Quem é a Wiz e por que o Google pagou US$ 32 bilhões por essa empresa?

Quem é a Wiz e por que o Google pagou US$ 32 bilhões por essa empresa?

A Alphabet, empresa controladora do Google, anunciou em 18 de março de 2025 a aquisição da Wiz por impressionantes US$ 32 bilhões. Esta mega-aquisição representa o maior investimento já realizado pela gigante das buscas em toda sua história, superando amplamente a compra da Motorola Mobility por US$ 12,5 bilhões em 2012. O movimento evidencia a crescente importância da segurança cibernética no cenário atual e revela a determinação do Google em fortalecer sua posição no competitivo mercado de computação em nuvem.

A aquisição da Wiz, uma startup israelense de segurança cibernética especializada em proteção para ambientes de nuvem, ocorre num momento estratégico para o Google Cloud, que atualmente ocupa a terceira posição no mercado global de computação em nuvem, atrás da Amazon Web Services (AWS) e do Microsoft Azure. O valor expressivo pago pela companhia e os termos do acordo têm gerado intenso debate sobre o futuro do setor e as implicações estratégicas dessa movimentação.

Neste artigo você conhecerá quem a Wiz, quando e por quem ela foi fundada, o que ela fez no mercado de tecnologia e os motivos que levaram o Google a pagar US$ 32 bilhões para ter o controle da empresa.

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A trajetória meteórica da Wiz: de startup a gigante bilionária em apenas cinco anos

Wiz

Para entender o valor estratégico dessa aquisição, é fundamental conhecer a história excepcional dessa empresa israelense. A Wiz foi fundada em 2020 por quatro israelenses com profunda experiência em segurança digital: Assaf Rappaport, Yinon Costica, Ami Luttwak e Roy Reznik. O quarteto se conheceu durante o serviço militar obrigatório na Unidade 8200, divisão de elite das Forças de Defesa de Israel especializada em inteligência e guerra cibernética, frequentemente comparada à NSA americana.

Curiosamente, esta não foi a primeira empreitada bem-sucedida dos fundadores. Em 2012, eles criaram a Adallom, uma startup focada em proteger dados sensíveis de empresas na nuvem, que foi adquirida pela Microsoft em 2015 por US$ 320 milhões — um valor significativo, mas que representa apenas 1% do montante pago pelo Google para a aquisição da Wiz.

Em apenas cinco anos de existência, a Wiz alcançou um crescimento extraordinário que poucos conseguiram replicar no mercado de tecnologia. Estabelecida com sede em Nova York (embora tenha sido fundada em Tel Aviv), a startup rapidamente se consolidou como uma das empresas de software de crescimento mais acelerado do mundo. Em 2023, já registrava US$ 500 milhões em receita recorrente anualizada e projetava dobrar esse valor para US$ 1 bilhão até 2025.

O sucesso meteórico da Wiz naturalmente atraiu investidores de peso. Em sua última rodada de financiamento antes da aquisição, a empresa captou US$ 1 bilhão e foi avaliada em US$ 12 bilhões — menos da metade do valor pelo qual foi adquirida. Entre seus principais investidores estavam fundos renomados como Andreessen Horowitz, Lightspeed Venture Partners, Sequoia Capital, Index Ventures, Insight Partners, Salesforce Ventures e Cyberstarts.

Entendendo o que a Wiz oferece

Wiz

O valor extraordinário pago pelo Google não é resultado apenas do crescimento acelerado da Wiz, mas principalmente da relevância estratégica de sua tecnologia. A startup desenvolveu uma plataforma unificada para proteção de ambientes de computação em nuvem que se diferencia significativamente das soluções tradicionais.

