Abin teria hackeado o governo do Paraguai para obter vantagem em negociações sobre Itaipu; entenda
Abin teria hackeado o governo do Paraguai para obter vantagem em negociações sobre Itaipu; entenda
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) teria realizado um ataque hacker contra órgãos oficiais do governo paraguaio. O objetivo? Coletar informações confidenciais para fortalecer a posição do Brasil nas negociações sobre as tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu.
Esses dados surgiram a partir do depoimento de dois agentes da Abin à Polícia Federal, conforme revelou o UOL. A operação começou ainda durante o governo Bolsonaro, mas foi concluída em maio de 2024, já sob a gestão Lula — com aval de diferentes diretores da agência.
Cobalt Strike e alvos estratégicos
Segundo um servidor de carreira da Abin, com mais de 20 anos de experiência, a agência utilizou o software Cobalt Strike, ferramenta conhecida por simular ataques cibernéticos, para invadir computadores ligados ao governo paraguaio.
O foco da operação era obter dados sobre os valores de negociação do chamado Anexo C — que trata da venda de energia gerada por Itaipu. Entre os alvos estariam membros do Congresso, Senado, Câmara dos Deputados e até da Presidência do Paraguai. Nomes não foram revelados, mas o agente afirma que as vítimas tinham ligação direta com as tarifas e valores por megawatt negociados com o Brasil.
Foram capturadas informações de cinco ou seis pessoas, incluindo senhas e dados de acesso que poderiam beneficiar o Brasil nas tratativas bilaterais.
Ataques partiram de fora do Brasil
A ofensiva não teria sido coordenada a partir do território nacional. Para esconder a origem, agentes da Abin viajaram a países como Chile e Panamá, onde montaram servidores virtuais que deram suporte aos ataques.
A estratégia teria sido colocada em prática com conhecimento e aprovação de altos escalões da agência. O então diretor Victor Carneiro deu o aval inicial, e o sucessor Luiz Fernando Corrêa, nomeado por Lula, também teria apoiado o plano.
“Vibração” no alto escalão

De acordo com o servidor que relatou o caso à PF, o atual diretor Luiz Fernando Corrêa recebeu pessoalmente um relatório da operação. Segundo ele, Corrêa teria “vibrado” ao saber do sucesso da missão, dizendo que era a primeira vez que se sentia em uma verdadeira ação de inteligência.
Corrêa é delegado aposentado da Polícia Federal e foi indicado por Lula para assumir a Abin em 2023, após a agência ser transferida do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) para a Casa Civil.
O novo acordo com o Paraguai
O ataque hacker teria acontecido pouco antes da assinatura de um novo acordo entre Brasil e Paraguai sobre as tarifas de Itaipu, em maio de 2024. Essa foi a primeira negociação do tipo desde 1973.
A energia produzida pela usina é dividida meio a meio entre os dois países. Como o Paraguai não consome toda a sua parte, vende boa parte dela de volta ao Brasil. As novas tarifas devem ficar entre US$ 10 e US$ 12 por megawatt-hora a partir de 2027.
O acordo foi fechado em Assunção, com a presença do presidente paraguaio Santiago Peña e do ministro brasileiro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Investigação começou por outro motivo
Curiosamente, a investigação da PF sobre o caso não começou por causa do ataque hacker ao Paraguai. O foco inicial era apurar suspeitas de uso indevido da Abin por parte de Alexandre Ramagem, ex-diretor da agência e aliado de Bolsonaro.
No meio das apurações, surgiram indícios de que a nova gestão também estaria envolvida em práticas questionáveis — incluindo a operação de espionagem contra o país vizinho.
Nos bastidores, o clima é de disputa política. Corrêa foi uma escolha direta de Lula, mas seu nome teria sido rejeitado pelo diretor atual da PF, Andrei Rodrigues, que preferia alguém de sua confiança. Agora, a ofensiva da PF contra a Abin também é vista como uma briga por espaço dentro do governo.
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