Intel planeja desafiar a NVIDIA com estratégia própria de IA

Intel planeja desafiar a NVIDIA com estratégia própria de IA

Nos últimos anos, a NVIDIA se consolidou como a rainha do mercado de chips para inteligência artificial (IA), dominando desde o treinamento de modelos até a infraestrutura de data centers completos. Enquanto isso, a Intel, outrora gigante incontestável do setor de semicondutores, ficou para trás nesse segmento em expansão.

Mas, sob nova liderança, a empresa está traçando um plano ambicioso para virar o jogo. Com o novo CEO Lip-Bu Tan no comando, a Intel quer recuperar o tempo perdido com uma estratégia focada em inovação interna e soluções completas. Será que dá para enfrentar a NVIDIA? Vamos explorar como a Intel está se mexendo para entrar na briga.

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Um passado de tropeços

A Intel não é novata em IA, mas suas tentativas de competir com a NVIDIA nos últimos anos não deram certo. Entre 2016 e 2019, a empresa apostou em aquisições como Movidius, Nervana, Habana Labs e Mobileye, na esperança de que essas startups trouxessem a expertise necessária para conquistar o mercado de chips de IA.

ntel's Mobileye

Embora a Mobileye tenha se destacado em direção autônoma (e a Intel ainda mantenha uma participação na empresa após sua cisão), as outras compras não conseguiram fazer frente à NVIDIA. Enquanto a NVIDIA desenvolvia um ecossistema robusto, com chips como o H100 e software como o CUDA, a Intel ficou presa a estratégias fragmentadas que não vingaram.

Agora, a Intel está mudando de abordagem. Em vez de buscar atalhos por meio de aquisições, a empresa quer construir sua própria resposta à NVIDIA, apostando no talento interno e em uma visão mais integrada.

A nova estratégia: inovação caseira e visão holística

Intel CEO Lip-Bu Tan

Lip-Bu Tan, que assumiu como CEO em 2025, deixou claro que a recuperação da Intel no mercado de IA não será instantânea. “Não é uma solução rápida”, disse ele em uma chamada com analistas, sinalizando que o caminho será longo, mas planejado. A estratégia de Tan é centrada em três pilares principais:

  1. Reinventar o portfólio de produtos
    A Intel está revisando seus produtos existentes para adaptá-los às tendências emergentes de IA, como robótica, agentes inteligentes e aplicações em dispositivos de borda (edge). Tan quer que os chips da Intel sejam otimizados para essas novas demandas, indo além dos servidores de data centers, onde a NVIDIA reina. Isso inclui reforçar a linha Gaudi, como o Gaudi 3, que já mostrou desempenho competitivo em tarefas de treinamento e inferência de modelos de linguagem, superando o H100 da NVIDIA em alguns cenários.

  2. Soluções completas, como a NVIDIA
    A NVIDIA não vende apenas chips, ela oferece sistemas inteiros, com cabos, software e compiladores que facilitam a vida dos desenvolvedores. Tan quer que a Intel siga o mesmo caminho, criando plataformas completas que integrem hardware e software. Isso significa investir em ferramentas como o OneAPI, uma plataforma de programação open-source que suporta diferentes tipos de hardware (CPUs, GPUs e FPGAs) e pode ser uma alternativa ao CUDA da NVIDIA. O desafio é fazer com que esse ecossistema seja tão amigável e adotado quanto o da concorrente.

  3. Foco em IA na borda e eficiência
    Diferentemente da NVIDIA, que foca em GPUs de alto desempenho para data centers, a Intel está mirando também em dispositivos de borda, como PCs, workstations e IoT. Seus processadores Xeon 6, com unidades de processamento neural (NPUs) integradas, e o Gaudi 3, fabricado pela TSMC em 5 nm, são projetados para rodar modelos de IA menores e personalizados com menor consumo de energia. Essa abordagem pode atrair empresas que buscam soluções mais baratas e eficientes, especialmente em setores como saúde, manufatura e varejo.

Os desafios pela frente

A ambição da Intel é clara, mas o caminho está cheio de obstáculos. A NVIDIA não é só líder em hardware, seu ecossistema de software, centrado no CUDA, é um padrão da indústria, amplamente adotado por desenvolvedores. Para Bob O’Donnell, analista da Technalysis Research, a Intel tem potencial para se destacar, mas só se conseguir criar um suporte de software robusto que torne seus chips fáceis de usar. “É um grande ‘se’”, alerta ele.

Além disso, a Intel enfrenta concorrência não só da NVIDIA, mas também de gigantes como Amazon e Google, que estão desenvolvendo seus próprios chips de IA para reduzir custos em suas nuvens. A Intel também precisa lidar com suas próprias dificuldades financeiras. Após reportar uma perda de US$ 800 milhões no primeiro trimestre de 2025, o CFO David Zinsner afirmou que a prioridade é fortalecer o balanço financeiro, o que significa menos aquisições e mais foco em otimizar recursos internos.

Outro ponto é a escala. Como Hendi Susanto, da Gabelli Funds, observou, os segmentos de IA em borda e aplicações específicas têm potencial, mas o ritmo e o tamanho do crescimento ainda são incertos. A Intel precisa provar que pode competir em um mercado onde a NVIDIA já tem 80% de participação nos aceleradores de IA.

Por que a Intel ainda tem chance?

 Gaudi 3

Apesar dos desafios, a Intel tem cartas na manga. Sua longa história de inovação em semicondutores, combinada com a infraestrutura de manufatura (Intel Foundry), dá à empresa uma base sólida para construir. A Gaudi 3, por exemplo, já mostrou ser até 50% mais rápida que o H100 da NVIDIA em treinamento de certos modelos e mais eficiente em inferência, tudo a um custo menor. Além disso, a Intel está aproveitando parcerias estratégicas, como a fabricação pela TSMC, para entregar chips de ponta enquanto aprimora sua própria fundição.

A aposta em IA na borda também é promissora. Com a crescente adoção de modelos menores e personalizados, especialmente em indústrias como saúde e varejo, a Intel pode encontrar um nicho onde a eficiência e o custo são mais importantes que a potência bruta. E, ao contrário da NVIDIA, que depende majoritariamente de GPUs, a Intel tem um portfólio diversificado, incluindo CPUs, GPUs e NPUs, o que lhe dá flexibilidade para atender diferentes necessidades.

O que isso significa para o mercado?

A nova estratégia da Intel é um sinal de que o mercado de IA está ficando mais competitivo. A NVIDIA continua sendo a líder, mas a entrada de jogadores como a Intel, com chips mais acessíveis e foco em aplicações diversificadas, pode beneficiar empresas que buscam alternativas. Para os consumidores finais, isso pode significar serviços de IA mais baratos e eficientes, desde assistentes virtuais até robôs em fábricas.

Por enquanto, a Intel está no começo de uma jornada longa e incerta. Lip-Bu Tan está apostando que, com inovação interna e uma abordagem integrada, a empresa pode recuperar seu lugar no pódio da tecnologia. Se vai dar certo, só o tempo dirá, mas uma coisa é certa: a briga pela liderança em IA nunca esteve tão interessante.

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