
Microsoft quase perdeu a era da internet – até Bill Gates escrever um memorando
Microsoft quase perdeu a era da internet – até Bill Gates escrever um memorando
Quase 30 anos atrás, em maio de 1995, Bill Gates sentou-se para escrever um memorando interno que mudaria não só o rumo da Microsoft, mas também o futuro da tecnologia como a conhecemos. Batizado de “The Internet Tidal Wave” (A Onda Gigantesca da Internet), o documento era mais do que uma simples comunicação corporativa: era um grito de alerta, um mea-culpa e um plano de ação, tudo ao mesmo tempo.
Gates, o visionário por trás da gigante do software, admitia que havia subestimado a internet e que, se a Microsoft não corresse atrás do prejuízo, corria o risco de ficar para trás em uma das maiores revoluções tecnológicas da história.
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Microsoft na internet: despertar tardio de um gigante
Na época, a Microsoft dominava o mercado de sistemas operacionais com o Windows, mas a internet ainda era um território nebuloso para Gates. Em seu livro de 1995, The Road Ahead (O Caminho Adiante), ele tratava a web como um prelúdio para algo maior, uma espécie de “superestrada da informação” futurista.
Enquanto isso, uma empresa jovem chamada Netscape já surfava a onda da internet com seu navegador homônimo, que rapidamente conquistou corações, e 70% do mercado. Para piorar, Marc Andreessen, co-fundador da Netscape e apelidado por alguns como o “próximo Bill Gates”, não escondia sua ambição: transformar o navegador em uma plataforma tão poderosa que o Windows poderia ser reduzido a algo trivial, quase um acessório mal ajustado.
Gates percebeu o erro tarde demais. No memorando, ele confessava: “Passei por várias fases até aumentar minha percepção sobre a importância [da internet]. Agora, eu atribuo a ela o mais alto nível de importância”. Para ele, a web não era apenas uma moda passageira – era o desenvolvimento mais significativo desde o lançamento do IBM PC, em 1981. E a Microsoft? Estava atrasada. “Naveguei na web e quase não encontrei formatos de arquivo da Microsoft”, escreveu.
Enquanto isso, ele notava a presença constante de arquivos QuickTime, da Apple, em trailers de filmes e outros conteúdos. Até mesmo dentro da própria rede corporativa da Microsoft, encontrar informações era mais difícil do que na web aberta.
A internet como um ciclo imparável
O que impressionou Gates foi o poder da rede em expansão. Ele descreveu um fenômeno que hoje parece óbvio, mas que, em 1995, era uma revelação: a internet tinha usuários suficientes para entrar em um ciclo de retroalimentação positiva. Quanto mais gente usava, mais conteúdo aparecia; quanto mais conteúdo, mais usuários chegavam. “É uma onda gigantesca. Ela muda as regras”, declarou no fechamento do memorando. E ele estava certo, mas nem todas as regras mudariam a favor da Microsoft.
Gates também apontou o dedo para o maior obstáculo no caminho da empresa: a Netscape. Ele a chamou de “uma nova competidora nascida na internet”, uma ameaça que dominava o mercado de navegadores e ditava as extensões de rede que pegariam tração. A missão era clara: “Temos que igualar e superar as ofertas deles”. Para isso, Gates incentivou sua equipe a mergulhar de cabeça na web, usando-a e entendendo-a a fundo.
A guerra dos navegadores e as consequências
O memorando marcou o início de uma virada agressiva. A Microsoft respondeu ao desafio da Netscape integrando o Internet Explorer ao Windows 95, uma jogada que daria à empresa uma vantagem esmagadora, mas também a colocaria na mira da justiça. Em 1998, o governo dos EUA abriu um processo antitruste contra a Microsoft, acusando-a de práticas anticompetitivas. A estratégia de “empacotar” o navegador com o sistema operacional foi vista como uma tentativa de sufocar a Netscape, e um juiz federal concordou, em abril de 2000.
Para a Netscape, porém, o veredicto chegou tarde. A empresa, que já tinha sido um símbolo do potencial da internet, perdeu a “guerra dos navegadores” e acabou comprada pela America Online em 1998. A Microsoft saiu vitoriosa, mas com cicatrizes: o processo antitruste manchou sua imagem e expôs os limites de sua abordagem agressiva.
Um legado que ecoa até hoje
Olhando em retrospecto, “The Internet Tidal Wave” é mais do que um marco interno da Microsoft, é um documento histórico que captura um momento de inflexão. Gates, com sua mistura de humildade e determinação, reconheceu que a internet não era o futuro distante, mas o presente imediato. Ele redirecionou uma gigante adormecida para abraçar a web, pavimentando o caminho para o domínio do Internet Explorer e, indiretamente, para o mundo digital que vivemos hoje.
Quase três décadas depois, o memorando de Gates segue como um lembrete poderoso: até os maiores visionários podem errar, mas os que sobrevivem são aqueles que sabem se adaptar. A internet, como ele previu, mudou as regras, e a Microsoft, mesmo tropeçando no caminho, aprendeu a surfar a onda.
Fonte: 1995blog
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