O que impede os EUA de produzirem o iPhone sem a China?

O que impede os EUA de produzirem o iPhone sem a China?

Imagine um mundo em que o próximo iPhone fosse anunciado com um selo orgulhoso de “Feito nos EUA”. Seria um marco, não é? Mas, por trás desse sonho americano, há uma realidade bem mais complicada, e ela não depende apenas de vontade política ou de um cheque generoso da Apple.

Fabricar um iPhone inteiramente nos Estados Unidos, sem contar com a China, é uma missão que esbarra em barreiras de mão de obra, expertise, infraestrutura e, claro, dinheiro. Vamos entender por quê.

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A mágica da China que os EUA não têm (ainda)

iPhones China Foxconn

Quando falamos de iPhones, não estamos falando de um produto simples. É uma junção de peças minúsculas e sofisticadas, vindas de mais de 40 países, que acabam sendo montadas em fábricas gigantescas, como as da Foxconn na China. Lá, em lugares como Zhengzhou, apelidada de “Cidade do iPhone”, até 300 mil trabalhadores operam em perfeita sincronia. Mas o segredo não está só no número de mãos disponíveis. Está na habilidade delas.

Tim Cook, o chefão da Apple, já deixou claro mais de uma vez: a China não é mais sobre mão de obra barata, isso ficou no passado. O que faz a diferença hoje é a quantidade e a qualidade dos profissionais especializados. Pense nos engenheiros que projetam as ferramentas de alta precisão para cortar metal, montar chips e ajustar cada detalhe do iPhone. Na China, você encontra tantos desses experts que eles poderiam lotar estádios. Nos EUA? Talvez nem uma sala de reunião.

Steve Jobs, em conversas com Barack Obama lá em 2010, já apontava o problema: para sustentar uma força de trabalho de 700 mil operários, como a Apple tinha na China, seriam necessários cerca de 30 mil engenheiros altamente qualificados no local. Esse é um número que os EUA simplesmente não têm à disposição. E não é só uma questão de contratar mais gente, é sobre formar uma geração inteira com habilidades específicas que a China levou décadas para desenvolver.

iPhone é um quebra-cabeça global

Apple iPhone's major supplier Foxconn

Outro detalhe que complica o sonho do “iPhone Made in USA” é a cadeia de suprimentos. As peças do iPhone vêm de dezenas de países: câmeras do Japão, telas da Coreia do Sul, chips de Taiwan e por aí vai. A China é o ponto de encontro perfeito por estar perto de potências como Taiwan e Coreia do Sul, além de ter uma infraestrutura de transporte e logística que os EUA não conseguem replicar tão cedo.

Trazer toda essa produção para o solo americano? Seria como reconstruir um ecossistema do zero. Especialistas dizem que, mesmo com esforço, levaria anos, talvez de três a cinco, para montar algo parecido, e ainda assim dependeríamos de peças asiáticas no começo.

iPhone americano seria mais caro

iPhone 16 Pro e iPhone 16 Pro Max

Agora, vamos falar de grana. Há quem diga que a Apple poderia jogar bilhões na mesa e resolver tudo. Afinal, a empresa anunciou planos de investir US$ 500 bilhões nos EUA. Mas esse dinheiro está mais ligado a projetos como servidores de IA, não à fabricação de iPhones.

Construir fábricas, treinar trabalhadores, importar máquinas de última geração e competir com a eficiência chinesa custaria uma fortuna, e o iPhone, que hoje sai por cerca de US$ 1 mil, poderia virar um produto mais caro e, pelo menos no início, de qualidade inferior. Quem toparia pagar mais por menos?

Políticos como Donald Trump e sua equipe já acenaram com a ideia de tarifas para forçar a mudança da produção para os EUA. A intenção é de trazer empregos e tecnologia de ponta para casa. Mas a prática é outra. Quando a Foxconn tentou fazer telas de TV em Wisconsin, os custos explodiram, até cinco vezes mais altos que na China, e o plano encolheu de 13 mil empregos prometidos para apenas mil. A lição? Querer não é poder.

Mesmo com robôs ajudando na linha de produção, ainda há tarefas, como colar peças minúsculas ou apertar parafusos, que só humanos fazem bem. E os EUA, ao contrário da China ou até da Índia (que já está pegando uma fatia da montagem de iPhones), não têm essa mão de obra em escala. Soma-se a isso a falta de experiência em manufatura de precisão, e o desafio fica ainda maior.

Um meio-termo é possível?

Nada é impossível, claro. Alguns especialistas acreditam que os EUA poderiam, com muito esforço, fabricar partes do iPhone, talvez com o México ou Canadá ajudando na jogada. Mas um iPhone 100% americano, sem a China? Isso é mais ficção científica do que realidade. A Apple até já tentou algo assim com o Mac Pro, mas esbarrou em problemas básicos, como encontrar parafusos suficientes por perto.

No fim das contas, fabricar iPhones nos EUA sem a China é como pedir para uma águia usar uma chave de fenda: pode até ser uma imagem divertida, mas na prática, não funciona. Por enquanto, o “Apple-cadabra” de Tim Cook vai ter que ficar no palco chinês, pelo menos até os EUA reinventarem sua mágica industrial.

Fonte: TheVerge, WSJ

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