O dia em que Ozzy Osbourne virou personagem em Guitar Hero

Não é exagero afirmar que a franquia Guitar Hero foi responsável por conectar toda uma geração a uma seleção gigantesca de clássicos do Rock. Além das músicas, uma das estratégias adotadas pela Actvision era transportar ícones do mundo da música para o jogo, uma dessas personalidades icônicas foi Ozzy Osbourne.

Em meados de 2008, foi confirmado que o lendário vocalista seria um dos astros jogáveis em Guitar Hero World Tour (GHWT). A ideia era colocá-lo como personagem desbloqueável. Além da sua representação digitalizada, duas faixa de sua carreira solo, do album Blizzard of Ozz, de 1980, estariam presentes: “Crazy Train” e “Mr. Crowley”.

Outro nome importante, ligado diretamente a Ozzy, que também estava no game como personagem jogável era o guitarrista Zakk Wylde, que tocou por mais de 20 anos com Ozzy, e fundou a excelente banda Black Label Society.

Jogando com o “Príncipe das Trevas

Assim como em Guitar Hero 3: Legends of Rock, a Activision apostou em alguns nomes conhecidos para dar peso ao jogo. Se no GH3 tínhamos Slash e Tom Morello como personagens desbloqueáveis, em GHWT nomes como Ozzy Osbourne, Zack, Jimi Hendrix, Billy Corgan (Smashing Pumpkins), Hayley Williams (Paramore), Sting, Ted Nugent e Travis Barker (blink-182) deram as caras.

Ozzy recebeu o destaque que lhe era devido, e aparece de forma visualmente impactante durante o modo carreira. Ao avançar no game, o jogador se depara com a figura marcante do fundador do Black Sabbat e é desafiado a tocar “Mr. Crowley” e “Crazy Train” como encore, em um palco especial, estilizado. Uma arena baseada no evento Ozzfest, festival de rock/metal criado por Ozzy e sua esposa, Sharon Osbourn.

 Ozzy surgia da parte inferior do palco, com vários morcegos em volta o rodeando.

A escolha da faixa Mr. Crowley para abrir o set foi certeira para criar toda uma atmosfera enigmática ao jogador que poderia estar tomando um primeiro contato com a figura de Ozzy. A música tem toda uma introdução instrumental, até que a voz de Ozzy apareça. E, quando aparece, é impossível ficar indiferente aquele timbre único.

No encore, com a imortal Crazy Train, a questão performática ganha ainda mais peso. Os tentáculos dourados do cenários começam a se mover loucamente sobre o palco.  Outro ponto interessante é a forma de reprodução das faixas presentes no jogo. GHWT foi o primeiro da série com 100% das músicas em gravação original. 

Como Ozzy foi transportado para o jogo?

Por trás da aparição de Ozzy em GHWT houve um cuidadoso trabalho de captura de movimentos e modelagem 3D. O próprio Ozzy Osbourne participou das sessões de motion capture, vestindo o tradicional traje preto com marcadores (“bolinhas tipo pingue-pongue”, como ele descreveu) para que seus movimentos de palco fossem gravados.

“Tive que dançar como se estivesse no palco enquanto tocava uma das minhas músicas. (…) Não sei exatamente como funciona, mas vi uma prévia e é muito interessante. A imagem de mim – gostaria de ter a energia que ela tem!”, declarou Ozzy na época. 

Ozzy não era muito familiarizado com jogos, como ele mesmo afirmou “sou da velha guarda”. Na época, ele disse que nem tinha computador. “Acabei de ganhar um iPod… não sei baixar nada. (…) Mas me disseram que tenho um grande público jovem”. 

Outro momento hilário aconteceu durante uma entrevista de Ozzy para a ABC News. O vocalista foi perguntado o que ele achava de estar no jogo. Ozzy respondeu: “Eu não faço ideia do que é isso, cara. Me disseram que é tipo… você finge que toca guitarra? E isso é divertido?”

Ele até chegou a tentar jogar, mas não se deu muito bem:

“Eu tentei jogar uma vez, e perdi na primeira música. Era uma das minhas, aliás.”

O microfone que mudou tudo!

Ozzy Forever! pic.twitter.com/aJKVOCnJiI

— BlackSabbath (@BlackSabbath) July 22, 2025

No início deste mês, mais precisamente no dia 5 de julho, o mundo presenciou um evento que será lembrado para sempre. O show Back to the Begining reuniu no estádio Vila Park, em Birmingham, Inglaterra, uma seleção de nomes de peso do Rock. Do Metallica a Guns N’ Roses, passando por Slayer, Pantera, entre muitos outros.

Uma grande homenagem a vida e carreira de Ozzy Osbourne, que também se apresentou. Sentado em um trono, o cantor fez seu último show da vida cantando um set 5 músicas de sua carreira solo e encerrou a noite com outras 4 do Black Sabbath, com direito a formação original do grupo.

Somente esses elementos já tornariam o dia icônico, mas alguns extras chancelaram!

O primeiro deles foi o ponto do concerto ter sido beneficente. Cerca de US$ 190 milhões foram arrecadados para três instituições de caridade, uma delas é a Cure Parkinson’s entidade inglesa que financia pesquisas com objetivo de curar, interromper ou reduzir a evolução do Parkinson; condição que Ozzy era acometido.

O segundo aspecto é que esse show foi literalmente a última grande aparição pública do cantor. Ozzy faleceu ontem (22), aos 76 anos de idade. Aliás, quem faleceu foi John Michael – esse era seu nome de batismo, a figura de Ozzy Osbourne é eterna.

E nada do que aconteceu em sua vida artística, todo o impacto na música e no show business, seria possível sem um fato ligado ao seu pai.

Numa entrevista à SirisXM, Ozzy disse que perguntaram para ele uma vez qual foi o melhor presente que recebeu.

“Não pensei na hora em anéis de diamante, carros e essa porra toda. Ai a ficha caiu: se meu pai não tivesse se endividado para me comprar um microfone e uma placa de som, eu não estaria aqui agora. (….) Fiquei muito puto por nunca ter lhe agradecido. E ele morreu, até hoje me bato por não agradecer ao meu pai”.

Além de responsável por músicas icônicas, Ozzy foi uma daquelas figuras cada vez mais raras no mundo artístico. Alguém que de maneira nenhuma tentou se vender como moralmente perfeito. Pelo contrário: abraçou sua natureza caótica e provocadora, tornando-se um ícone justamente por ser avesso a qualquer padrão.

Ele era a personificação de alguém tresloucado, avesso a limites e com uma personalidade singular. Dotado de uma capacidade de chocar e de cativar pessoas. E talvez essa autenticidade ajude a explica seu impacto tão duradouro.