Chips da NVIDIA são contrabandeados para a China mesmo após bloqueio de Trump

Chips da NVIDIA são contrabandeados para a China mesmo após bloqueio de Trump

Em meio a embargos cada vez mais severos dos Estados Unidos, pelo menos US$ 1 bilhão em chips de inteligência artificial da NVIDIA chegaram clandestinamente à China nos últimos meses, escancarando os limites das sanções americanas. Segundo o Financial Times, uma rede de distribuidores chineses contornou as restrições exportando processadores de ponta, como o B200, para alimentar a corrida tecnológica de Pequim.

O chip que virou ouro no mercado cinza chinês

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O B200, um dos processadores mais avançados da NVIDIA, tornou-se objeto de desejo em data centers chineses — mesmo com sua venda oficialmente proibida no país. O chip é usado por gigantes como OpenAI, Google e Meta para treinar modelos de IA de última geração. Desde que as restrições da era Trump foram reforçadas, o mercado negro desses chips explodiu.

De acordo com documentos e contratos obtidos pelo Financial Times, empresas chinesas começaram a vender o B200 em larga escala a partir de maio, mesmo após o bloqueio de outro modelo da NVIDIA — o H20 — desenvolvido para obedecer às regras de exportação da era Biden.

Embora a compra e revenda interna desses chips na China seja legal se as tarifas alfandegárias forem pagas, o envio dos produtos a partir dos EUA configura violação direta das normas de exportação americanas.

Como o contrabando acontece

O esquema descrito pelo FT envolve uma cadeia bem articulada de empresas e intermediários. Um dos nomes citados é o da empresa “Gate of the Era”, fundada em fevereiro deste ano e apontada como uma das maiores vendedoras dos chips B200.

Ela vende racks prontos para uso em data centers, cada um contendo oito B200s, software embarcado e componentes adicionais. Os racks pesam cerca de 150 kg e custam, em média, entre ¥3 milhões e ¥3,5 milhões (cerca de US$ 489 mil), com um sobrepreço de 50% em relação ao valor médio praticado nos EUA.

A empresa teria recebido ao menos dois grandes lotes de racks desde maio, com centenas de unidades cada. Estima-se que o grupo movimentou US$ 400 milhões em vendas diretas ou por meio de revendedores locais.

Os rostos por trás da operação

Segundo registros empresariais, a “Gate of the Era” é controlada pela China Century (Huajiyuan, em chinês), uma companhia com sede em Xangai que afirma trabalhar com cidades inteligentes. O site oficial lista nomes de peso como AliCloud, ByteDance (Huoshan Cloud) e Baidu Cloud como “parceiros de confiança”.

Após contato do Financial Times, porém, a Huoshan Cloud pediu a remoção de sua marca do site, afirmando que o uso era indevido. O Baidu também negou qualquer ligação com a empresa. Já a China Century declarou não ter comprado chips da NVIDIA nem atuar nesse setor.

O FT ainda visitou os endereços registrados da “Gate of the Era”, incluindo um parque industrial especializado em criptografia. Em ambos os locais, não encontrou representantes da empresa, que sequer teria ocupado fisicamente a sede declarada.

De onde vêm os chips?

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Parte dos racks vendidos parecem ter origem na Supermicro, uma montadora norte-americana que fornece soluções de hardware para data centers. Imagens das embalagens e especificações analisadas pelo FT sugerem que os produtos foram desviados sem conhecimento da fabricante, que afirma cumprir integralmente as normas de exportação dos EUA.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, as sanções não impedirão que chips de alto desempenho continuem chegando à China. “O que elas criam é um mercado ineficiente e altamente lucrativo para intermediários que aceitam correr riscos”, disse um operador de data center chinês.

Uma brecha que resiste

A NVIDIA, por sua vez, segue negando envolvimento ou conhecimento sobre o desvio de chips. “Não há evidências de desvio de nossos processadores de IA”, afirmou a empresa, que também alertou: montar data centers com produtos de contrabando é inviável do ponto de vista técnico e econômico, já que não há suporte autorizado.

Ainda assim, a movimentação de US$ 1 bilhão em poucos meses mostra que, mesmo com controles apertados, a engrenagem da inteligência artificial chinesa continua girando — agora, alimentada por caminhos paralelos e margens cada vez mais altas para quem topa desafiar as sanções.

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