
Elon Musk ficou rico com ajuda do pai? A tal mina de esmeraldas existiu mesmo? Entenda em detalhes
Elon Musk ficou rico com ajuda do pai? A tal mina de esmeraldas existiu mesmo? Entenda em detalhes
Elon Musk vive um momento delicado. Suas próprias escolhas o colocaram num redemoinho complicado de sair, e que, definitivamente, ao conseguir passar por isso, os efeitos em sua imagem ficarão entranhados, sem margem para uma reversão completa.
Musk saiu de um reconhecimento público invejável de uma espécie de Tony Stark da vida real — servindo inclusive como base para a criação do personagem no universo cinematográfico da Marvel — para alguém que realmente está atraindo uma espécie de ódio mortal, devido ao seu envolvimento com política, declarações e ações.
Percepção pública que tem impactado seus negócios, ações da Tesla despencando, e uma crise de imagem fortíssima. Por parte dos detratores, uma enxurrada de argumentos para tentar descredibilizar suas conquistas, ou minimizá-las. Dentre a lista de apontamentos, um é presença tarimbada em 9 de 10 tentativas de destruí-lo publicamente: a tal mina de esmeraldas que seu pai, Errol, teria, e que foi determinante para dar o empurrão inicial em Elon para a vida. Nada de uma história de alguém que venceu por seus próprios méritos, e sim uma ajuda paternal direta.
Esse tema é altamente complexo, e necessita de um olhar sem paixões. Esse é o convite que te faço aqui neste artigo. Vamos nos ater aos inúmeros fatos, baseados em declarações dos envolvidos, para entender esse assunto e tentar visualizar uma certa ordem no caos sobre esse polêmico tema da suposta mina e também compreender a complexidade dessa família. Vamos nessa!
Uma família digna de sitcom caótico e soturno
É impossível dissociar o estilo de Elon Musk, sua maneira de encarar a vida, a forma como escolhe as lutas que irá comprar, e seu modo ácido e direto de falar de certas coisas, de sua infância e dos inúmeros problemas que foram plantados desde então.
Elon e seus irmãos cresceram no que hoje chamamos de uma família disfuncional. Na verdade, talvez um termo menos polido seja o mais adequado para descrever especificamente essa relação familiar.
Como temos um ponto claro de cisão, uma relação que não acabou bem, entre os pais de Musk, Maye Musk e Errol Musk, cada lado pode pesar um pouco mais a “dose na tinta” na hora de pintar o que foi essa relação, a fim de apontar o vilão. Mas uma coisa é fato incontestável: Errol causou um impacto negativo severo tanto nos filhos quanto na sua ex-esposa.
Maye e Errol: um casamento infernal
O relacionamento entre Errol Musk e Maye Musk começou no final da década de 1960. O sul-africano Errol é engenheiro eletromecânico de formação e também atuou como empreiteiro e político local. Em 1972, foi eleito para o conselho municipal de Pretória pelo Partido Progressista, que fazia oposição ao apartheid.
Já Maye, nascida no Canadá, mudou-se ainda criança para a África do Sul em 1950, quando sua família imigrou. Ela construiu sua carreira como modelo e nutricionista, tendo sido finalista do concurso Miss África do Sul em 1969.
A relação deles não teve altos e baixos — teve baixos e subterrâneos. Maye descreve seu casamento com Errol, que aconteceu em 1970, em sua autobiografia A Woman Makes a Plan: Advice for a Lifetime of Adventure, Beauty, and Success (2020), como infernal, doloroso, brutal e implacável. Segundo ela, logo na lua de mel ocorreu a primeira agressão física.

O próprio casamento foi organizado de forma estranha. Ela lembrou que havia dito não para ele, mas que ele retornou para Pretória e disse aos pais dela que ela havia concordado com o casamento — o que causou surpresa, já que os pais de Maye nem sabiam que eles estavam namorando. A família dela organizou tudo e enviou os convites antes que ela soubesse. Apontando pressão social, ela resolveu casar. E daí em diante foi ladeira abaixo.
Abusos e traumas de infância
Mesmo achando que era um erro, Maye considerava impossível se livrar do relacionamento. Em meio aos abusos, a relação avançou rapidamente, e eles tiveram três filhos em um período de três anos e três semanas: Elon Musk (nascido em 1971), Kimbal (1972) e Tosca (1974).
Elon, Kimbal e Tosca presenciaram alguns dos abusos. Um dos mais significativos aconteceu quando Tosca e Kimbal tinham dois e quatro anos, respectivamente, e Elon Musk tinha cinco. Musk tentava parar a violência física do pai contra a mãe atingindo a parte de trás dos joelhos dele.
Em dado momento da relação, os abusos físicos cessaram, mas o abuso verbal progrediu, incluindo ameaças de cortar o rosto dela com lâminas e atirar nos joelhos dos filhos caso ela o deixasse.
