A história do Clippy: o assistente virtual mais odiado da história

A história do Clippy: o assistente virtual mais odiado da história

Imagine abrir um documento para escrever uma carta e, de repente, ser interrompido por um clipe de papel animado com olhos esbugalhados e sobrancelhas dançantes, insistindo em “ajudar”. Parece um pesadelo, né? Pois esse foi o dia a dia de quem usou o Microsoft Office nos anos 90 e início dos 2000.

Estamos falando do Clippy, o assistente virtual que nasceu com boas intenções, mas acabou virando sinônimo de irritação e, para muitos, o maior fiasco da história da tecnologia. Vamos mergulhar na trajetória desse personagem que, entre tropeços e críticas, marcou época.

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O nascimento de um sonho frustrado

A história do Clippy começa em meados dos anos 90, quando a Microsoft já era um titã dos computadores pessoais graças ao Windows. Depois de transformar a navegação chata do DOS em algo mais amigável, a empresa queria ir além. Em 1995, lançou o Microsoft Bob, um sistema operacional que tentava imitar uma casa: clique na “chequeira” para abrir um programa financeiro, por exemplo. A ideia era ser fofo e intuitivo, mas o resultado? Um fracasso tão grande que até o Comic Sans, aquele tipo de letra que todo mundo ama odiar, nasceu ali.

project bob

O Bob não vingou, mas um de seus habitantes sobreviveu: o Clippit, um clipe de papel animado criado pelo ilustrador Kevan Atteberry. Entre mais de 250 personagens testados, ele foi o escolhido para dar um salto maior. Em 1996, a Microsoft decidiu colocá-lo no Office como um assistente virtual para ajudar usuários a dominar o Word, Excel e cia. Batizado carinhosamente (ou não) de Clippy pelos usuários, ele aparecia toda vez que você começava uma carta com “Prezado” ou mexia em algo que ele achava que precisava de um toque de “sabedoria”.

Clippy

Clippy: um ajudante que ninguém pediu

No começo, até dava pra achar graça. Um clipe saltitante oferecendo dicas podia ser divertido, por uns cinco minutos. Mas, à medida que os usuários ficavam mais experientes, o Clippy não entendia o recado. Ele continuava aparecendo, bisbilhotando seus documentos com aqueles olhos inquietos que pareciam invadir sua privacidade. Testes iniciais já tinham dado o alerta: grupos de foco achavam o olhar dele “assustador”. Mesmo assim, a Microsoft ignorou os sinais e lançou o assistente no Office 96 e 97, onde ele virou um hóspede indesejado.

Clippy

Desligar o Clippy não era fácil. Nos primeiros anos, a única saída era mexer nos arquivos do programa, como renomear a pasta “Actors” para “NoActors”, por exemplo. Ele não estava sozinho: havia outros assistentes, como o Genius (um Einstein caricatural) e o Power Pup (um cachorro esperto), mas o Clippy era o padrão, e seu jeitinho insistente ficou gravado na memória e nos nervos de quem usava o Windows.

https://youtu.be/PxcIC7o-Mec?si=pAhHFfaK5BRGmynQ&t=144

Por que ele durou tanto?

Você deve estar se perguntando: se todo mundo odiava, por que a Microsoft demorou tanto pra se livrar dele? Parte da resposta está no Bob, aquele projeto fracassado que deu origem ao Clippy. Quem liderou o Bob foi Melinda French, que depois virou Melinda Gates, esposa de Bill Gates na época. Segundo James Fallows, que escreveu sobre sua experiência na Microsoft para o The Atlantic, isso pode ter influenciado a relutância em matar o personagem. Não que fosse o único motivo, mas ninguém parecia muito animado pra puxar o plugue.

O Clippy ganhou um leve retoque no Office 2000, mas só em 2002 ele foi finalmente desligado por padrão. A Microsoft até brincou com a situação, lançando um jogo onde você podia “atirar” no clipe com uma pistola de grampos. Em 2007, com uma nova versão do Office, ele sumiu de vez… ou quase.

Clippy

O legado: de vilão a meme

Depois que o Clippy saiu de cena, algo curioso aconteceu: o ódio virou nostalgia. Longe da tela, ele começou a inspirar fanarts, de desenhos engraçados a coisas mais… peculiares. Em 2015, o escritor Leonard Delaney lançou Conquered by Clippy, uma história erótica de 16 páginas sobre o clipe e uma humana, um delírio que pode ser lido como crítica à tecnologia ou só como uma bizarrice mesmo.

Clippy

Em 2017, um programador anônimo criou uma extensão pro Chrome que fazia o Clippy aparecer em qualquer site. E, em 2021, a Microsoft brincou com a ideia de trazê-lo de volta como emoji no Microsoft 365 (se um tuíte ganhasse 20 mil likes) e até o colocou como sticker no Teams.

Clippy

O fim de uma era. Ou será que não?

O Clippy foi um erro que a Microsoft pagou caro pra aprender. Ele queria ser um amigo útil, mas virou um símbolo de como boas intenções podem dar errado quando não escutam o usuário. O Clippy não derrubou a empresa, mas deixou uma marca única: um clipe de papel que, por quase uma década, foi o ajudante que ninguém queria.

Hoje, ele é mais um meme do que uma ameaça. Prova de que, na tecnologia, até os maiores desastres podem ganhar um lugar no coração (ou no deboche) da gente.

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