Entre os principais recursos que tornaram a plataforma da Wiz um ativo tão valioso estão:

  • Visibilidade completa: A plataforma oferece uma visão abrangente de todo o ambiente em nuvem, permitindo identificação rápida de riscos e vulnerabilidades que muitas vezes passam despercebidos em sistemas convencionais.
  • Conformidade contínua: O sistema avalia constantemente o ambiente em relação a estruturas de conformidade integradas, como PCI DSS, facilitando a geração de relatórios de conformidade — um recurso particularmente valioso para empresas que precisam atender a rígidas regulamentações.
  • Proteção avançada de dados: Com recursos de Gerenciamento de Postura de Segurança de Dados (DSPM), a tecnologia identifica onde os dados sensíveis estão armazenados e elimina possíveis caminhos de ataque, protegendo informações críticas.

Um diferencial fundamental da plataforma, e provavelmente um dos fatores mais atrativos para o Google, é sua capacidade de integração com múltiplos provedores de nuvem. A solução da Wiz é compatível com Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure, Oracle Cloud e Google Cloud, oferecendo uma verdadeira abordagem multicloud — estratégica num mercado onde as empresas cada vez mais utilizam serviços de diferentes provedores simultaneamente.

A eficácia dessas soluções é comprovada pela impressionante lista de clientes da Wiz, que inclui empresas de grande porte como Salesforce, Morgan Stanley, ASOS, Siemens, Chipotle, BMW e LVMH. Atualmente, a startup atende quase metade das 100 maiores companhias dos Estados Unidos, demonstrando sua penetração significativa num mercado altamente competitivo.

Como todo peixe grande, a Wiz deu trabalho para ser comprada

A aquisição da Wiz pela Alphabet não foi um processo simples e nem rápido. As negociações tiveram seus altos e baixos, revelando o interesse crescente do Google e a confiança da startup em seu próprio valor. Menos de um ano antes, em 2024, o Google havia oferecido US$ 23 bilhões pela empresa — proposta que foi rejeitada pelos fundadores e investidores. Lembra que a Wiz havia sido avaliada em US$ 12 bilhões? Pois é, mesmo oferecendo US$ 11 bilhões a mais a gigante das buscas não tinha convencido os donos a vender a empresa.

Na época da recusa, a Wiz preferiu manter sua independência, com planos de realizar uma oferta pública inicial (IPO). Preocupações com possíveis obstáculos regulatórios também influenciaram a decisão inicial de não vender, especialmente considerando o ambiente antitruste cada vez mais rigoroso para as gigantes de tecnologia.

O que fez a diferença? O aumento significativo da oferta — aproximadamente 40% a mais que a proposta original — foi determinante para o fechamento do negócio. Além disso, o acordo inclui US$ 1 bilhão em bônus de retenção para os 1.700 funcionários da Wiz, o que representa, em média, US$ 588 mil por colaborador — um movimento estratégico para garantir a permanência do talento que construiu a empresa.

Thomas Kurian, CEO do Google Cloud, liderou pessoalmente as negociações, destacando que a aquisição ajudará a “simplificar o acesso à segurança digital para empresas de todos os portes”. Para os investidores da Wiz, como Sequoia Capital e Index Ventures, a venda representa um excelente retorno sobre o investimento, considerando a valorização expressiva em tão pouco tempo.

Por que o Google pagou tanto pela Wiz?

Wiz

Para compreender plenamente o significado dessa mega-aquisição, é essencial analisar os fatores estratégicos que motivaram o Google a fazer o maior investimento de sua história em uma única empresa. A aquisição da Wiz não é apenas uma compra de tecnologia, mas parte de uma estratégia multifacetada para fortalecer a posição do Google em diversos segmentos críticos.

A batalha pela nuvem

Um dos principais motivadores é o fortalecimento da posição do Google Cloud no mercado de computação em nuvem. Atualmente, o Google ocupa a terceira posição, com aproximadamente 12% de participação, significativamente atrás da Amazon Web Services (líder com quase um terço do mercado) e do Microsoft Azure (com cerca de 21%).