Na época, a lei sul-africana não considerava o abuso um motivo legal para divórcio. A situação só mudou quando foram aprovadas as leis de ruptura irremediável do casamento. Com isso, Maye conseguiu dar prosseguimento ao processo, e eles se separaram em 1979.
Do luxo ao sacrifício
Quando se casaram, Errol não tinha uma situação financeira confortável, mas acabou se dando muito bem como engenheiro, e seu padrão de vida subiu. No início dos anos 70, a família de Musk possuía um padrão de vida de classe média alta, com uma das maiores casas de Pretória.
Com o divórcio, Maye ficou com a guarda de Elon e dos dois irmãos mais novos, e o juiz determinou que Errol daria a ela 5% de sua renda e pagaria despesas escolares, médicas e odontológicas — mas ele nunca o fez. Também ficou acordado que ele deveria dar a ela um carro de quatro portas, mas deu o mais barato dos seis automóveis que possuía. Errol também a processou repetidamente pela custódia dos filhos pelos próximos dez anos.
O cenário então foi de um polo ao outro: Elon Musk e seus irmãos tinham uma vida confortável na infância, mas rapidamente evoluiu para uma situação complicada e de escassez, vivendo com a mãe, que precisou se virar como pôde para se manter e custear a vida dos filhos.
Um pai contraditório
Elon relembrou, em entrevista ao The New Yorker em 2009, que sua mãe exagera um pouco sobre o papel dela em sua criação, mas reconhece as dificuldades. Quando tinha oito anos, ele e os irmãos passaram a viver com a mãe e uma série de babás em diversas cidades sul-africanas.
Durante os fins de semana e férias com o pai, vivenciaram viagens internacionais — como esquiar na Áustria ou visitar Hong Kong e Nova York — embora a diversão fosse dividida com momentos de desconforto causados pelo estilo autoritário de Errol.
Na biografia de Elon Musk, escrita por Walter Isaacson e lançada em 2023, Errol admite ter incentivado uma certa dureza física e emocional. Ele se orgulhava de impor uma “autocracia urbana” severa aos filhos. Parte desse rigor envolvia insultos, como “débil mental” ou “idiota”, e até mesmo “surpresinhas” para Maye — como mandar os filhos sem malas, obrigando-a a arcar com roupas novas, mesmo sem recursos.
Devido ao seu jeito introvertido, Elon sofria bullying severo na escola, apanhava com frequência e se envolvia em algumas confusões. Numa delas, a briga começou quando Elon se desentendeu com um menino que havia perdido o pai, que se suicidara. Segundo Errol, Elon teria chamado o garoto de “burro”.
A agressão desfigurou o rosto de Elon. Quando ele recebeu alta do hospital, viveu um momento que Kimbal descreve como a pior lembrança da vida. Elon relembra que teve que ficar em pé por uma hora enquanto o pai gritava com ele, chamando-o de idiota e dizendo que ele era um inútil.
As esmeraldas entram em cena
Com o tempo, Errol conseguiu casa, iate, avião e seis carros. Diz ter tido um cofre cheio de dinheiro em casa. O avião, inclusive, foi peça-chave na história da mina de esmeraldas.
Em 1986, durante uma viagem à Zâmbia para vender seu avião, Errol aceitou esmeraldas brutas como forma de pagamento, em vez de dinheiro. O comprador ofereceu uma parte da produção de três pequenas minas na região do Lago Tanganica.
Errol levava ilegalmente as esmeraldas para lapidar em Joanesburgo. Chegou a admitir que muitas dessas pedras eram de origem duvidosa. A mina nunca foi formalizada, ele temia a intervenção do governo.
Em 2023, Maye Musk disse que ouviu falar da história da mina muitos anos depois, em um post no Twitter. Elon, por sua vez, rejeita fortemente o boato. Em 2019, afirmou que o pai não era dono de mina nenhuma e que terminou a faculdade com cerca de 100 mil dólares em dívidas.
He didn’t own an emerald mine & I worked my way through college, ending up ~$100k in student debt. I couldn’t even afford a 2nd PC at Zip2, so programmed at night & website only worked during day. Where is this bs coming from?
— Elon Musk (@elonmusk) December 28, 2019
Em 2023, ofereceu 1 milhão de dogecoins para quem apresentasse qualquer prova da existência da mina.
I will pay a million Dogecoin for proof of this mine’s existence!
— Elon Musk (@elonmusk) April 12, 2023
Nesse mesmo ano, Musk afirmou que seu pai teve sucesso com uma empresa de engenharia elétrica/mecânica por cerca de 25 a 30 anos, mas posteriormente enfrentou dificuldades financeiras, tornando-se essencialmente falido por aproximadamente 25 anos, período durante o qual Elon e seu irmão forneceram apoio financeiro a ele.
I grew up in a lower, transitioning to upper, middle income situation, but did not have a happy childhood. Haven’t inherited anything ever from anyone, nor has anyone given me a large financial gift.
