O que o criador do Estúdio Ghibli pensa sobre inteligência artificial?

O que o criador do Estúdio Ghibli pensa sobre inteligência artificial?

A recente atualização do ChatGPT que permitia transformar fotos em desenhos no estilo Studio Ghibli gerou polêmica nas redes sociais. Enquanto alguns usuários aderiram à tendência, inclusive Sam Altman, CEO da OpenAI, muitos artistas e fãs do estúdio japonês criticaram o que consideram apropriação indevida do estilo visual da empresa. A controvérsia levanta questões importantes sobre ética, direitos autorais e o impacto da inteligência artificial na arte.

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A opinião de Hayao Miyazaki sobre IA

Embora o Studio Ghibli não tenha feito pronunciamento oficial sobre o uso de seu estilo visual pelo ChatGPT, declarações passadas de Hayao Miyazaki, cofundador e diretor mais renomado do estúdio, sugerem forte oposição à tecnologia. Em 2016, durante apresentação da empresa DWANGO Co., Miyazaki assistiu a uma demonstração de IA que gerava movimentos corporais grotescos baseados em modelos treinados.

A reação do diretor foi de repulsa imediata. Longe de se impressionar com a tecnologia, Miyazaki associou os movimentos artificiais ao sofrimento de pessoas com deficiências físicas, afirmando:

Eu não consigo assistir a essa coisa e achá-la interessante. Quem cria essas coisas não tem ideia do que significa a dor. Eu estou completamente enojado. Se você realmente quer fazer coisas assustadoras, pode ir em frente e fazer. Eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia no meu trabalho. Sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida.

A polêmica do estilo “ghiblificado” no ChatGPT

A tendência de transformar fotos no estilo Ghibli usando o ChatGPT teve vida curta. Após muitos usuários utilizarem a ferramenta para criar versões estilizadas de imagens sensíveis, como o ataque de 11 de setembro de 2001, o recurso foi desativado pela OpenAI (pelo menos para os usuários gratuitos). A empresa atribuiu a suspensão a uma “sobrecarga de GPUs”, sem previsão de retorno.

Um ponto crítico da controvérsia é a ausência de licenciamento formal. Quando questionada pela Associated Press, a OpenAI não esclareceu se possui algum acordo com o Studio Ghibli que permita o uso de suas obras para treinar seus algoritmos. A empresa alega ter implementado “gatilhos” que impedem a imitação de artistas específicos, mas aparentemente não bloqueia a reprodução do estilo visual de estúdios de animação.

A posição de Miyazaki sobre inteligência artificial se alinha com temas recorrentes em seus filmes. As obras do diretor frequentemente exploram a relação entre humanidade e tecnologia, geralmente apresentando uma visão crítica sobre o uso indevido de avanços técnicos.

Filmes como “Princesa Mononoke” e “O Castelo no Céu” abordam conflitos entre preservação da natureza e progresso tecnológico. Em suas narrativas, os abusos tecnológicos costumam resultar em consequências negativas, refletindo a filosofia do diretor sobre a necessidade de equilíbrio e respeito pela vida em todas as suas formas.

Princesa Mononoke

A priorização da criatividade humana e do trabalho manual é outra marca registrada do Studio Ghibli. O estúdio é conhecido por manter técnicas tradicionais de animação desenhada à mão, mesmo em uma era dominada por animação digital. Essa abordagem reflete uma valorização do toque humano que parece fundamentalmente incompatível com a geração automatizada de arte por IA.

Implicações éticas e futuro da IA na arte

Estúdio Ghibli

O caso levanta questões importantes sobre propriedade intelectual no contexto da inteligência artificial. Empresas de IA generativa costumam treinar seus modelos usando milhões de imagens coletadas da internet, muitas vezes sem autorização explícita dos criadores originais.

Artistas e estúdios como o Ghibli enfrentam um dilema crescente: como proteger seus estilos distintivos em uma era onde algoritmos podem aprender e replicar características visuais específicas? A capacidade da IA de “inspirar-se” em trabalhos existentes levanta a fronteira entre homenagem, imitação e apropriação indevida.

Também surge o debate sobre o valor da arte criada por humanos versus máquinas. Para criadores como Miyazaki, a arte não é apenas uma questão de estética, mas de expressão de experiências e emoções humanas genuínas – algo que ele considera impossível de ser replicado por algoritmos.

A postura de Hayao Miyazaki sobre inteligência artificial revela uma perspectiva profunda sobre o significado da criação artística. Para o mestre da animação japonesa, a arte está intrinsecamente ligada à experiência humana, ao trabalho manual e à compreensão do sofrimento e da alegria – elementos que ele considera impossíveis de serem reproduzidos por algoritmos.

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