Apesar do crescimento de 30% na receita de nuvem da Alphabet no último trimestre, o desempenho ficou abaixo das expectativas dos investidores, ressaltando a necessidade de movimentos estratégicos para impulsionar este segmento. A integração das capacidades da Wiz representa uma oportunidade para o Google não apenas melhorar seus serviços, mas também atrair novos clientes corporativos que valorizam a segurança como um diferencial competitivo.

Segurança na era da inteligência artificial

A aquisição também se alinha ao foco crescente da Alphabet em inteligência artificial e proteção de dados. O CEO do Google, Sundar Pichai, destacou que “a inteligência artificial apresenta novos riscos, mas também novas oportunidades”. A era da IA tem transformado radicalmente o cenário de segurança, criando novos vetores de ataque e aumentando exponencialmente a complexidade dos desafios de proteção.

Entre os objetivos estratégicos relacionados à IA, o Google destacou a intenção de melhorar a forma como a segurança é projetada, operada e automatizada, além de ampliar as equipes de segurança cibernética fornecendo uma plataforma avançada. A empresa também busca reduzir o custo para os clientes na implementação e gerenciamento de controles de segurança, especialmente em ambientes cada vez mais complexos e heterogêneos.

Estratégia multicloud e operação independente

Um aspecto fundamental da estratégia de aquisição é que, mesmo após a compra, a Wiz continuará operando como uma plataforma independente e oferecendo seus serviços a outras plataformas de nuvem, incluindo os concorrentes diretos do Google. As empresas destacaram em comunicado oficial: “Os produtos da Wiz continuarão disponíveis para todas as principais nuvens, incluindo Amazon Web Services, Microsoft Azure e Oracle Cloud, e serão oferecidos aos clientes por meio de uma variedade de soluções de parceiros de segurança“.

Esta abordagem reflete um reconhecimento inteligente da realidade do mercado atual, onde muitas empresas adotam uma estratégia multicloud, utilizando diferentes provedores simultaneamente. Com esta estratégia, o Google poderá capturar valor no mercado de segurança cibernética mesmo quando os clientes utilizam serviços de nuvem de concorrentes — uma visão pragmática que pode maximizar o retorno sobre o investimento bilionário.

O que essa aquisição muda no mercado de tecnologia?

A aquisição da Wiz pelo Google terá repercussões significativas tanto no mercado de segurança cibernética quanto no ecossistema mais amplo de tecnologia e serviços em nuvem. Especialistas do setor preveem uma série de consequências importantes.

A entrada decisiva do Google no mercado de segurança em nuvem pode desencadear uma onda de investimentos no setor, à medida que outras empresas buscam fortalecer suas defesas digitais. Para o analista Dan Ives, da Wedbush Securities, a aquisição dá ao Google oportunidades de monetização em serviços de nuvem e cibersegurança para voltar a um pé de igualdade em relação a outras grandes empresas de tecnologia.

Este movimento pode provocar uma resposta competitiva de empresas como Microsoft e Amazon, potencialmente levando a mais aquisições no setor de segurança cibernética nos próximos meses. A valorização de startups desse segmento já começou a refletir essa expectativa, com aumentos significativos nas avaliações de empresas comparáveis.

Fusões e aquisições desse porte tipicamente enfrentam rigoroso escrutínio regulatório. A aquisição será um teste importante para a administração de Donald Trump e sua postura diante de fusões e aquisições no setor de tecnologia. Embora a expectativa seja que a tendência antiregulação do governo Trump imponha menos barreiras para a aprovação do negócio, o processo não será automático.

O Google já enfrenta dois processos antitruste nos Estados Unidos: um sobre seu negócio de buscas, no qual um juiz já determinou que a empresa detém um monopólio, e outro sobre seu domínio na publicidade digital. Inclusive, em um desses processos, o governo americano quer que o Google venda o Android para diminuir este monopólio. Este contexto regulatório complexo pode influenciar significativamente o processo de aprovação, que não deve ser concluído antes de 2026, segundo as próprias empresas.

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