My father created a small electrical/mechanical engineering company that was…
— Elon Musk (@elonmusk) May 6, 2023
Numa entrevista em 2018 para Business Insider, Errol disse que em uma viagem a Nova York nos anos 1980, ele estava com Elon e Kimbal quando levou algumas esmeraldas brutas no bolso do paletó. “Nós apenas caminhamos até a Tiffany’s e vendemos as esmeraldas. Um dos meninos perguntou: ‘E se a gente for até a Tiffany?’ Então entramos, mostramos as pedras e vendemos.” E eles venderam duas esmeraldas, uma era de US $ 800, e eu acho que a outra era por US $ 1.200.”
Embora haja indícios de que Errol teve envolvimento com esmeraldas na Zâmbia, não era proprietário de uma grande mineradora. Tratava-se de um acordo informal e temporário, cujos lucros não foram utilizados para alavancar os empreendimentos de Elon.
Aos 17 anos, Elon Musk emigrou para o Canadá sozinho. Essa mudança contou com um apoio financeiro dos seus pais. Sua mãe retirou US$ 2 mil de suas economias e passou para Elon, seu pai também o ajudou outros 2 mil dólares em forma de cheques de viagens.
Com esse valor, os US$ 4 mil mais algumas economias, ele desembarcou no Canadá, e acabou perdendo todo esse dinheiro quando sua mala foi extraviada. Ele teria que começar sua vida no novo país do zero. Trabalhou em serviços braçais, como limpar caldeiras em uma serraria e pá carregadeira em fazendas, antes de ingressar na universidade.
Para cursar a Queens Univcersity e depois a Universidade da Pensilvânia, ele contou com bolsas de estudo, créditos e bicos. Foi assim que ele e o irmão, Kimbal, acumularam uma gigantesca dívida estudantil.
O pai foi um investidor da primeira startup de Elon?
Além da questão da mina de esmeraldas, outro tópico envolvendo dinheiro também é constantemente mencionado na relação entre Elon e Errol Musk. E, novamente, há relatos conflitantes.
Em 1992, Elon saiu do Canadá e foi para os Estados Unidos para cursar a Universidade da Pensilvânia. Em 1995, ele se juntou ao irmão Kimbal para fundar sua primeira startup, a Zip2.
Segundo a biografia escrita por Ashlee Vance e publicada em 2015, Errol Musk teria contribuído com US$ 28 mil nesse início.
O livro menciona o seguinte:
“Errol Musk deu 28 mil dólares aos filhos para ajudá-los nesse período, porém eles estavam mais ou menos quebrados depois de conseguir o espaço do escritório, licenciar o software e comprar alguns equipamentos. Nos primeiros três meses de vida da Zip2, os dois moraram no escritório.”
Elon nega enfaticamente: diz que o pai prometeu, mas nunca investiu. O capital inicial teria vindo de investidores-anjo do Vale do Silício, e, mesmo assim, havia muita dificuldade nessa fase inicial. Conforme relembrou nesse tweet de dezembro de 2019, ele disse que não tinha nem condições de comprar um segundo PC na Zip2, então programava à noite e o site só funcionava durante o dia.
Em 2017, durante uma entrevista para a Rollings Stones, Musk também falou sobre o tema:
“Uma coisa que ele alega é que nos deu um montão de dinheiro para começarmos nossa primeira empresa. Isso não é verdade”,
Um ponto é incontestável: Errol foi importante na introdução de Elon ao mundo da informática.
“Elon era uma criança muito independente e concentrada em casa comigo. Adorava informática antes de se saber o que era isso na África do Sul, e sua capacidade foi amplamente reconhecida na época em que tinha doze anos. As atividades de Elon e seu irmão Kimbal quando crianças e adolescentes foram tantas e tão variadas que é difícil citar apenas uma, já que eles viajaram juntos comigo extensivamente pela África do Sul e pelo mundo em geral, visitando todos os continentes com regularidade, dos seis anos em diante, relembrou Erro na biografia de 2015 de Musk.
A relação de Elon com o pai se deteriorou com o tempo. Ele o descreveu como “uma pessoa terrível”, citando traumas da adolescência. Mesmo após ficar rico, Elon apenas enviava uma mesada mensal de US$ 2 mil a Errol — valor que parou de pagar em 2017 após novos desentendimentos. Errol relembrou isso numa entrevista ao Daily Mail em 2018. “Eles me apoiavam financeiramente, mas cortaram isso. Elon disse que eu cometi coisas ruins. Foi por volta de 2017.”
Em 2024, após 7 anos sem se encontrarem, Errol participou de um lançamento de foguete da SpaceX no Texas, onde Elon o apresentou ao público como seu pai e mencionou que aprendeu engenharia com ele. Errol respondeu modestamente, dizendo que não poderia ensinar engenharia a Elon.
Em suma, Elon veio de uma família com altos e baixos financeiros, mas não iniciou sua carreira com uma fortuna herdada, tampouco foi beneficiado diretamente por uma mina de esmeraldas.
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