?

O responsável por essa criação foi Pablo Xavier, um trabalhador da construção civil de 31 anos, morador de Chicago. Filho de imigrantes latinos e também músico amador, Pablo teve a ideia enquanto estava sob efeito de cogumelos alucinógenos. Segundo ele, o objetivo era apenas se divertir: “Gosto de criar coisas engraçadas e arte psicodélica. Me veio na cabeça: e se eu colocasse o Papa com um casaco da Balenciaga, andando por Roma ou Paris?”, declarou na época em entrevista ao site BuzzFeed News.

Sem grandes pretensões, ele publicou a imagem em um grupo no Facebook voltado para arte feita com IA chamado AI Art Universe, e depois no Reddit – o link segue ativo até hoje. Em poucos minutos, o conteúdo explodiu. Milhões de compartilhamentos depois, Pablo foi até expulso do Reddit por violar as diretrizes da comunidade.

Um marco da IA generativa

O que começou como um experimento artístico virou um marco. A imagem do “Papa Balenciaga” — como ficou conhecida — foi a primeira criação feita por inteligência artificial que realmente enganou o mundo em larga escala. Diferente das tradicionais montagens no Photoshop, ela não exigiu conhecimentos técnicos ou ferramentas avançadas. Qualquer um com uma conta no Discord e alguma criatividade já conseguia usar o Midjourney.

A imagem também abriu o debate em torno de preocupações que estão cada vez mais em evidência no debate público: a maneira como ferramentas de IA generativa podem acabar contribuindo para a desinformação

A resposta do Papa e a reflexão ética

Pouco depois da viralização, o próprio Papa Francisco comentou sobre os riscos da IA generativa. Durante uma audiência em Roma, no dia 27 de março de 2023, ele afirmou que a inteligência artificial “afeta a forma como entendemos o mundo e a nós mesmos”. E foi além: “Não é aceitável que decisões sobre a vida de um ser humano sejam confiadas a um algoritmo.”

Em dezembro do mesmo ano, o pontífice pediu a criação de um tratado internacional para garantir o desenvolvimento e uso ético da IA, argumentando que os riscos de uma tecnologia desprovida de valores humanos, como compaixão e perdão, são grandes demais.

Já em janeiro de 2024, o Papa alertou novamente sobre os perigos da tecnologia. Ele enfatizou os riscos da “poluição cognitiva” e da disseminação de “narrativas falsas” por meio de deepfakes, destacando que essas tecnologias podem distorcer a realidade e aprisionar as pessoas em “câmaras de eco ideológicas”.

Posteriormente, do ano passado, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, o Papa declarou que a IA pode agravar a “crise da verdade” e que governos e empresas devem exercer “diligência e vigilância” no desenvolvimento dessa tecnologia

A viralização da imagem fez o Midjourney interromper o acesso gratuito

O sucesso (ou caos) gerado pela imagem do Papa teve consequências diretas. Pouco depois do caso, o Midjourney encerrou seu programa de uso gratuito. O CEO da empresa, David Holz, afirmou no Discord que a decisão foi tomada por conta do “uso excessivo e abusivo” do serviço.

Segundo ele, os sistemas de moderação ainda não estavam prontos para lidar com o volume de imagens geradas — muitas delas com figuras públicas como Donald Trump, Vladimir Putin e Emmanuel Macron em situações falsas, mas altamente convincentes.

Com o lançamento da versão 5 do Midjourney, as imagens passaram a ter ainda mais realismo: melhor iluminação, menos distorções e maior fidelidade nos rostos. Isso só aumentou o desafio de distinguir o que é real do que foi gerado por IA. Atualmente, a ferramenta está na versão 7.

A imagem que mudou tudo e apresentou o potencial da IA generativa para muitos

A foto do Papa com a jaqueta Balenciaga marcou um ponto de virada. Não foi a primeira imagem falsa da história, mas foi a primeira feita por IA que convenceu o mundo rapidamente, e também apresentou o potencial que uma ferramenta como o Midjourney poderia ter.

Ela inaugurou uma nova fase da internet: a era em que a mentira visual pode se espalhar com a mesma velocidade — e impacto — de uma notícia verdadeira. E o mais assustador: agora, qualquer pessoa com criatividade e acesso a ferramentas como o Midjourney pode fazer o mesmo.

A evolução da IA: 2023 / 2025

E como seria uma imagem parecida com a que viralizou em 2023, refeita agora em 2025? Com base na imagem de referência do Midjourney, pedimos para o ChatGPT gerar algo na mesma linha. O resultado foi o seguinte:

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